NA HORA CERTA (actualizado)
Como um puto ansioso perante à ameaça de se ver privado de um brinquedo cobiçado, Santana Lopes fez questão em reagir, algures na Europa central, ao lançamento de um livro em Lisboa. Falou desse livro como coisa inteiramente do passado, respeitável na contabilidade dos eventos que lhe dizem directamente respeito, porém sem que o autor tivesse o "direito" a revelar os seus (dele, Lopes) "sentimentos" e intimações. Lá muito mais para diante, se for caso disso, ele próprio escreverá as suas memórias, depois de ter "servido" Lisboa, em particular, e a Pátria, no geral. Só o futuro lhe importa, disse, e o tal livro, juntamente com o autor, presume-se, é poeira passada. Santana Lopes, até pela circunstância de ser o primeiro vice-presidente do PSD, autarca da maior cidade e estratega da coligação, representa hoje, paradoxalmente, o "baronato" partidário de que Cavaco Silva, em dado momento, se fartou. Os "novos barões" estão agora no "pacto de geração" que julga poder mandar até, pelo menos, 2010. Toda a gente que pensa alguma coisa na sublime aliança, deve ter percebido que Cavaco já está para além da aritmética contratada entre Portas, Santana e Barroso. Muito menos depende dela. Praticamente basta-lhe querer ser candidato e, depois, Presidente. E é assim que deve ser, no tempo adequado, que não é este, o do calendário privado de Santana. Ironicamente, o primeiro-ministro que fazia gala em governar contra "os interesses", foi-se embora porque percebeu que, à conta do seu nome e do seu prestígio, proliferavam "novos riquismos" na casa política que ele engrandeceu sozinho. Esta pequena revelação, no 2º volume da Autobiografia Política de Aníbal Cavaco Silva (Círculo de Leitores e Temas e Debates), vale mais do que as escaramuças com Soares. Este Cavaco "escritor", mais solto, mais "político" e mais conversável, não deixa de ser o mesmo homem íntegro, responsável e credível que governou o País por uma década. Felizmente não tem feitio para "brincar às casinhas", não é excessivamente dado a "estados de alma" e apresenta um passado promissor. Palpita-me que os meus compatriotas saberão assinalar muito bem a diferença entre aventuras e certezas, na hora certa.
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