Já consigo passar um fim de semana mais descansado ao saber que um membro do governo, o sr. Braga das Comunidades, gosta e confia no governo Chávez da Venezuela. Em Moscovo, aliás, o primeiro-ministro tinha firmado esta singular "doutrina" sobre direitos humanos quando, babado para cima do ex-KGB Putin, o sossegou com aquela tirada das "lições". Manifestamente aos nossos governantes é-lhes indiferente o que os seus interlocutores de circunstância pensam e praticam em relação ao "Outro". Os tiranetes sempre apreciaram os verdadeiros tiranos mesmo quando fingem que os combatem. Um país periférico e irrelevante como o nosso podia ao menos manter-se direito quando fala lá fora. Foi sempre essa a lição da história da nossa diplomacia (mesmo a de Salazar e a de Franco Nogueira) a qual garantiu a independência - política e ética -, só beliscada quando as fronteiras marítima e terrestre foram tomadas pela Espanha. Pouco antes de desaparecer, Fernando Gil escrevia que "a esquerda portuguesa, como a de quase toda a Europa, radicaliza-se. No plano internacional, pode tender para posições extremas e, no plano interno, parte dela pode sucumbir a tentações anti-democráticas." Agora, que se perderam as noções de tempo e de espaço, aos pequenos países resta, precisamente, uma ética que os defenda das tentações anti-democráticas das esquerdas deslumbradas. Nem sequer sei, nem me interessa saber, se o sr. Braga e, no limite, Sócrates são de esquerda. Só me interessa, enquanto português, saber se possuem uma ética. E disso duvido.
3 comentários:
Aos poucos vão deixando cair a máscara, só que desta vez não foi uma gafe, foi só sinceridade.
Mas onde é que está a surpresa pelo triunfo das doutrinas de Putin ou de Chávez junto da gente que manda actualmente em Portugal e não só? E olhe que ainda não se lembraram do Evo Morales, o camarada «cocalero» que chegou a presidente da Bolívia a gritar slogans como «Viva a coca, abaixo os Yankees!» (Le Monde, 4 de Janeiro de 2006.) Não deixo de ficar surpreendido por tão lamentável esquecimento, pois todos eles têm aquilo de que os seus amigos portugueses e, ao cabo e ao resto, Ocidentais mais precisam para se manterem no poder: o russo ensina-lhes a arte de bem eliminar adversários sem que alguma vez venha a descobrir-se, o venezuelano fornece-lhes o petróleo a pataco a troco de creditação internacional e o boliviano enche-lhes as bandejas de pó branco para que agudizem a concentração nas tarefas anteriores. Elementar, caro Watson!
Talvez não seja despropositado lembrar que na Venezuela vivem mais de 400 mil portugueses.
Enviar um comentário