16.2.05

UM LIVRO

E.M.Cioran costumava dizer que só se domina verdadeiramente um livro depois de o ter lido umas seis vezes. Razão pela qual ele preferia "reler" a "ler". Vem isto a propósito de um autor, já aqui mencionado, que é seguramente um dos mais estimulantes e "cépticos" historiadores do nosso tempo. Refiro-me a A.J.P Taylor. Quem esteja interessado em percorrer o período, aliás fascinante, da história da Europa a partir da segunda metade do século XX, passando pelas duas guerras subsequentes e pelas biografias dos líderes que marcaram esses períodos, terá forçosamente de recorrer ao punho escorreito e tantas vezes cínico de A.J.P Taylor. O seu livro acerca das "origens da 2ª Guerra Mundial" continua, por exemplo, a ser incontornável. Sem o objectivo de ser lido de fio a pavio, recomendo a colectânea de ensaios, editada uns anos após o seu desaparecimento em 1990, sob o título From the Boer War to The Cold War - Essays on Twentieth-Century Europe (Penguin Books). Aqui se encontram recensões de livros e pequenos textos autónomos que, nalguns casos, dão origem a pequenas e curiosas biografias dos visados nos livros que Taylor analisa. A par dos políticos ingleses, encontramos peças muito interessantes sobre Mussolini, Trotsky ou Hitler. São escritos que abrangem praticamente toda a vida activa deste eminente professor de história e que nos dão um retrato simultaneamente realista, irónico e "humano" de criaturas que marcaram, por boas e más razões, um tempo desaparecido e, muitas das vezes, perdido. It is difficult not to be sorry for Mussolini, a pretentious scoundrel, caught up by reality. The truly contemptible figures were those of high culture and morality who were taken in by him, in Italy and elsewhere. I prefer Mussolini, commending his speeches as having resolved all the problems of modern society: "there is nothing left to discover, no question left unanswered".

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