5.10.11

A MENINA DO 5 DE OUTUBRO


A "novidade" do 5 de Outubro na Câmara de Lisboa foi uma menina de dezassete anos, vinda da Maia, que perorou sobre a História. Tudo o que disse resultou da vulgata que lhe ensinaram no básico e secundário a propósito da "revolução" e dos seus "heróis" a quem ela apodou de "intelectuais". Uma vulgata que inclui as inevitáveis tiradas sobre a liberdade e a escola, o "progresso" e a sociedade civil "elevada". Com o devido respeito, a menina está equivocada embora mereça amplamente o prémio que o regime que a formatou lhe deu. Desde logo, a 1ª República pouco ou nada teve a ver com a liberdade. Foi uma tirania de origem urbana, centrada em meia dúzia de luminárias, em geral nefastas, que sustentaram a primeira das duas ditaduras que marcaram o século XX português. Aliás, a segunda (a de Salazar) só foi viabilizada porque existiu a anterior, iniciada a 5 de Outubro de 1910, da qual apenas a leviandade política pode guardar saudades. Como republicano, o 5 de Outubro e a as suas sequelas não me suscitam o menor aplauso porque nada há a aplaudir. Não é por acaso que toda a gente anda com a "mudança" na boca desde a outra revolução, a florida do 25 de Abril. E ainda será da dita "mudança" que se falará no segundo centenário da coisa e assim sucessivamente. A menina de 2011 deve rever a matéria rapidamente.

11 comentários:

Anónimo disse...

Hoje o País, a nação, estão de luto; e estão de luto porque é o nosso estado (por nós próprios...) há largos meses. Hoje de manhã, e nesta manhã que findou quente, poeirenta, mole, com mau cheiro no ar - a sarjeta seca e a cadáveres de roedores mortos, invisíveis aos olhares; quase similar ao cheiro a podre das dunas das praias escaldantes. Costa 'recebeu' o PR, Passos e a restante malta-política no balcão da CM para mais uma encenação da implantação da república - que se transformou num crasso cerimonial sem sentido: mais distante que o 25 de Abril, mais carunchoso que a mobília do regime, mais velho do que qualquer pessoa viva - e todavia sem qualquer glória ou heroísmo compreensíveis. Nem a 'república' portuguesa inventou a Liberdade, nem acabou com as desigualdades, nem conduziu ninguém ao Progresso nos moldes idealizados. Os circunstantes, os protagonistas deste ritual 'estavam lá' porque a isso estão obrigados; e não há discurso, apelos que cheguem para mitigar o indisfarsável mal-estar que era detectável nos semblantes. O tempo, a dívida, a penúria, a época não estão para brincadeiras. E como as comemorações e as datas importantes em Portugal foram todas esvaziadas de sentido - ao mesmo tempo que a noção ou conceito de Pátria era ridicularizado - não se consegue extraír destas reuniões-obrigações regimenteiras qualquer utilidade. São inúteis para o povo, são inúteis para o crescimento económico, são inúteis para a seriedade. Oportunidade perdida. Parece que quanto mais irrelevante é um país, mais 'datas', bandas de música, feriados e folgas tem.

Ass.: Besta Imunda

Ex-republicano disse...

Não se percebe como ainda há que festeje a data que marcou o início de um dos períodos mais negros da História de Portugal.
Ou se trata de ignorância ou de má-fé, uma e outra absolutamente condenáveis.
Como é que se pode, por exemplo, fazer de conta que nunca existiu a camioneta fantasma? Ou como é possível absolver a inconsciência criminosa dos que decidiram a participação do País na guerra de 14-18, mandando para a frente de combate uns desgraçados camponeses sem qualquer preparação militar, cujo inevitável destino era (como veio a ser) a morte?

observador disse...

Que foram partidos demasiados ovos, para fazer uma omeleta pequena, não tenho dúvidas.

Ainda, para mais, muitos, apesar de louváveis, estavam já muito fora de validade, dado terem sido aferrolhados durante mais de 50 anos ...

E foi tudo feito a correr, desde a Revolução Florida, e muitos cozinheiros traziam muito maus hábitos e não são os melhores...

Mas diga-me cá, qual a matéria devia ser revista no seu entender?

Nuno Castelo-Branco disse...

Subscrevo sem tirar uma vírgula e apenas omitindo o "como republicano". É isso mesmo, João.

Anónimo disse...

A formatação desta gentinha é assustadora. No outro dia, descobri umas pérolas no livro de Ciências Naturais do 9º ano... Passam uma boa parte do ano lectivo a "estudar" e a fazer "fichas" sobrte o "ambiente" e nas fichas os moços e moças de 13 ou 14 anos têm que preencher caixas com palavras "sábias".

Ah! Pois é! Em Ciências Naturais já não se aprende Botânica, Zoologia ou Geologia... Se calhar só um bocadito. Mas aprende-se a ser um cidadão a sério, bem "verde" e politicamente correcto. Já não chega aqueles maravilhosos textos de Língua Portuguesa...

Mais valia mandá-los ler e fazer fichas sobre a burricada que aparece nos jornais. Ao menos, poupava-se nos livros "escolares"!

PC

a.marques disse...

A REPÚBLICA TRANSBORDA DE REINO
Não queremos mais a monarquia mas estamos a sustentar uma capoeira de famílias reais. Nos fundos dos palácios vão-se acotovelando os sucedidos com os promitentes sucessores cerimoniosamente a nunca perderem a oportunidade de se perfilar para engrossar a linhagem. Que é que eles são, que é que eles são, que é que eles são? São reis, são reis, são reis!

joshua disse...

Ela perora, a pobre criança, como canta, a pobre ceifeira.

Anónimo disse...

O bom gosto deste post compensa relativamente o mau gosto do post anterior. Concordo com quase tudo o que aqui é dito,excepto,tambem,o "como republicano". A pobre menina lá recitou o que lhe ensinaram,como ensinam a todos os meninos que de restam pouco ficarão a saber da História portuguesa,a não ser os clichés da 5 de Outubro,que duram desde o Veiga Simão,e que parecem mais resistentes à revisão do que quaisquer regimes pátrios.Em 3011 ainda explicarão que Afonso Costa,o Buíça, o "Dente de Ouro" e quejandos, foram democráticas e patrióticas figuras. A 1ª república foi de facto um período de regressão geral do país excepto em dois ou três aspectos legislativos,e foi responsável por muitas das sombras do Estado Novo. O regicídio preparatório do 5/10 foi feito para evitar o sucesso das reformas de João Franco que poderiam colocar o país no bom caminho. Mas não é por acaso que o fado da triste sina é tão português.

Anónimo disse...

O discurso da menina explica, na perfeição, por que é que o Estado tem tanta relutância em estabelecer uma verdadeira liberdade de ensino, em que os pais, os primeiros responsáveis pela educação dos filhos, possam escolher a escola que melhor se adeque ao seu sietma de valores... Se as pessoas soubessem o que se vai ensinando por essas escolas fora! Já agora, ainda ninguém me conseguiu explicar por que é que o Memorial do Convento do Saramago há-de ser a única narrativa obrigatória para os alunos do 12.º ano. Se alguém souber, por favor, diga-me.

Isabel disse...

O "Memorial" é leitura obrigatória, desde que os professores se recusaram maioritariamente a escolhê-lo quando ainda existiam, como alternativa, obras como:"Mau Tempo no Canal", "A Sibila" e "Aparição".Assim se acabou como despautério que era a recusa de obra tão "republicana, laica e comunista".
"Se as pessoas soubessem o que se vai ensinando por essas escolas fora!". Seria bom que o ministro o soubesse e tratasse de eliminar, com a brevidade possível a catequização marxizante e "politicamente correcta" que vem formatando implacavelmente gerações de portugueses(tempos houve em que umas Orientações de Gestão dos Programas, vulgo OGP, foram muito úteis , no sentido de remediar de imediato o que só poderia ser solucionado em anos vindouros). Foi rápido e ficou um pouco menos mau.

Fernando Martins disse...

Depois do que escreveu no post, com que concordo com uma única exceção, devia dizer ex-republicano.

Estamos a pagar a quatro Presidentes (e respectivas fundações - só a do Soares pai/filho é caríssima - sim, que isto de herança de lugares tem muito que se lhe diga, mesmo com a chamada ética republicana: o filho do ex-padre ministro da I república, que foi presidente e primeiro ministro e é o pai do ex-Presidente da Câmara de Lisboa, "eleito" por herança...) quando podíamos ter apenas um Rei, com a respectiva família, imparcial e preparado para o cargo, muito mais barato (compare-se o custo da casa real espanhola com o da presidência portuguesa...).

Mas lá chegaremos - e cada vez se vê mais ex-republicanos.