A CARIDADE BETA
O evangelista Bagão arrastou Durão Barroso para uma patética cerimónia na qual foram anunciadas "medidas" para a "protecção" e "promoção" das famílias, em particular, das numerosas. O evento foi enobrecido com a prestação canora de uns meninos "bem", acompanhados por uma mini orquestra. Para seguir à risca a sua "promessa" de mudança de "disco", Barroso procura agora libertar-se da contabilidade burocrática, promovendo o lado "social" da governança. Acontece que o "social", tal como ele é entendido pela direita representada por Bagão, raramente ultrapassa o limiar da solidariedade ou da caridade "betinhas". Nas suas beatas cabeças, a chamada "instituição familiar", gerada em torno do sacrossanto matrimónio, é meio caminho andado para a salvação e para o fim da pobreza, já que - entendem eles - esta é mais do foro "moral" do que qualquer outra coisa. Por isso, quando falam em "famílias numerosas", não é decididamente nas dos bairros periféricos de Lisboa ou do Porto que estão a pensar. Em que é que esta gente pode ser beneficiada fiscal ou economicamente? Não existem sequer para o primeiro efeito, e são seguramente uma maçada para o segundo. Uma tal "associação das famílias numerosas", um conjunto harmonioso de "tias" e de "tios" cheios de meninos e de meninas, e que é muito "reivindicativa", passa completamente ao lado disto. Esta "direita social", mentalmente muito "boazinha", muito "FNAT"e muito "bazar da caridade", encara com enorme sobranceria o fenómeno da indigência. Basta olhar à diferença de tratamento que o ministro deu à divulgação das tais "medidas" e os não-comentários que lhe mereceram os dados recentemente divulgados - pelos seus próprios serviços - em matéria de pobreza e de fome. Num caso sorrisos, música e primeiro-ministro, no outro umas notas esparsas e incomodadas, deixadas ao cuidado de uma assessora de imprensa. É a "caridade beta" no seu esplendor.
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