27.10.11

É A POLÍTICA


«A Europa está hoje refém dos mercados e do poder financeiro. Por isso, a opção decisiva que se nos coloca é entre abandonar cada vez mais a sua soberania aos mercados, ou transferi-la parcialmente, de acordo com objectivos políticos bem estabelecidos, para a União Europeia. Trata-se de uma opção política de fundo, que infelizmente o eixo franco-alemão tem procurado iludir com a crescente imposição de um poder de facto, tipo "directório", ao arrepio de diversos equilíbrios vitais da União Europeia. Como ontem mesmo observou J. Habermas, esse federalismo a que chamou "executivo" pode de facto permitir transferir, sob a ameaça de sanções e de pressões de todo o tipo e sem qualquer legitimação democrática, os imperativos dos mercados para os orçamentos nacionais. Mas se isso acontecer, sublinhou e bem Habermas, é o próprio projecto europeu que se transformará no seu contrário: de primeira comunidade supranacional democraticamente legitimada, a União Europeia tornar-se-ia num puro arranjo ao serviço de uma "dominação pós-democrática". Não haja ilusões: sem um salto federal democrático, sufragado pelo "povo europeu", a Europa não sairá do atoleiro da crise. Esta é talvez a maior das dificuldades, mas é também a condição sine qua non da sua sobrevivência e da sua afirmação no mundo global do futuro.»

M. M.Carrilho, DN


«Muito para além do corte de 50% na dívida grega, e da participação da banca privada, do reforço do FEEF, da «governação económica» da UE, fica a certeza do empenhamento da Alemanha e da França na continuação da zona euro vinte anos depois da UEM. Essa ratificação do acordado entre Mitterrand e Kohl há vinte anos recentra a UE na lógica anterior ao grande alargamento, mas tem em conta as consequências da unificação alemã entretanto desenvolvidas. Compete agora aos outros Estados membros portarem-se como adultos. Sem isso a opinião racional não vence.»

J. Medeiros Ferreira. Córtex Frontal

6 comentários:

floribundus disse...

por falta de dados, o que penso
não corresponde à realidade.

admiro a 'capacidade' de visão dos comentadores

Anónimo disse...

Nenhuma palavrinha sobre o seu amiguinho Duarte Lima?

Anónimo disse...

Não se trata de encontrar uma solução racional, mas sim emocional. Do lado "solução racional" todos poderão dar o seu contributo, apresentando calendários, mecanismos, propondo instituições, copiando antigos impérios - enfim, promovendo o federalismo. O pior, o mais difícil, é fazer o emocional - fazer o povo, os vários povos, os vários dirigentes eleitos - aceitar esse "racional" de soluções. Ora, pequeno ou grande, ninguém tem querido abdicar de soberanias (porque será?); fala-se até delas como coisa preciosa a preservar, ao mesmo tempo que se implora/exige por soluções supranacionais para resolver problemas. Nada disto é ultrapassável sem se definir explicitamente como, quem, quando, porquê e em que situações específicas poderá existir um governo federal a decidir por nós (por cada país). Eleger um governo federal (justo!) é impossível na Europa - esta é a verdade e não há ninguém capaz de demonstrar o contrário: a supressão lenta mas segura dos nacionalismos (ou apenas brios nacionais...) ainda não deu totalmente os seus frutos; a língua e a diversidade culturais produzem barreiras intransponíveis; os partidos políticos e a ideologia não são suficientes para produzir maiorias - e, a meu ver, isso nem sequer deveria ser considerado como factor unificador para "achar governos", dada a dispersão absurda a que conduziria. O Zé-Maria-Pincel, no seu próprio País, já tem dificuldades suficientes em encontrar o seu deputado e falar com ele; em conhecer o seu presidente e perceber o que ele pensa. Como votar numa "família europeia de partidos" e esperar obter com isso alguma justiça? Toda a gente se parece esquecer que os EUA tiveram uma guerra civil (secessionista...) e ainda nem sequer abrangiam a totalidade do território que hoje ocupam; e que todos falam e falavam a mesma língua; e que todos faziam já parte integrante de uma união (de livre vontade); e que o País - que só conheceu esse sistema - foi criado de raíz para funcionar de forma federal... O que todos estes cavalheiros da União Europeia fizeram - quer os defuntos, quer os vivos - foi ir artificialmente (nas costas dos cidadãos) longe demais, muito mais longe do que seria necessário. Então 'inventaram' uma moeda única fortíssima para uso de economias desiguais, com fiscalidades desiguais, graus de desenvolvimento desiguais - e jamais niveláveis; e depois, o "Tratado" não previa catástrofes, crises, incumprimentos: é de imbecil! Como ter confiança em semelhantes protagonistas e em semelhante processo "de integração" ? Quem nos defendeu destas parvoíces políticas, económicas e financeiras dos tratados? Ninguém. Alguém sabe ao certo que mecanismos e razões levaram o dr. Barroso à Comissão Europeia? Candidatura pessoal voluntária?!? Proposta de um candidato involuntário pelos países que REALMENTE tinham peso? Quem mandava de facto nessa altura (2004)? Se tudo, tudo parasse de repente e tudo fosse 'investigado' se calhar poder-se-ia concluír que a Comissão era toda ilegítima e que todos os actos por ela produzidos eram juridicamente nulos...

Ass.: Besta Imunda

João Gonçalves disse...

Anónimo (podia lá ser outra coisa): até um eventual julgamento e condenação transitada em julgado, qualquer Estado de direito exibe e deve praticar o famoso princípio da presunção de inocência. Malgrado uma acusação que, evidentemente, não é agradável para ninguém a começar pelo arguido.

Torralva, Diogo disse...

poder ate podia, mas não era a mesma coisa


Diogo Torralva

Q disse...

"A Europa está hoje refém dos mercados e do poder financeiro"

Jacques de la Palice só o teria dito melhor se dissesse "O mundo está desde sempre refém dos mercados e do poder financeiro desde que existem mercados e poder financeiro".
Alguns filósofos descobriram a existência e o poder dos mercados só hoje. E só na Europa.