27.4.04

LIBERDADE III

Por causa da atribuição da Ordem da Liberdade à Dra. Isabel do Carmo, o PP fez uma pequena birra, não aparecendo na cerimónia. Embalado, o porta-voz da agremiação fez questão de referir a ausência de personalidades "de direita" agraciadas, tudo apontando na sua revoltada cabeça para que o evento fosse uma tenebrosa celebração da "esquerda", eterna conspiradora e destruidora dos bons costumes. Pelo contrário, Durão Barroso esteve e aplaudiu, e propiciou um gesto interessante e simbólico em São Bento que juntou todos os chefes do governo vivos que se sucederam nestes 30 anos. Esta peripécia serve para mostrar, a quem quiser naturalmente ver, que a "cultura democrática" não se adquire pelo mero decurso do tempo. O actual CDS/PP é um ente desfocado cujos principais dirigentes ainda nem sequer tiveram tempo nem para aprender, nem para esquecer nada. Obviamente que ninguém lhes deu qualquer importância, a começar por Isabel do Carmo. Sem biografia, esta gente, pelo simples facto de ter sido acoplada ao poder, acha-se subtil. A sua ausência real ou imaginária num acto destinado a consagrar a "liberdade" não é inocente e é, simultaneamente, um bálsamo. Cinco anos depois do 25 de Abril, Sá Carneiro "integrou" a "direita" no regime, normalizando-o. Na década seguinte, Cavaco Silva pôs a "direita" a desenvolvê-lo. Não imagino por que suspira o presidente da Compal, e porta-voz do Dr. Portas, para o País. Seja lá o que for, não tem nada a ver com a "cultura democrática" que inspirou os sociais-democratas que mencionei. Esses, sim, cada qual à sua maneira, são património destes 30 anos, ou seja, da liberdade.

25.4.04

LIBERDADE II

Acabo de ver e de ouvir o discurso do Chefe do Estado alusivo aos 30 anos do 25 de Abril. Nem que de propósito, e depois de Jorge Sampaio ter criticado a apatia cívica, a subserviência que persiste nos costumes e a desqualificação nacional, uma rápida passagem pelas aberturas dos telejornais da hora de almoço das quatro TV´s revela-nos bem o ponto em que efectivamente estamos. Corridas de automóvel, num lado, futebol, nos outros, e, muito especialmente, Futebol Clube do Porto em todos. A "valentim-loureirização" ou, em versão hard, a "pinto-da-costização" da vida pública nacional, é o duro preço que há que pagar relativo aos chamados efeitos perversos da democracia. Infelizmente, o "pacote" democrático arrebatado com cravos e sem sangue naquela madrugada de Abril de 1974, inclui tudo isto. O que significa que, ao contrário do que proclama a absurda propaganda da "evolução", evoluímos, em muitos aspectos, muito pouco. Na campa rasa do Vimieiro, Salazar deve rebolar-se de gozo. Nos 30 anos de Abril, são o fado (o hino cantado pela fadista de serviço) e o futebol que imperam. Apesar desta choldrice fandanga em que estamos enterrados, sabe-me bem recordar hoje dois ou três nomes sem os quais nem o melhor nem o pior de nós mesmos poderia jamais ter saltado cá para fora. O "dia inicial inteiro e limpo" confunde-se com Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia, e é no rosto desse "democrata obstinado" que é Mário Soares, como lhe chamava ontem o Le Monde, que eu gosto de rever a minha liberdade. O resto é paisagem.

24.4.04

LIBERDADE I

O Independente, da minha amiga Inês Serra Lopes, anda a publicar uns livrinhos interessantes e com bom aspecto. Esta semana saiu um volume que reúne textos de outros tempos - dos "anos de chumbo" - de Victor da Cunha Rêgo, escritos em Portugal e no Brasil. Victor foi "meu" director no Semanário, um hebdomadário que, dessa época, apenas conserva o nome. Eu estava a acabar um sofrível curso de direito e fui parar ao jornal para colaborar em coisas de "cultura". Vagueei por lá entre 1984 e 1986. A imagem do "director" recortava-se sibilina em raras aparições no corredor do andar da Duque de Loulé e na sala de paginação. Eu escrevia umas coisas esquecíveis sobre Borges ou Mapplethorpe que Victor mandava dizer pelo João Amaral que apreciava. E eu apreciava os seus concisos editoriais que reuniam em dois ou três parágrafos a sua visão do mundo e do País. Que visão era essa? A que sempre foi, desde o assalto ao Santa Maria, do PS à AD, de Madrid à RTP, dos jornais às mulheres. Era a visão de um aventureiro melancólico da liberdade que não acreditava no optimismo antropológico. A última vez que estive com o Victor foi em 1996, num colóquio sobre a Europa promovido pela Gulbenkian. Trocámos umas impressões sobre a sua intervenção e um abraço, que eu não imaginava que fosse o último. À semelhança do Malraux de Jean Lacouture, sobre Cunha Rêgo também se poderia escrever a biografia de "uma vida no século". Por isso ele, mais do que muitos, é uma "figura de Abril". Porque, como escreveu, no fim de contas, cada um faz o que quer.

22.4.04

DEBAIXO DE ÁGUA

Com a sua habitual gravitas, o senhor ministro da Defesa Nacional explicou à Pátria a manifesta necessidade de se adquirirem dois submarinos alemães. A Pátria, apesar de reconhecida, continua a ignorar em absoluto a necessidade. A Marinha, filha pródiga das "armas", aos olhos de Paulo Portas, babou-se por instantes em contentamento. E nós ficamos mais "modernos", e naturalmente mais seguros, quando esses objectos andarem por aí submersos. Para estragar o cenário, a NATO veio esclarecer que a última coisa de que andávamos precisados, era de submarinos. Conhecedora da nossa endémica pinderiquice, a NATO ainda tentou explicar que os submarinos eram perfeitamente dispensáveis no contexto presente de intervenção da organização. No entanto, o orgulho nacionalista de Portas, o seu "amor" à Marinha e os milhões que lhe deram para ele poder brincar à vontade, falaram mais alto. Mesmo que a história o não venha a recordar como ministro ou extraordinário líder, já está pelo menos garantido o seu lugar debaixo de água.

20.4.04

HÁ HORAS FELIZES

Há horas felizes. Rezava assim um anúncio do totobola de há uns anos atrás. Pois bem. A devassa que a Polícia Judiciária efectuou a parte do sórdido mundo do futebol, só peca por defeito. Mesmo aqueles - milhões... - que adoram ver "a bola", de certeza que já estão cansados das múmias que estão sempre a aparecer em seu nome, em nome da "bola". Depois, há aquela solene promiscuidade entre o futebol e a política, e em particular, a autárquica. Apesar de ser uma das fartas "conquistas de Abril", a autonomia do poder autárquico, em geral, é das coisas mais repugnantes a que Abril abriu as portas. Os méritos e a nobreza da função são constantemente obnubilados por "autarcas" (terrível expressão) deslumbrados que usam a efemeridade ou a eternidade do posto para se corromperem e corromperem outros. Fatalmente o futebol tem de andar ligado a isto. Podemos não ter nada, não valer nada, não perceber nada do que nos cerca, mas não há nada que chegue à "nossa" bola e aos seus sinistros dirigentes. Pelo menos durante uns dias, graças a Deus, o sorriso idiota do ministro do desporto vai permanecer na algibeira. O "seu" Euro 2004 segue dentro de alguns momentos menos embaraçosos. Espero que a investigação policial junto deste submundo abjecto não pare por aqui nem se comova com a aproximação da festança de Junho. Há horas felizes...

PS: Vem a propósito recomendar a leitura do livro de José Luis Saldanha Sanches, editado pela D. Quixote, de seu título O Natal do Sinaleiro e outras crónicas. E citá-lo. A descentralização foi de facto uma ideia sinistra. Os arranjinhos entre poder local, poder regional e futebol são talvez o exemplo mais conspícuo dos desvios a que necessariamente conduz.

19.4.04

TERRÍVEL FRACASSO

Não me apetecia nada voltar a falar do São Carlos tão cedo. Na realidade, apetecia-me fechá-lo e saneá-lo, no bom sentido desta tão vilipendiada expressão. Escrevo a propósito do artigo de Augusto M. Seabra no Público de ontem, A ópera, as políticas e os públicos. Quando cá chegou, em 2001, Paolo Pinamonti prometeu abrir o Teatro a novos públicos e "à cidade", desenvolvendo uma estreita relação "com o mundo da escola e dos jovens". Do balanço não feito dos seus três anos à frente da instituição, nem o Teatro se "abriu" a novos públicos ou a Lisboa, nem tão pouco houve uma sombra de investimento num "serviço educativo" minimamente estruturado. Pelo contrário, tudo o que representava alguma inovação ou criatividade na lei orgânica ainda em vigor, nunca passou de letra morta. E a lei morrerá oportunamente às mãos de uma futura "SA" sem ter sido plenamente testada. As almas mortiças e os convidados que vagueiam nas estreias e em algumas das récitas, estão longe de constituírem o tal "novo público". É esta a "formação de públicos" de que tão insistentemente fala o governo? Deixa-me rir. A "máquina São Carlos" vive essencialmente para dentro de si própria e muito pouco virada para o que a rodeia. A tendência agora é para recuperar o que de pior havia na defunta Fundação de São Carlos e para perpetuar a glória do seu actual director e de algumas mediocridades de circunstância. Não acho que isto chegue para fazer um "programa de vida" do único teatro nacional de ópera. Barroso, Roseta e Amaral Lopes, pelos vistos, acham. O prémio dado por eles a este equívoco foi a recondução de Pinamonti. Como escreve Seabra, ressalvando, como eu o tenho feito, em parte, a direcção artística, "estes três anos comportam um terrível fracasso" que - acrescento eu- toda a gente se recusa a ver.

18.4.04

A COMÉDIA DE DEUS


A pedido de várias famílias, o novo partido, o PSD/PP, revelou ao mundo o nome do cabeça de lista para as eleições de Junho. Barroso ainda se torceu um bocadinho, mas o risco de ver, por exemplo, o nome do seu motorista ou sua empregada doméstica associados à liderança da "Força", falou mais alto. Questionado o braço direito do PSD/PP, depois de um esfuziante jantar "popular" nas berças, também ele se mostrou radiante com a preclara opção. Aliás, Portas já conhecia perfeitamente o Prof. Pinheiro, pelo menos desde o episódio da "mantinha" da TAP que, o à altura "seu" O Independente, tão sordidamente explorou. Nessa altura Deus Pinheiro era ministro de Cavaco Silva e, uma vez que ainda não estava criado o PSD/PP, Portas canalizava toda a sua energia diária para o combate e sumário enterro do "cavaquismo", ou seja, do PSD. Para isto, até uma historieta rasca como aquela servia de pretexto. Entretanto, também o próprio Prof. Pinheiro evoluiu. Do ódio de estimação que alimentou contra Durão Barroso, ao colaboracionismo com o novo poder, foi um passo de mágica, depois de uns espúrios apoios a notórios adversários de Barroso nos congressos "laranja". Ao Professor espera-o uma tarefa fantástica. É "número um" de uma "força fantasma" que concorre a umas eleições que não lhe interessa minimamente disputar. O voto ideal da "Força" é a abstenção ou, na hipótese Saramago, o novo amigo de Barroso, o voto em branco. Os poucos crentes de serviço, no entanto, atrevem-se a antever sucesso. É o caso de um anónimo dirigente do PSD que, apesar de reconhecer ser o homem pouco "mobilizador", vê nele uma excelente escolha para "atrair" o "centro" e a "administração pública" (sic), já que Deus Pinheiro é presidente da comissão que "estuda" a reforma da dita. Este extraordinário argumento, que vi reproduzido no Diário de Notícias, demonstra que as nomenclaturas partidárias normalmente vivem numa outra dimensão. Em primeiro lugar, não consta que os trabalhadores da administração pública tenham pedido ao Prof. Pinheiro para os "reformar". Em segundo lugar, a meia dúzia deles que sabe que existe uma comissão para o efeito, exacra profundamente o exercício o qual, aliás, tem dado um excelente resultado. Ou seja, nenhum. Em último lugar, é conhecida a estima geral de que goza o governo junto dos funcionários públicos. Por tudo isto, a missão do Professor não se entrega nem ao nosso pior inimigo. A menos que, como tudo indica, isto não passe de uma comédia...de Deus.

17.4.04

PALAVRA DE HONRA...

1. Palavra de honra que eu tento todos os dias proferir um elogio. A prova disso está, por exemplo, na recomendação de uma ida até ao Teatro Nacional D. Maria II. A mera emergência de António Lagarto à frente da sua direcção permitiu, com alguma imaginação, retirar o entrevado edifício da letargia de que vinha padecendo há muito. Por um mês, pode assistir-se a Um Hamlet a mais, um espectáculo concebido por Ricardo Pais, com figurinos do próprio Lagarto. O texto, com base na excelente tradução de António Feijó da peça de Shakespeare, para a Cotovia, continua fresco e altamente recomendável em certos meios.
2. Palavra de honra que eu tento encontrar o elogio perdido. Pela noite dentro, porém , as notícias não são, de todo, entusiasmantes. Barroso, com a delicadeza sibilina que o há-de um dia tornar famoso, brindou o recém empossado e seu homólogo Zapatero com o epíteto de "irresponsável". Tudo porque o referido Zapatero decidiu retirar a Espanha da célebre fotografia dos Açores. Não creio que Barroso acredite verdadeiramente no "papel" insubstituível da "nossa" GNR no Iraque. Para além de dar mais uns "cobres" aos valentes voluntários, esta ridícula presença portuguesa em solo iraquiano, confinada aos muros de um aquartelamento, não serve rigorosamente para mais nada. A Figueiredo Lopes, a quem quase tudo escapa, fugiu a boca para a verdade. Disse ele que, se a coisa "aquecesse", os "nossos rapazes" podiam ter que regressar inopinadamente. Decidido a aprimorar o seu complexo verbo, Figueiredo Lopes, em menos de 24 horas, disse aquilo e o seu contrário. Santana Lopes, que já afirmou mais ou menos claramente que a criatura é dispensável, ruminou qualquer coisa como "opções contraditórias". Talvez que, por estas e por outras, fosse um Barroso mais lívido do que o habitual, quem assistia à estreia do Hamlet, umas filas à minha frente. Aprende-se muito com os "clássicos", terá ele pensado. Palavra de honra...
3. Palavra de honra que eu simpatizo com o Dr. Jorge Sampaio. Comove-me o seu recente entusiasmo pelos arbustos, pelas abelhas e pelo ar puro. Este desvelo é de tal ordem intenso, que um naco de prosa crítica de Miguel Sousa Tavares provocou no supremo magistrado uma irreprimível ira contra as pessoas que tomam bicas em esplanadas e que são "teóricos". Com todo o respeito do universo, eu não conheço maior "teórico" do que o próprio Sampaio. Vejam-se apenas as seguintes reflexões do Chefe do Estado:"o país não pode ser uma reserva total, de norte a sul, que inviabilize a presença de cidadãos e o seu próprio desenvolvimento" ou "os portugueses devem sentir-se identificados com as suas forças armadas". Após porfiados anos sabáticos, talvez alguém consiga explicar este tipo de injunções presidenciais. Eu não consigo. Palavra de honra.

15.4.04

MEMORIAL DE SÃO BENTO

O primeiro-ministro convidou o Sr. Saramago para almoçar. O objectivo do inesperado ágape consistiu em redimir as hostes do PSD perante o ofendido Prémio Nobel, depois da afronta "censória" do Sr. Sousa Lara, um episódico e esquecível subsecretário de Estado da Cultura nos idos da década de 90. Ignoro se Durão Barroso jamais leu um livrinho do laureado. Isso também não interessa. O que me incomoda é ver um homem que foi sufragado em eleições livres, e que até nem é completamente destituído, soçobrar perante a insuportável vaidade do Sr. Saramago. Antes de ser um "criador", convém não esquecer que Saramago não é propriamente um democrata. Pode respeitar-se o escritor e o homem e pedir desculpa pela ignorância alheia. Coisa bem diferente é mostrar qualquer tipo de temor reverencial perante a retorcida figura. Já chega de enfatuadas venerações. Em matéria de repastos, Barroso tem revelado uma preocupante tendência para escolher mal as suas companhias. Depois de um célebre pequeno-almoço com o Sr. Bush - outro refinado "democrata" - , chegou a vez da homenagem retroactiva a Saramago. São singelos momentos "para mais tarde recordar" - ele e nós - no seu cada vez mais extraordinário "memorial de São Bento".

14.4.04

BOMBEIROS INVOLUNTÁRIOS

Para mostrar que está vivo e, sobretudo, que é ministro da Defesa, Paulo Portas apareceu ao lado do colega da Agricultura a prometer soldados para os incêndios. O serviço militar obrigatório, extensivo a meninos e meninas, é hoje uma caricatura. As poucas semanas que os mancebos permanecem nas "fileiras" quase nem chegam para aprender a marchar ou a disparar um tiro. Suspeito que tenham praticamente desaparecido as imaginativas perseguições a inimigos virtuais, que incluiam conviver com pistolas, metralhadoras, "atirar" simbolicamente uma granada e "acampar". Na realidade, temos muito pouco para defender e o "smo" corresponde cada vez mais a uma pequena aventura ou a um "passatempo" inconsequente. Por isso, combater ou prevenir incêndios é uma meritória tarefa cívica e distrai a ociosidade. Só que a coisa é bem mais séria. Exige método e alguma "ciência". Os bombeiros, em plena catástrofe, têm seguramente mais do que fazer do que andar a "ensinar" ou a "proteger" os soldados da sua natural ignorância. Para Portas, porém, o importante é transformar os soldadinhos em escuteiros defensores do património florestal ( de algum, já que o Alentejo e o Algarve ficam fora desta original "OTL") e em putativos combatentes das labaredas. Eles são os novos bombeiros involuntários do Dr. Portas.

13.4.04

SEM FUNDO


O venerando Tribunal de Contas analisou a despesa com a ampliação do metropolitano de Lisboa. Entre outras barbaridades, fica-se a saber que as portinholas automáticas e modernaças que entalam diariamente algumas dezenas de passageiros, custaram a módica quantia de 33 milhões de euros. Desta verba, a empresa obteve um mísero retorno de 2 milhões. O Tribunal também foi ver as empreitadas adjudicadas entre 1999 e 2003 e concluiu que o desvio entre o inicialmente adjudicado e as "revisões de preço" posteriores - entre contratos adicionais e "trabalhos a mais não formalizados" - obriga a somar cerca de mais 42 milhões de euros ao previsto. O desvario, contudo, não fica por aqui. Por causa dos erros e dos "acidentes" de percurso, o desastre do Terreiro do Paço, que se previa ser da ordem dos 41.5 milhões de euros, deverá acabar em 66 milhões. O Metro de Lisboa entra assim, da pior maneira, para a triste saga do betão, e com a "nuance ambiental" do esventramento de uma das mais belas praças da Europa, sem solução à vista. A impunidade política e técnica com que isto acontece é praticamente doutrina assente. O malogro do Terreiro do Paço começou com o PS e continuou com a coligação. Pelo caminho "afundou" diversos ministros de um e do outro lado. Porém, nada de substancial tremeu, a não ser a terra e o orçamento. Carmona Rodrigues, o actual ministro, é meramente irrelevante. Afinal, a "obra" espelha a "evolução dos 30 anos" que o governo assinala em cartazes espalhados pelo País. A "evolução" de um poço sem fundo.

12.4.04

VISTOS POR VPV

Quando ele esteve desaparecido, lembrei-o aqui. Este texto de ontem, que reproduzo de seguida, é significativo e fica como homenagem atrasada ao regresso. É este e não outro porque se insere no "espírito" que - infelizmente- tem "iluminado" este blogue. O "infelizmente" decorre da circunstância de eu, quase todos os dias, me limitar praticamente a "glosar" uma frase de um filme célebre de Oliver Stone sobre o Vietname, apesar da epígrafe do O' Neill : estamos na merda mas estamos vivos. Não conseguimos merecer melhor.

Um retrato

por VASCO PULIDO VALENTE

O Diário de Notícias publica agora um «Barómetro de Notoriedade». Este «Barómetro» é um quadro com o número e o tempo das notícias sobre «personalidades», «instituições» e «temas nacionais», que no seu conjunto a televisão emite. Os resultados são curiosos, porque, tirando a RTP, e ainda assim muito rara e moderadamente, os quatro canais se dirigem a uma única audiência e usam os mesmíssimos critérios. Quem se quiser dar a esse acabrunhante trabalho, pode verificar que nem as notícias nem o tempo de cada uma delas variam significativamente de canal para canal. Só varia, e pouco, a ordem de apresentação. O «Barómetro» dá, por isso, um retrato aproximado do que interessa e preocupa o País. Na semana de 28 de Março a 4 de Abril, as dez «personalidades» com que o País se comoveu foram, por ordem, as seguintes. Do «caso da pedofilia»: Jorge Ritto (1.º), Rui Teixeira (2.º), Carlos Cruz (3.º); Paulo Pedroso (4.º). Do futebol: Felipe Scolari (5.º), Pinto da Costa (7.º) e José Luís Arnaut, o responsável pelo «Euro» (10.º). E da política: Barroso (2.º) e Ferro (8.º), por pura formalidade, e também Luís Filipe Pereira (4.º), por causa de um sarilho qualquer num hospital, sempre óptima matéria para o melodrama. Quanto a instituições, a Pátria andou sobretudo com o olho na Casa Pia (1.ª). Mas não se esqueceu evidentemente do Porto (3.ª), do Benfica (4.ª) e do Sporting (10.ª). Na política, o Governo (2.º), por fazer anos, lá conseguiu um bocadinho de atenção e o PS (7.º) e o PC (9.º) aproveitaram a deixa. Não vou falar dos «temas nacionais», porque o «Barómetro» usa categorias manifestamente erradas, que nem sequer incluem a dominante «história de interesse humano», sem actualidade ou nexo. De qualquer maneira, o que se vê já chega. Os portugueses não se devem queixar. Com tanta estupidez, futilidade e grosseria não têm direito a nada.

(in Diário de Notícias, edição de 11 de Abril de 2004)

10.4.04

A APOTEOSE DO VAZIO

Decorre mais um período de alegre anestesia cívica, com debandadas em massa para o Algarve e outras paragens. O governo e os partidos que o apoiam - a imaginativa e bem sucedida coligação - aproveitaram para colocar uns anúncios nos jornais. Os primeiros, destinam-se a evocar os famigerados "primeiros dois anos" e, apesar de lá constarem os símbolos do PSD e do PP, parece que estão reproduzidos, com a mesma "lata", no portal do Governo. Os segundos visam enaltecer o 25 de Abril, confundindo-o com as "realizações" do governo as quais, na opinião dos seus autores, muito contribuem para a "evolução" e para o "progresso" da Pátria. Uns e outros são, naturalmente, pura propaganda. E, nalguns casos, enganadora. O curioso desta reles história é que há para aí muito comentador que acredita que este é um governo "reformista". E não estou já a pensar em lambe-botas do nível de um Luis Delgado. Acreditam- vejam lá! - que há mesmo ímpeto reformador e que, da fase da "contabilidade criativa", se vai passar para a "economia", para o "social", para o "justo" e para o "cultural", nos próximos dois anos, como jurou Barroso. Ao menos a propaganda convence alguém para além de si própria. Este governo e os (seus) comentadores de estimação são, a preto e branco, a imagem possível do País de Abril de 2004, ou seja, a apoteose do vazio.

9.4.04

OLGA GONÇALVES

(1929-2004)


Desapareceu há dias a escritora e poetisa Olga Gonçalves. A primeira vez que ouvi falar dela foi no liceu, nos finais dos anos 70. Tratava-se, para a altura, de um livro inovador, feito a partir do "trato" entre adolescentes da época, como nós. Chamava-se "Mandei-lhe uma boca". Alguma notoriedade, por causa do prémio que recebeu, alcançou com o livro "A Floresta em Bremerhaven" e, depois, com "Este ano o emigrante lá-bas". Em Olga Gonçalves há, na minha modestissima opinião, uma escrita original que se traduz em "retratos" de pessoas e de situações "sociais" elaborados com perspicácia, com ironia e com imenso afecto. Uma boa forma de comemorar (sempre as comemorações...) o "25/4", é ler Olga Gonçalves, particularmente "A Floresta...", um "fresco" sobre o imediato "pós revolução", uma coisa inteiramente desconhecida das gerações que vieram a seguir e que não sabem de que se fala quando se fala de "revolução".

7.4.04

111 ANOS



Passam hoje 111 anos sobre o nascimento de José de Almada Negreiros. Infelizmente já não se fabricam "almadas negreiros". Numa altura de grandes auto-convencimentos nacionais e de inexplicáveis inchaços de peito, lembramos o bardo futurista no seu Ultimatum Futurista às gerações portuguesas do século XX quando, afinal, está tudo mais ou menos na mesma:

O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades.
O MELHOR DO QUE NÃO PRESTA

Já que estamos em tempo de comemorações, eu também tenho algo a comemorar. Faz precisamente hoje um ano que entreguei a minha carta de demissão de vogal do conselho directivo do Teatro de São Carlos ao ministro Pedro Roseta. Vistos a esta relativa distância, os motivos que invoquei não só se mantêm como se reforçaram entretanto. A saber: a pusilanimidade do director do Teatro, a vacuidade da tutela e a orçamentação deficiente. As duas primeiras juntaram-se na reedição do contrato do director recentemente aprovada, e a segunda, mais compostinha, só remedeia, embora a gestão(?) errática da "função pessoal" autorize aumentos de vencimentos perfeitamente localizados e claramente discriminatórios. Um mero caso de more money for the boys and for the girls.... Porém, de um ministério cuja "folha de serviços", relatada num anúncio pago nos jornais, consiste na distribuição de livrinhos aos PALOP's e na saloia Coimbra 2003, não há que esperar muito mais. Designadamente prestar atenção aos chamados pequenos detalhes que, uma vez somados, fazem a graça ou a desgraça de uma "política". O Teatro de São Carlos, entre outros, também é "política" e não apenas um conjunto de agradáveis serões e de ceias musicais, chorudamente custeados por multidões que jamais porão os pés no teatro do Chiado. Na tal carta de demissão eu defendia que o teatro precisava de parar para pensar. Continuo a ter a mesma opinião, apesar de não ter a certeza de que haja neste momento alguém capaz de o pensar devidamente. A qualidade de algumas produções não chega para temperar o abandono quase sistemático das chamadas "óperas de repertório". Como dizia o outro, é tão-sómente o melhor do que não presta.

6.4.04

A PARÓQUIA

Para celebrar os dois anos de tomada de posse, o governo de Durão Barroso reúne-se no antigo pavilhão de Portugal na Expo. Percebe-se a ideia. Em 1998, o País estava muito contente consigo próprio, havia felicidade ao desbarato e a vida corria como as roldanas dos teleféricos. Nada disto se passa actualmente. Com inteira legitimidade, os portugueses, agora deprimidos e ansiosos, partilham com o governo esta nostalgia simbólica. Um outro imóvel ligado à Expo-o da administração-alberga, desde a passada semana, a RTP, um produto que funde a antiga RTP com a RDP, "a rádio e a televisão de Portugal". Nem a celebração dos dois anos de poder da coligação, nem a "nova RTP", como "acontecimentos", devem ser dissociados um do outro. Na realidade, é o mesmo espírito paroquial que preside a ambos e a "nova" RTP é bem o espelho da miséria caseira que tem, no topo, este governo. Os programas da televisão pública do Dr. Sarmento vagueiam entre o auto-elogio idiota, em que já só faltam as "impressões" das senhoras da limpeza, e o revivalismo mórbido. No governo as coisas passam-se praticamente da mesma maneira. Barroso senta à mesa a sua pequena paróquia. Os oficiantes devem estar muito satisfeitos com a sua "obra" e há mesmo alguns que se imaginam subtis "reformadores". Porém, e apenas passados dois asnáticos anos, este exercício onanista sabe quase a balanço final. É que, fora das paredes imaculadas do pavilhão de Portugal, há um País que cada vez mais se mostra pouco complacente para com a pobre paróquia de Barroso e a quem a sua retórica vazia nada diz.

4.4.04

DOMINGO DE RAMOS

Um. Numa entrevista a The Economist, Durão Barroso disse que espera alcançar em 2006 a "maior maioria" jamais obtida em democracia por um partido político. Só não explicou duas coisas. A primeira, se pretendia chegar a tal desiderato estribado no exercício e no estilo governativos que caracterizam a maioria desde o início: qualquer coisa entre o politicamente medíocre, o socialmente desastroso, o economicamente ruinoso e o culturalmente inexistente. A segunda, se conta estar coligado com o Dr. Portas nessa altura ou se já o dissolveu no PSD, e o PSD, revisto, corrigido e aumentado, o absorveu. Se for esse o "partido" em que ele está a pensar, um PS com juízo e devidamente arrumado, agradecerá.

Dois. Por falar em PS, os oráculos habituais viram na declaração de Guterres - de que se tinha demitido em 2001 por não conseguir pôr em prática o "seu projecto" - , um primeiro gesto de pública expiação para outros voos. Ele insiste que não é "nem candidato nem candidato a candidato". Um dos seus mais próximos, Jorge Coelho, até agora calado sobre o assunto, não só veio defender a sua candidatura como o instou a anunciá-la "quanto antes". Este sim , é "um" sinal. Eu não sei se Guterres quer ou vai ser candidato. Sei apenas que ou ele ou Cavaco Silva, são "os" candidatos verosímeis, "vigiados" de perto pelos "comentadores" Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa. Quanto ao "outro", suspeito que, ele sim, não passará de "candidato a candidato".

Três. O artigo de domingo de António Barreto no Público, desta vez merece ser lido. Discorre essencialmente sobre o bom hábito dos organismos que são pagos pelos dinheiros públicos, apresentarem as suas continhas, de forma inteligível e detalhada. Agora foi a vez dos "hospitais SA", com excesso de dados para a "despesa" e pouca "parra" quanto às receitas, suportada por uma enorme manobra de propaganda paga seguramente a preços de ouro nos jornais. Descontando esta megalomania tipo "obra do regime" - há quem se contente a apresentar como sua "obra", por exemplo, uma esplanada para café no Largo de São Carlos -, é louvável que após um ano de "exercício SA" se explique qualquer coisa. Barreto acha - e bem- que muitos outros organismos e serviços deviam seguir o exemplo. Nos exemplos que dá, pergunta quanto custará um espectador do Teatro Nacional de São Carlos. Na realidade, o "custo" de um bilhete de ópera não reflecte minimamente a despesa irracional com o funcionamento do Teatro (pessoal, sobretudo), e o custo global de uma produção, o que significa que "alguém" anda a pagar o desperdício. Duvido que o governo tenha perdido um minuto sequer a tentar perceber quanto custa verdadeiramente um espectador do São Carlos ao erário público quando reconfirmou o seu director em mais um mandato.

3.4.04

CONTRA A DESQUALIFICAÇÃO

Susan Sontag


É um nome recorrente neste blogue, o de Susan Sontag. A Editora Gótica acaba de publicar a tradução do primeiro grande livro de ensaios da escritora norte-americana, Against interpretation and other essays (Contra a Interpretação e Outros Ensaios), numa boa tradução de José Lima, aparentemente bem "combinada" com a autora. O livro data dos anos 60. Apesar disso não se julgue que os textos são, como se costuma dizer, "datados". Sontag, aliás, revisita o seu próprio pensamento, "trinta anos depois", no prefácio para a edição espanhola e que está incluído nesta versão portuguesa. A sua escrita, dispersa por temas e autores diversos, é seguramente um estímulo para estes tempos de profunda ignorância e de apoteose do gratuito ou, nas suas palavras, uma "gratificação inteligente da consciência". No seu combate de sempre pelos valores da cultura - "estéticos" - , contra a desqualificação, Susan Sontag lembra-nos que toda a verdade é superficial; e algumas (mas não todas) distorções da verdade (mas não todas) loucuras, algumas (mas não todas) negações da vida, são fontes de verdade, produzem sanidade mental, criam saúde, e tornam melhor a vida.

1.4.04

CRÓNICA CULTURAL DO DIA 1 DE ABRIL

De acordo com as suas fontes "geralmente bem informadas", o crítico musical anuncia Wagner - a Tetralogia - para o nosso teatro nacional de ópera. Mais uma vez, graças ao seu telemóvel, Pinamonti consegue surpreender tudo e todos com mais esta extraordinária proeza. Nós conseguimos ir mais longe e descobrimos muita coisa. Durante todo o dia choveram telegramas de felicitações no São Carlos, de entidades tão influentes como Bibá Pitta, Maria João Avilez ou Pedro Santana Lopes. Diz-se até que Pinamonti já foi convidado para pertencer à comissão de honra da candidatura a Belém deste último, o que terá provocado algum mau estar entre o presidente da Câmara de Ourique, António Calvário e Clara Ferreira Alves. Pinamonti não confirmou, nem desmentiu, antes pelo contrário, avisando que era "sempre muito frontal nas [suas] posições" e que, como tal, "ainda precisava de contactar mais dois ou três candidatos antes de decidir". Entretanto, o químico Jorge Calado, do Expresso, revelou estar a escrever a biografia do talentoso italiano que, em boa hora, o Sr. Sasportes se lembrou de trazer para o Chiado. A anteceder a saída de tão esperada biografia, com lançamento simultâneo previsto para Lisboa e para Veneza, Calado dará à estampa duas antologias das suas brilhantes crónicas operáticas. A primeira, intitulada "Crítica objectiva I- por que é que eu não gosto nada da direcção Paulo Ferreira de Castro", remonta ao período de trevas que reinou no TNSC até Abril de 2001. A segunda, que reúne o conjunto de textos dedicados a Paolo Pinamonti, chamar-se-á "Crítica Objectiva II - por que é que eu gosto tanto da direcção Paolo Pinamonti". A biografia e as antologias serão prefaciadas respectivamente por José Manuel Fernandes, o polivalente director do Público, por Ana Isabel Morais, ex-assessora no São Carlos, actual vogal, ex-aluna de Calado e grande amiga de Ferreira de Castro, e por Ilda da Matta, a ubíqua assessora financeira de Pedro Roseta que, em primeira mão, revela como foi que descobriu, há dois anos, o prazer de ir à ópera. Quem não gostou nada da ideia wagneriana de Pinamonti, foi o chefe de gabinete do secretário de Estado da Cultura. José Luis Ramos, um reputado especialista internacional em "Teoria da Conspiração", após ter sido avisado disto pela sua longa manus junto de Pinamonti, dispensou os serviços da Sra. D. Arlete que não soube ler nos astros a ideia genial do italiano e exilou-se no Meco, onde só recebe os próximos. Amaral Lopes, o secretário de Estado, depois de muito instado e sabendo da anuência de Roseta em interpretar um pequeno papel em O Crepúsculo dos Deuses, conforme revelou o crítico, acedeu em frequentar umas rápidas aulas de canto com o novo valor jurídico-musical que desponta no firmamento do São Carlos, de seu nome Nuno Pólvora, outrora muito conhecido no Coro Gulbenkian. Não se sabe ainda que papel estará reservado a Amaral Lopes na Tetralogia, uma vez que André Dourado, do gabinete do primeiro-ministro, já fez saber a Pinamonti que também quer participar. Patrice Chéreau, o encenador, imediatamente contactado por telemóvel, estará a pensar neles, ou para o papel dos gigantes Fafner e Fasolt, ou para dois dos deuses, embora o preocupe a circunstância de nenhuma destas personagens "acabar bem". Sabe-se que esta nova produção da Tetralogia será apresentada em conferência de imprensa que decorrerá depois das 22 horas, por forma a poder seguir-se uma ceia. Pinamonti e Ana Isabel Morais, os dois "public relations" do Teatro, em acumulação com as funções de direcção, estão a preparar os convites no maior segredo. Porém, fontes que não quiseram identificar-se com receio de eventuais represálias e de um ataque de pulgas, revelaram-nos que entre os convidados para a conferência de imprensa, se encontram o Dr. Paulo Portas e Eusébio, este por causa do Euro 2004. Paulo Portas, aliás, disponibilizou um regimento misto de cavalaria para a figuração em Die Walküre, e, no telegrama que endereçou a Pinamonti, ofereceu um submarino para a encenação, com o argumento de que "ao menos sempre serve para alguma coisa". Foi-nos impossível confirmar se Durão Barroso irá assistir aos espectáculos, "apesar do telemóvel de Pinamonti não lhe dar descanso", nas palavras da sua assessora de imprensa. Esta esclareceu que "Barroso se comove muito com a figura de Wotan" e que, por isso, "poderá não ter condições psicológicas para acompanhar a saga dos deuses até ao seu final". No entanto, acrescentou, "o chefe do governo terá muito gosto em fazer a apresentação da biografia de Pinamonti" no Centro Cultural de Belém, ao lado dos já consagrados apresentadores Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa, numa mesa-redonda moderada por Catarina Furtado e Luis Delgado. Em Belém, por seu turno, reina grande regozijo pelo facto de Pinamonti ter "conseguido a Tetralogia para Portugal" (sic), o que foi já classificado por Jorge Sampaio como um "verdadeiro desígnio nacional que deverá ser devidamente assinalado no dia 10 de Junho". Sampaio pediu ainda desculpas a Pinamonti por não poder estar presente na conferência de imprensa, "exclusivamente por total impossibilidade de agenda", disse uma fonte presidencial à Agência Lusa. O La Stampa, em edição especial conjunta com o Correio da Manhã, classificou Pinamonti como o "novo 25 de Abril de Portugal", e no Vaticano correm rumores de canonização. A que mais poderia a cultura nacional aspirar no primeiro dia de Abril de 2004?