Não vale a pena perder muito tempo com ela, mas faz hoje trinta anos a Constituição da República Portuguesa. Foi aprovada pela Assembleia Constituinte de 1975, com os votos contra do CDS do doutor Freitas do Amaral que já na altura hesitava entre os velhos e os novos tempos, dando corpo ao famoso "centrismo" que o levaria tão longe quanto a membro destacado de um governo homogéneo dito socialista. Em apenas uns escassos meses sobre a dobra da "revolução" provocada pelo 25 de Novembro de Ramalho Eanes, a CRP de 76 representou o compromisso possível entre as duas legitimidades em presença, a revolucionária - que persistiu através do Conselho da Revolução, das "conquistas" consagradas no novo texto e do absurdo "caminho para o socialismo" -, e a democrática, onde a sobreposição dos direitos, liberdades e garantias e de um sistema político-institucional de tipo ocidental sobre o resto, acabou por fazer escola. Até Marcello Caetano, do seu exílio tropical, elogiou o texto do prisma formal, reconhecendo nele o dedo de muitos dos seus epígonos académicos. As sucessivas revisões a que foi sujeita corresponderam aos impulsos político-partidários do momento e às prioridades impostas. Quando vemos, por exemplo, o PC e Jerónimo de Sousa tão agarradinhos a ela, é caso para desconfiarmos. Seja como for, a CRP de 76 é um "marco" de tempos difíceis e de transição. Não tem impedido nada de fundamental e poupou-nos, a seu tempo, ao vexame internacional. Não é por culpa dela que somos o que somos e que estamos como estamos. Neste momento, a CRP continua gigantesca e inutilmente barroca, como compete a um texto formatado pelas maravilhosas cabeças das nossas faculdades de Direito, salpicado aqui e ali com os jargões habituais da pura retórica política. Bastar-lhe-ia porventura um terço do articulado para cumprir eficientemente o seu propósito, sem derrames "progressistas" desnecessários.
2 comentários:
Sei que é uma constituição enorme, por vezes desastrada, ideológica, etc., etc. Fica bem dizer mal da senhora. Mas é a nossa constituição e quase ninguém a lê nem conhece. Se aspiramos a melhorá-la, talvez fosse bom começarmos por, neutralmente, conhecê-la.
Obrigado por ESTA sua resposta ao meu comentário anónimo no poema do Yeats.
O fanático do fulano que me criticou lá, mas que sabe ele de Yeats? Coitado do presunçoso que nem Byron leu!
Mas que mestre de exéquias o "gajinho" me saiu!
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