APOCALÍPTICO
O Sr. Saramago, o nosso venerável Prémio Nobel, está de volta. Desfez-se em entrevistas e lança o seu Ensaio sobre a Lucidez perante uma esperável plateia de bonzos. Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa encarregam-se da apresentação. A presença dos dois servirá porventura para contrabalançar as descrenças democráticas de Saramago. Quem ignorasse por completo o "estado da arte" do mundo no presente e lesse ou ouvisse a autor, podia julgar que estávamos a viver um momento Blade Runner, povoado de "replicantes" e de andróides assassinos, em luta com eficazes e "sentimentais" defensores de "boas" causas. Saramago não acredita definitivamente no homem, aparentemente já não ouve os "amanhãs" que cantam e lamenta deixar esta "merda de mundo" pior do que a encontrou. Apela ao protesto através do "voto em branco", a partir da alegoria do livro, mas lá se encaixou na lista da CDU para as "europeias". É este Saramago apocalíptico e contraditório que dois dos maiores optimistas da política portuguesa vão comentar. Cada um certamente a pensar num "futuro" radicalmente diferente daquele que Saramago entrevê ou que, por toda uma vida, andou a prometer para si próprio e para o mundo. Verdadeiramente Saramago nunca foi outra coisa senão o mesmo visionário amargurado que transparece nestas entrevistas e nos últimos livros, a milhas e milhas dos sóis radiosos que jamais brilharão.
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