NÃO POSIÇÕES
A esta geração que se orgulha da sua superficialidade.
Philip Roth
Primeira. A doutrina oficial do "PSD em coligação", devidamente verbalizada a propósito do incómodo assunto da IVG, é ter uma "não posição". Esta originalidade traduz-se, entre outras coisas, em "disciplinar" os deputados ou pô-los a dizer patetices inócuas. O objectivo é sempre o mesmo, não beliscar o "braço direito" da coligação, a verdadeira "mão que embala o berço". A encomenda prevista para as eleições europeias - a "força" - é apenas mais uma folclórica sequela do propósito. A julgar pelos "estudos de opinião", o PSD não está a ganhar nada com ele.
Segunda. O primeiro-ministro vai ao Brasil dar "conselhos" a Lula da Silva. Leva a costumada corte de empresários e a desafinada música da retoma anunciada. Só ele "puxa" verdadeiramente por isto. Os mesmos "estudos de opinião" mostram que a Pátria está pronta para dispensar praticamente todo o Governo, à excepção do "grande timoneiro". A uns dias de fazer dois anos de vitória, D. Barroso tem poucas razões para comemorar. Não se entende por que insiste em fazer da sua governação uma enorme "não posição", permanentemente refém de umas décimas burocráticas e de criaturas que se enganaram na vocação.
Terceira. O PS, em vez de aproveitar a "não posição" devidamente institucionalizada, insiste em mostrar ao País que não se consegue entender consigo mesmo. Pina Moura, ex-"cardeal", uma verdadeira ave de rapina, educada anos a fio no leninismo estalinista e rapidamente convertida às virtudes dos "interesses" rapaces, já deu o seu contributo contra Sousa Franco. Outros, menos vorazes, também não simpatizam com a escolha e vão roendo por dentro. Convinha perguntar-lhes se querem ou não querem ganhar as eleições europeias, ou se a isso, preferem a teoria conspirativa de um sotão cheio de pó.
Quarta. A propósito de um avião, de um pianista e de um futebolista, gerou-se um pequeno fait divers. É-me indiferente que os aviões tenham o nome de escritores, músicos, jogadores ou do sr. Asdrúbal. O ideal, para não melindrar ninguém, era terem números, como as ruas e as avenidas de Nova Iorque. O que eu não gosto é que, por causa de um tão efémero evento como o Euro 2004 - e exclusivamente por causa dele - se tenha "pintado" um avião de fresco, travestido de publicidade à bola e devidamente "renominado". Não enxergo (limitação minha) a utilidade da função e não me passaria pela cabeça comparar as personalidades dos Snrs. Eusébio e Viana da Motta nem as respectivas actividades, ambas certamente meritórias. Apenas registo o género de "prioridades" em vigor.
Quinta. Por estes dias, chega ao fim a comissão de director geral do director do Teatro Nacional de São Carlos. Iniciada em Março ou Abril de 2001 pelo Sr. Sasportes, e aplaudida de pé pelo actual poder político, de Belém a São Bento, esta passagem de Paolo Pinamonti pelo nosso único teatro lírico, caracterizou-se tanto pela genérica qualidade das produções que tem apresentado, como pelas trapalhadas que têm ocorrido sob a sua gestão. A perguntarem-se, da tutela a Jorge Sampaio, por que é que em apenas três anos, Pinamonti viu passar pela sua direcção meia dúzia de vogais - que nada tinham que ver entre si e que não podiam ser todos coincidentemente maus, uns demitidos, outros demitindo-se, e alguns cúmplices - , preferem, à boa e deslumbrada maneira portuguesa, "deixar arder que o meu pai é bombeiro" e encomendar-lhe novo mandato. Ámen.
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