Com infinita credulidade, o governo supôe que, por baixar a taxa de alcoolemia permitida para a condução, os acidentes de viação diminuem instantaneamente. Não diminuem. E por duas ou três razões triviais. A primeira, e a mais óbvia, tem a ver com a educação dos condutores. Em Portugal conduz-se perigosamente mal, seja na cidade, seja na auto-estrada. O condutor, por definição, não conhece a figura simbólica do "outro". E a condução transforma-se num acto egoísta no qual muito boa gente descarrega as suas frustrações. Depois há o piso de algumas estradas e o próprio desenho de alguns troços. Aí, junta-se a fome com a vontade de comer e a tentação do rali sobreleva o modesto propósito de chegar a algum lado. Finalmente temos a "vertigem do risco" de muito condutor mais jovem e inconsciente, para sermos delicados. Toda a retórica da segurança e da prevenção do mundo não chega para parar o flagelo assassino que atola as nossas estradas. Muito menos a ideia de o associar fortemente à ideia de bebida. A idiossincrasia do condutor português não muda. Sempre assim foi. Sempre assim será.
Adenda: Ler, a propósito, "Tá tudo grosso", de José António Barreiros: "o Governo quer que os produtores de bebidas paguem a campanha contra o excesso de consumo de álcool! E por isso ameaça-os: ou pagam ou arruino-vos o negócio, prendendo-vos os clientes!"
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