2.4.06

FAZER AS CONTAS

Segundo uma peça do Expresso de ontem sobre o Teatro Nacional D. Maria II, em 2005, cada espectador teria custado ao erário público cerca de 123 euros, ou seja, qualquer coisa como quase 25 contos em moeda "antiga". Num comentário anónimo deixado num post anterior, perguntava-se "quanto custa ao Estado um espectador com vistas mais as sanefas do S. Carlos". Lembrei-me instantaneamente de um escrito de 1998, de Maria Filomena Mónica, publicado no livro "Cenas da Vida Portuguesa" (Quetzal). Segundo um estudo de um professor do ISEG, consultado pela autora, bem como conjugando-o com outro artigo da altura, podia afirmar-se que, nos finais dos anos noventa, o custo médio real de um bilhete no S. Carlos rondava os 475 euros, isto é, quase cem contos. Entretanto passaram alguns anos e apuraram-se, num certo sentido, as produções e os critérios de escolha do repertório. Se fossemos fazer as contas aos desempenhos financeiros reais dos primeiros anos do século (custos de produção e de funcionamento/nº de bilhetes vendidos + nº de bilhetes oferecidos), talvez não fosse surpreendente o resultado, a ultrapassar muito provavelmente a barreira dos 550/600 ou mais euros per capita. Todavia eu sei, por experiência própria, que não são comparáveis os custos de uma produção teatral, ou de um bailado, com os de uma ópera. Porém, de acordo com o que se sabe, um dos critérios que terão levado ao afastamento de António Lagarto do D. Maria, foi justamente o alegado excessivo défice na ratio custo/benefício do exercício. Se fossemos por aí, como pelos vistos o governo foi em relação a Lagarto, provavelmente todos os directores dos teatros nacionais e equiparados deveriam ser demitidos, à excepção porventura de Ricardo Pais, uma eminência que se tornou numa espécie de director vitalício do regime. Com o PRACE, os teatros nacionais aparentemente recuperam a autonomia financeira e passam a ter o estatuto de entidades empresariais estatais, tipo "empresa pública", como o São Carlos já o foi no passado. Espero que isso não se traduza apenas em alterar as remunerações dos seus dirigentes, o que equivaleria a aumentar muito mais o já insustentável custo real de cada bilhetinho. Enfim, mude-se o que se mudar, o contribuinte que não vai à ópera , que não vê teatro e que não gosta de bailado - e, pior do que isso, que não é educado para tais gostos -, já sabe o que o espera. É só fazer as contas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por ESTA sua resposta ao meu comentário anónimo no poema do Yeats.
O fanático do fulano que me criticou lá, mas que sabe ele de Yeats? Coitado do presunçoso que nem Byron leu!
Mas que mestre de exéquias o "gajinho" me saiu!

Anónimo disse...

Logo vi que o anónimo das 11:31 era o "gajo que ñ gosta de aspas"