O paki Rushdie - devidamente adoptado pelo ocidente como um "emblema" depois da fúria iraniana por causa dos "Versículos" - vai ser armado cavaleiro inglês. Não gosto particularmente do escritor e não me incomoda nada o homem. Repugna-me a perseguição de quem quer que seja por delito de opinião, sobretudo quando o alegado delito se manifesta sob a forma de livro ou de uma outra qualquer forma de arte. Mesmo que essa forma seja, perdoe-se-me a expressão, uma merda. Quase toda a literatura portuguesa contemporânea, aliás, é a prova viva do que digo e, nem por isso, deve ser proibida. Não será o caso de Rushdie - da obra de Rushdie - que, repito, nunca me emocionou. À conta deste gesto simbólico, já começou o habitual folclore primitivo de algum islão. Seguir-se-á a indignação dos guardiões do "ocidente límpido" e assim sucessivamente, em alternativa, uma vez uns, outra vez outros. Salman Rushdie vale uma espada? Talvez. Seguramente a sua valerá bem mais do que as que vão andar por aí desembaínhadas nos jornais, nas ruas e nos blogues. Os profissionais da indignação, de uma e de outra banda, começaram a babar-se. Aprende-se muito com os fundamentalistas.
5 comentários:
Nós por cá (todos bem!) também temos os nossos Ayatolas, ou melhor "Ai! os tachos" que perseguem e decretam processos disciplinares a torto e direito, p.exp. a "Ai a tola" (tôla?) Margarida.
E, também por cá se armam cavaleiros a torto e a direito, não se percebendo até poque é que alguns o são e outros, bem melhores, não.
R.A.I.
"Repugna-me a perseguição de quem quer que seja por delito de opinião..."
E diz-se você salazarista?
A mim também me repugna mas não me considero salazarista...
Agradecia um esclarecimento.
Cumprimentos,
O “CONSENSO TÉCNICO”: requisito prévio imprescindível nas decisões mais importantes?
Afirma o ilustre Eng.º Luís Leite Pinto, apenas mais um de entre os muitos Engenheiros portugueses que, recentemente, se tornaram fervorosos militantes “anti-OTA”, que para ele “nada há de mais patético do que um ignorante a falar de Engenharia!”.
Independentemente de se poder considerar pouco rigorosa (e facilmente rebatível), esta peremptória afirmação, digna aliás de um bom jornalista, pode-se contudo suavizá-la, por generalização, transformando-a em algo de mais comedido e consensual, tal como: “é muito lamentável e, por vezes até, patético ouvir um leigo argumentar furiosamente sobre algo de que nada percebe!”.
O meu Pai, na sua vigorosa e incontida expressividade alentejana, glosava por sua vez este tema usando uma outra frase, de sabor popular (e recorte literário bem mais interessante): “percebe tanto do que está a falar como eu percebo de lagares de azeite!” (o que até nem se pode considerar lá muito ofensivo, atendendo à proximidade que qualquer alentejano da sua geração acabava por ter com a aludida instalação fabril…)!
Vem tudo isto a respeito de um original conceito muito invocado, no momento presente, a propósito do Aeroporto da Ota (há quem prefira a designação, bem mais tecnocrática e iliterata, de “projecto OTA”, assim com três maiúsculas, como se de uma sigla se tratasse): o tão propalado “consenso técnico”! Que se afigura à primeira vista tanto mais importante quanto, neste momento, parece já irrealista vir a formar-se, algum dia, o desejável (e aparentemente fácil) consenso político a respeito deste assunto…
“Consenso técnico” seria então uma condição prévia a exigir para a implementação do novo Aeroporto de Lisboa, como porém não o foi para nenhuma outra obra portuguesa, pelo menos de magnitude comparável, até ao presente. Talvez porque nenhuma delas tenha tido tanta importância e projecção? No mínimo, discutível...
“Consenso técnico” é algo, aliás, que em Portugal nunca existiu sobre coisa nenhuma (nem em lugar algum do Mundo, que se saiba, talvez até porque seja uma exigência inatendível…)!
Não existiu para o “Complexo de Sines”, não se verificou para a Barragem de Alqueva (nem para a de Foz Côa…), nunca chegou a haver para a localização da Ponte Vasco da Gama, nem houve para o traçado das principais Auto-estradas, nem para a beneficiação da Linha do Norte, não existe ainda para a definição do prolongamento da rede do Metro lisboeta, a construção ou não de centrais nucleares, etc. etc., etc. (e por aí adiante)!…
“Consenso técnico”, todavia, será talvez uma condição obrigatória, a partir de agora, para todos os grandes investimentos nacionais, presumivelmente não só no campo da Engenharia!
Até porque esta nova exigência de “consenso técnico” não foi ideia de nenhum lunático, de nenhum tele-espectador (ou participante do “Fórum TSF”), de nenhum jornalista, de nenhum técnico, de nenhum líder político ou tribuno parlamentar, de nenhum Ministro. Esta genial descoberta do “consenso técnico” é obra de Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa!
E é, de facto, uma criação política e intelectual maravilhosa! O “consenso técnico”, pelo menos nas questões mais relevantes, é mesmo uma coisa de que nenhum técnico jamais se lembraria!
Vejamos alguns bons exemplos: foi preciso construir o Centro Cultural de Belém, a Casa da Música, reconstruir o Chiado? Pois deveríamos ter aguardado por um “consenso técnico” entre os Arquitectos!
É preciso construir uma terceira travessia rodoviária sobre o Tejo, em Lisboa, entre Algés e a Trafaria? Apenas quando (e se) se verificar um “consenso técnico” entre os Engenheiros Civis (os de Estruturas, pelo menos)!
É necessário definir o traçado da Linha de Alta Velocidade junto a Lisboa e a localização da respectiva Ponte sobre o Tejo? Vamos aguardar, claro, pelo “consenso técnico” entre os Engenheiros de Transportes!
É urgente reduzir o “défice” das contas públicas? Pois exijam-se medidas que assegurem um “consenso técnico” entre os Economistas!
É preciso modificar o Código de Processo Penal, ou outro equivalente? Vamos esperar pelo “consenso técnico” entre todos os Juristas!
É imprescindível julgar os acusados dos processos Casa Pia, Apito Dourado, etc.? Vamos ter de aguardar primeiro por um “consenso técnico” entre todos os Juízes (inclusivé, preferentemente, os do Tribunal Constitucional…)!
É preciso decidir entre uma intervenção cirúrgica delicada, ou outro tipo de terapia, relativamente a qualquer um de nós ou familiar próximo, em caso de doença fatal (lamento, mas coisa mais importante não há, por mais que isso doa ao País): nada faremos enquanto não estiver assegurado o indispensável “consenso técnico” entre todos os Médicos!
Então e se tudo isto é tão razoável, como não exigir também um “consenso técnico” relativamente à construção do novo Aeroporto de Lisboa?
Vamos contudo esperar que este novo requisito do “consenso técnico” não se limite às grandes decisões nacionais, antes se estenda às médias, às pequenas e, porque não, a todas as deliberações da nossa Administração Pública, desde a aprovação de uma moradia (ou de uma simples “marquise”?!), até à avaliação dos alunos do 1º ano do Ensino Básico, passando pela estratégia de combate aos fogos florestais (ele há-de ser necessário o “consenso técnico” em todas as áreas de saber, do saber fazer, etc.)!
Para ficarmos plenamente convencidos de que as decisões, pelo menos as que dizem respeito aos nossos dinheiros comuns, são absolutamente inquestionáveis, não poderemos jamais dar-nos ao luxo de dispensar as virtudes desta sagaz invenção que foi o “consenso técnico”!
A qual possui, para além do mais, uma outra grande vantagem, ainda não adequadamente explicitada (talvez porque menos acessível aos espíritos mais alvoroçados…): passando a haver a necessidade de “consenso técnico” em tudo quanto for decisão pública (e quiçá privada, desde a SONAE ao Condomínio onde moro, passando pelo ACP e pela «Fundação Berardo»?…), deixará de ser necessária a verificação do cumprimento e mesmo a própria existência de Normas e Regulamentos Técnicos, que aliás tanto embaraçam os nossos decisores, muitos dos nossos investidores e os Cidadãos em geral!
Já alguém quantificou o tempo que será poupado ao País sem estas exigências mesquinhas?
Mas, afinal, em que Mundo teremos nós vivido até hoje? Como foi possível à Humanidade ter evoluído tanto sem esta descoberta de valor incalculável e que tanto promete ao nosso Futuro colectivo como é a do “consenso técnico”?...
«(...) E diz-se você salazarista?
A mim também me repugna mas não me considero salazarista...(...)».
Pois faz V. Exª muito mal, muiiiito mal.
Sem um "termo de comparação" como é que V. Exª sabe que esta coisa que por aí vai é uma democracia ? Hum ?
Explique lá s.f.f. ...
Nunca li um único escrito de Rushdie. Não posso, por tal motivo, ter opinião sobre a sua qualidade de escritor. Sei apenas que foi condenado à morte por uma seita que se abriga sob um telhado de vidro de péssima qualidade, por ter sido concebido com base em inexactidões e em afimações absurdas e interesseiras.
Os versículos são satânicos? Não posso afirmar. O que posso é apontar as incongruências que apresentam e a fragilidade e inaceitabilidade do que em muitos deles é dito.
Quem quiser dar-se ao trabalho de analisar tal telhado e reflectir com atenção no que nos dizem os estudiosos acerca do aparecimento dos seres humanos à superfície do nosso planeta, não dirá que os versículos são satânicos mas que muitos deles não correspondem à verdade do que se quis fazer passar.
Moisés compôs uma fábula sobre o aparecimento do homem na Terra. Mas, como sempre, quando falamos do que desconhecemos, estendeu-se.
Não esquecer que os primeiros homens que se preocuparam com aquilo que viam no firmamento, criaram a ideia de o planeta Terra estar fixo no Universo e de todos os restantes corpos celestes girarem à sua volta. Era o que lhes dava a entender o facto de o Sol e a Lua, os mais visíveis, aparecerem todos os dias do mesmo lado e desaparecerem sempre de outro.
E tal ideia acabou por ser posta de lado por falta de consistência.
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