26.10.06

LENDO OUTROS

O Eduardo Pitta: "Dizer sim, ou dizer não, à «despenalização da interrupção voluntária da gravidez» não é o mesmo que dizer sim, ou dizer não, ao aborto. Um aborto é um aborto. Não é uma moratória judicial. Se o Tribunal Constitucional validar os exactos termos da pergunta, o que vai estar em causa no referendo é uma questão de polícia."

10 comentários:

Rodrigo Costa disse...

Vá lá!... No PORTUGAL DOS PEQUENINOS não há control. Os comentários nascem à vontade. Não havendo discriminação, todos podem ser, minimamente, felizes. Não há razão para aborto. Porém:

Vêm, lá desde mo horizonte, as ondas que apagam outras ondas e vêm naufragar as marcas inseguras na areia, como marcas da infância inocente, nem sempre apetecida; doendo-nos memórias que o arrependimento não esquece, porque ninguém consegue arrepender-se de ter nascido; porque aí é escrita a primeira falácia da democracia, e as marcas –humanas, inseguras– estão condenadas ao desaparecimento sem serem esquecidas.

As vagas sucedem-se, de areia em areia, no mesmo sedimento, porque o Humano se mantém como no princípio: de obsolescência em obsolescência, incoerente e déspota; o pensamento inconsequente e impuro; embriagado de esperança, no desespero da tecnologia que maquilha a Espécie –vejam lá!– mais próxima do suicídio… Com telemóveis de última geração; pillings que corrigem excessos, que afectam mas sem o risco de melhorarem o cérebro; que os indecisos podem mudar de sexo, sem terem que mudar de parceiro, de ideias nem de roupa; que o virtual garante todas as fantasias e todos os encontros a quantos não conseguem tê-los nem encontrar-se na realidade.

Agora, que, através do voto, pode legitimar-se a manutenção da mentira, o cansaço conduz-nos à verdade e à derrota. Contrariado, sem tempo nem saída, o Instinto só aparentemente desfalece, mas porfia: no álcool, na droga, no suicídio, na eutanásia e no aborto. Quando o Instinto é a trave segura da Vida, instintivas, as pessoas discutem o direito à desistência. Fartas, necessitadas e cansadas do lusco-fusco sem perspectiva, rejeitam sofrimentos sem recompensa e temem a responsabilidade, a dor e os abandonos.

Percebemos, então, que, de qualquer estrato e de qualquer idade, todos somos escora de um império em ruínas, porque o progresso nunca será o prometido, e as ascensões não fazem mais que vítimas, porque a sobrevivência e a subida não são alimentados, em regra, por princípios; e, querendo ser apenas abastados e célebres, aniquilamos e aniquilámo-nos, porque a Sociedade, como projecto que não é comum nem é sério, impõe ritmos e separações com o recurso aos antidepressivos. E a psicopatia, a má-fé e a ignorância, com mestrado e com poder, decidem sobre o rumo de Deus, das coisas e das criaturas, sem que alguém se aguente alheado de si e sem ter quota-parte, consciente e sensível, na construção do grupo e do espaço em que se integra.

Poderia dizer-se, apesar, que quem pôde chegar aos privilégios ter-se-ia salvo, justificando e poupando os descendentes e tendo-se tornado em mais de mandar do que de obedecer; com todas as horas como horas esperadas e todos os minutos como o tempo exíguo para louvar a felicidade imensa. Mas não. Os gozos, os dramas, as dúvidas e os esforços desgastam. As obrigações e o esquecimento deixam-nos, e à descendência, periclitantes, tensos e incertos; com um olho na rua e outro olho no beco, por ser nos esconsos que a salvação se ganha, concluindo-se, portanto, que as sociedades são a selva injusta onde o predador e a presa são interessada e estrategicamente demarcados e benzidos, salvo quando a hora, a excepção e o elemento servem as seitas –porque de seitas se trata o comportamento dos círculos que não admitem a dignidade de quem quer fazer uso, legítimo e prometido, da autonomia; que negam o reconhecimento das capacidades a cidadãos que, sem estúpidas marés continuadamente contra, poderiam dar contributo, o veneno, porém, porque provém de estranhos à família.

Se os caminhos já estão programados, os grupos e as sabedorias escolhidos, por que razão, sem que assista o direito à escolha, se há-de querer um filho –corrupto: activo, passivo ou obrigado–, condenado a viver num contexto de jogatina?!...
Como prova de potência e de fertilidade? Como ponto de referência fulcral da felicidade completa dos casais realizados? Como esperança de consecução ou continuação de objectivos perdidos ou interrompidos pelos progenitores? Como grude, hipotético, de uma relação-craquelée… ou porque o Instinto é o melhor aliado na adequação ao sistema? Poderiam as instituições manter o logro?... O Estado existiria e viveria de quê? Quem é que ouviria ao Papa –ou a outro indivíduo qualquer– aceitar, aceitar-se, assumir e assumir-se como representante de um Deus que, de facto, não conhece, e levar uma vida que Cristo –que não inventei nem existiu nababo, guio-me pelo que está escrito e dito– repudiaria? Quem, melhor, para combater o aborto, do que o chefe de uma organização que recebe reis ditadores e que sustém o sémen, o desperdiça na masturbação, na homossexualidade e na pedofilia, ou o gasta nas filhas e nas mulheres dos outros?... Deus deu-lhes o pénis para mais que urinar, ou gastaria a mesma matéria com as santas.

Infelizmente, pouca gente interrompe a gravidez por reflexões profundas; por interesse dos filhos, mas por interesse próprio. Como, por interesse próprio, se esgadanha quem quer que, mesmo sem condições, as criancinhas nasçam: com ou sem saúde, com ou sem babysitter; com ou sem infantário; com ou sem amor, sem mãe… Talvez, até, eternos segregados –excluídos, é o termo em voga–, que, na corrente do tempo, entre prejuízos e proveitos, serão depositados em lares sem condições nem afecto, ou ao relento ou em salões de palácios sem festas, consumidos pelos dias amargos do regresso.

Pergunto pela razão da água-benta e do pecado da origem, e os ladrões de todas as infâncias, saboreando o travo do último ludíbrio, só me dizem ser crime impedir o nascimento às criaturas; que a vontade de Deus tem que ter cumprimento, porque o curso da Vida não pode ser interrompido. E eu digo que o Deus de que padecem não deixou outra escolha, e que apenas agora é possível fertilizar in vitro –também sem autorização da vítimas–, fracassando a razão para o primeiro pecado instituído e para a indiciação e a arguição dos inocentes que carregam, indefesos, o crime que ninguém terá cometido, porque foi o Deus deles quem jogou e perdeu. De tal modo, que o Mundo, onde toda a felicidade seria possível –essa coisa da Alice–, se tornou a felicidade aparente de poucos e o feudo de difícil habitabilidade, porque Deus é satírico –valha-nos isso– e traçou os caminhos de forma que convirjam, sendo penoso observar o esforço dos que procuram ter tudo e que acabam expostos e prensados pela ambição sem tempero.

Que diz ou o que faz tal Deus –ou o que pensam eles –, quando a anormalidade, detendo poderes, coarcta e ostracisa e impõe, interessada e decretadamente, todas as obediências, como se cada qual não tivesse mais que o lugar reservado sob o jugo? Por que razão as mães não podem decidir do útero, se os pais decidem sem consulta, como se a coisa só tivesse vida dez ou doze semanas depois e os testículos ficassem isentos da responsabilidade imposta ao ventre, enquanto outros, nem sequer afins, jogam todas as vidas sem que elas, por qualquer ligação, lhes pertençam?...

A Vida nem começa nem acaba. Tem estádios. A Vida é vida desde o primeiro dia. Assim a borboleta é desde a larva, e a larva desde o ovo, e o ovo desde a matéria dos confins da Vida… Eu sou a criança e o girino, ou o pai era pai de coisa nenhuma e, na conversa, seria só autor de perdigotos.

Agora Deus… O Outro. A Energia que não tem culpa; que não tem nem igreja nem subterfúgio; que vive nos espaços abertos; não restringe audiências nem delega a palavra. Nem rei nem fautor do Universo, por ser Deus, Energia, o Universo mesmo.

O outro é o que inventou e condenou a cópula –de que isentou Maria, conspurcando as outras– e condenou o aborto; que precisou do Adão do Diabo e da Eva; que envenenou a maçã e a árvore, e que obriga ao baptismo, para redenção, os seres sem consciência nem voz para aceitar ou recusar as vontades… Esse Deus mitológico que, em Abraão, duvida de Si mesmo e que, impotente ou sado-filicida, permite, à Igreja, crucificar-lhe e agonizar-lhe o Filho, sofrido, de aluguer, pela mesma Maria e por José, e sem que nenhum dos três tivesse pecado, porque o pecado, por Outrem inventado, sobreviver-lhes-ia.

O Outro, é o Deus isento e verdadeiro; o Engenheiro que deixa, ao escorpião, a dignidade e o suicídio, quando a esperança é o cerco de fogo…

Anónimo disse...

já era nascido o srº eduardo pitta aquando do outro referendo acerca da mesma matéria com a mesma pergunta?
o srº eduardo pitta não compreende o alcance da pergunta?
o srº eduardo pitta vive em portugal há quantos anos?

o srº eduardo pitta é certamente capaz de melhor, além de repetir os ditos dessa luminária da vida infeliz portuguesa que é o sr nuno melo.
já basta um...

Anónimo disse...

Bom, eu, por acaso, gostava de ver um inquérito daqueles de rua e onde é normalmente mostrada uma aflitiva ignorância sobre o mais básico, num canal de TV à escolha, em que fosse perguntado aos passantes: sabe o que é a interrupção voluntária da gravidez?

Anónimo disse...

Perdão, perdão, esqueci-me da palavra "despenalização".

Então seria assim: no entender do senhor/da senhora, o que é a despenalização da interrupção voluntária da gravidez?

Anónimo disse...

pois, porque as pessoas quando não compreendem aquilo que lhes é perguntado oferecido dado, dizem logo imediatamente que SIM.

não os/nos façam parvos.

Anónimo disse...

iupi (não estou para me chatear a contar os i e os u) é que pretende fazer dos outros parvos.

Está apenas sugerido repito sugerido que a pergunta não estará ao alcance do entendimento de muito compatriota nosso. Não se sugere que isso influencie a resposta seja em que sentido fôr.

Anónimo disse...

... e o mais natural será obviamente que favoreça a ABSTENÇÂO.

Anónimo disse...

não se chateie que eu também não, caro anónimo das tantas horas, que não está para se chatear.
só acho que os portugueses, apesar de tudo nossos compatriotas, nestes ternmos não sofrem de ileteracia (é feia a palavra)

Anónimo disse...

É feia porque não se escreve assim.
Escreve-se: iliteracia. Tomaste nota, pá?

Anónimo disse...

tomei, colher. é mais feia.