Passam hoje cem anos sobre o nascimento de Samuel Beckett. O mais próximo que estive dele foi na sua tumba no cemitério de Montparnasse, em Paris. De resto, Beckett acompanha-me fatalmente no dia-a-dia como uma sombra luminosa. Nenhum outro dramaturgo do século XX retratou, como ele, o tédio, o absurdo e a rasura permanente desta coisa ridícula e pequenina a que chamamos viver. Quando pôs duas personagens a falar de tudo e de coisa nenhuma, onde nada se passa, limitando-se a "esperar por Godot", Beckett "revolucionou" o teatro tal como ele era até aí conhecido e praticado. O seu poderoso minimalismo, a sua misantropia criativa, a sua argúcia silenciosa e solitária fizeram mais pela dramaturgia contemporânea do que milhares de páginas de inanidades palavrosas. Consta que se enfiou num hotel em Cascais quando lhe deram o Nobel em 69 e privou-se de o ir buscar à Suécia. "Tentar outra vez, falhar outra vez, falhar melhor", é uma frase sua que tenho sempre presente. Dir-se-á que Beckett não é "fácil". É então fácil, porventura, a vida?
3 comentários:
Não é fácil,deprime, obriga a pensar, é incisivo, enfim tudo o que nos custa fazer.
Hoje lembrei-me dele quando li que um alemão tinha processado o Coelho da Páscoa...Bizarrias...
Vá lá, desta vez, gostei.
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