O Jorge Ferreira tem no seu blogue uma rubrica diária intitulada "Ao longo dos tempos". Aí leio que passam vinte anos sobre a morte do escritor francês Jean Genet. Genet "apareceu" morto num hotel de Paris, provavelmente um hotel perto de uma estação de metro ou de comboio. Genet dizia que escolhia propositadamente os hotéis perto de estações para, sendo caso disso, desaparecer mais rapidamente sem ter de pagar a conta. Nessa altura já tinha dinheiro que bastasse, embora fizesse questão de andar só com uma pequena mala ou saco com o indispensável. O autor de "Diário de um ladrão" teve uma vida complicada que os seus livros - muitos autobiográficos - retratam cruelmente. Genet não se poupou no "realismo" das suas metáforas literárias e acabou produzindo das mais poderosas páginas da literatura francesa do século XX. Apesar de "maldito", marginal e "escandaloso", foi publicado pela prestigiada Gallimard/NRF, tendo Jean-Paul Sartre "apadrinhado" a edição das suas obras completas com o monumental e famoso "prefácio", "Saint Genet, Comédien et Martyr". Li pela primeira vez Jean Genet na adolescência. "Pompes Funébres", recordo-me, foi recebido como um murro no estômago, bem longe dos mais "pacíficos" "Diário", já citado, ou "Querelle de Brest". Ainda hoje permanece para mim como uma obra fundamental para o conhecimento de Genet. Nos anos setenta, dedicou-se a causas que parvamente se chamam agora de "fracturantes", nos EUA, em França e noutros sítios, como os "Panteras Negras" ou a "causa palestiniana". No segundo volume das memórias do escritor espanhol Juan Goytisolo ("En los reinos de Taifa") há umas quantas páginas dedicadas a Jean Genet que vale a pena ler, bem como a biografia de Edmund White ("Genet, a biography"), porventura das poucas coisas com jeito que este escreveu. Ao contrário de Rimbaud, Genet, par delicatesse, não "perdeu a sua vida" . Desceu e sujeitou a todos os infernos o que bem entendeu. Quis ser enterrado em Marrocos, terra do seu companheiro dos últimos tempos, mais exactamente no cemitério de Larache, perto de Tânger. Virado para o mar.
2 comentários:
pois...foi como o outro PR....e sobre a ida do ex-PR à Argélia por causa do outro...tudo farinha do mesmo saco!
e vc ker ser supultado no cairo, alexandria ou petra? Imagino a sua resposta: no local onde houver + leite e tâmaras...
ke laracha de poste...
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