24.2.05

RASGO

José Sócrates tem agora formalmente a incumbência de formar um governo. O resultado que obteve liberta-o dos constrangimentos paroquiais e da "angústia da influência". Sócrates tem, pois, o dever indeclinável e indesculpável de formar um bom governo. Deverá recolher no seu partido as pessoas com passado, presente e futuro que intuam politicamente o que vai estar verdadeiramente em causa nos próximos tempos. Pessoas que se adaptem e promovam um registo de não-facilidade e de realismo. Homens e mulheres sérios que dediquem o melhor do seu esforço à causa pública, sem estarem constantemente a pensar no ganho caciqueiro imediato. Também deve recolher o contributo de não-socialistas empenhados em fazer as coisas de modo diferente, disponíveis - e não meros oportunistas de circunstância - para ajudar a fazer sair o país da decepção, do atoleiro e da mediocridade em que a coligação do "tempo novo" nos enfiou. Sócrates inicia hoje uma "vida nova" com a noção certa de que "já não temos mais começos". O "tempo longo" de que Sócrates dispôe exige soluções maduras, responsáveis e "anti-depressivas". No fundo, aquilo a que Mário Soares chama um "governo de salvação nacional". Só lhe posso desejar rasgo, já que o rasgo que Sócrates mostrar nestes primeiros dias é a nossa "sorte" para os próximos tempos.

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