21.4.06

EXEMPLARES

No momento em que escrevo, está a decorrer o período dentro do qual os deputados que faltaram à sessão de 12 de Abril último têm de apresentar as suas justificações. Nunca é de mais lembrar que, pelo meio da coisa, alguns desses deputados tinham previamente assinado o “livro de presenças” e que, depois, desapareceram no ar. Um deles foi essa singular figura "ética" e modelo de cidadania varonil que é Manuel Alegre. Lembro que existe na AR uma maioria absoluta de um partido que não pôde funcionar porque parte dos seus deputados se havia sumido. Do seu líder de bancada, o improvável Alberto Martins, não se ouviu um murmúrio. Do lado do PSD, o maior partido da oposição, dois terços dos seus representantes pura e simplesmente desapareceram. O chefe parlamentar passou a responsabilidade do ocorrido para os maioritários ao lado que tinham, segundo ele, a obrigação de garantir o quórum para as votações. Os dos restantes mini-partidos pesam pouco nesta pequena história de opereta, embora tivessem aparecido, do lado do PP, várias versões relativas ao ocaso súbito de deputados seus. Não houve cão nem gato que, muito legitimamente, deixasse de apontar o dedo à representação nacional. O regime, meio envergonhado, soltou as rédeas da moralidade política para fustigar, com moderação, os seus pares. Consta que na próxima terça-feira o Presidente da República também irá dar voz à sua preocupação pelos maus costumes democráticos. Como diria o dr. Salazar, está tudo muito bem assim e não podia ser de outra maneira. De facto, é suposto os deputados representarem o país que os elegeu, mesmo sem saber muito bem em quem é que está, em concreto, a votar. Isso tem como consequência imediata a irrelevância da maior parte dos ditos deputados, uma consequência, aliás, que eles levam muito a peito. A “casa da democracia”, como gostam de a apelidar, tem, afinal, telhados de vidro. Todavia não é nada que nos deva espantar. Em certo sentido, os nossos deputados até são exemplares. Eles são o que nós somos e nós somos o que eles são.

(publicado no Independente)

4 comentários:

Anónimo disse...

A chamada redacção do 4.º ano de escolaridade, este poste.....

Anónimo disse...

se não nasceces tinhas ke ser inventado ;)

Anónimo disse...

A transcrever para um blog da oposição um texto que sobrenomeei: "a crise"
descobri onde estavam os deputados faltosos... estavam nos jardins da assembleia da república!

"Deux, trois jours autour d'une table ronde, à regarder le ciel par les vitres -- un ciel jamais si beau que dans ces heures de pénitence. Une seule fois vous aviez pu déserter. Vous aviez inventé un prétexte et vous aviez passé deux jours délicieux, loin, si loin des mots savants, des voix analphabètes. Ce jour-là des enfants vous avaient convié à un jeu, un repas de poupées. Tout au fond du jardin, ils vous invitaient à partager, à l'etroit
dans une cabane de tôle ondulée, un thé sans eau, un thé sans thé, un thé absent versé dans des tasses en plastique sales. Vous aviez répondu à leur invitation et goûté lentement le thé invisible. accompagnant votre dégustation de commentaires, dans le temps où, à quelques centaines de mètres de là, le colloque s'enfonçait dans l'ennui et la mort -- un repas d'ombres autour d'une table d'ombre."
"L'inespérée" Christian Bobin

Anónimo disse...

... mais um "bom" artigo