23.6.04

NA MESMA

O Dr. Telmo, uma insuportabilidade convencida que chefia o PP no Parlamento, explicou ao país que o seu partido não perdeu nada nas "europeias". Sem máquina de calcular e com papel, Telmo devolveu o desastre do dia 13 inteiramente ao PSD. Na sua matemática, o PP deve valer uns 10 % e, tivesse ele avançado sozinho, os dois deputados que sonegou ao PSD em coligação, de qualquer maneira, seriam sempre seus. É com esta aritmética, imagino, que o Dr. Nobre Guedes, outra luminária do grupo e assaz próximo do "querido líder", prevê uma coligação para 20 anos! Um ironista inesperado, este Guedes. Entretanto, para esconder o transe governativo e distraír os mais atentos do lento desmembramento da "força Portugal", foram postas em marcha umas quantas manobras de informação e de contra-informação, ligadas, umas, à coligação, e outras relativas ao primeiro-ministro. Este já deve ter percebido que o "aparelho laranja" não vê a hora de se ver livre dos amigos do Dr. Portas, com ele naturalmente à cabeça. Daqui para diante qualquer pretexto vai servir e, no momento adequado, ninguém chorará a coligação. A curta matemática do Dr. Telmo foi, nessa medida, uma preciosa ajuda. Por outro lado, e para que o país compreenda o grande estadista que tem à frente do seu governo, foi criada esta extraordinária "história" da presidência da Comissão Europeia para Barroso. Pelo caminho, como era de esperar, ficou Vitorino de novo a despontar para o anonimato. A volúpia silenciosa de Barroso é particularmente eloquente. Em condições "normais", o primeiro-ministro já teria vindo confirmar ou infirmar a consistência do ruído, dada a suposta importância do cargo de chefe do executivo, e reafirmar que "estamos em boas mãos". Contudo, graças ao estado anestésico deliberadamente alimentado pelo governo em torno do Euro, o país encara com indiferença e ignorância estas peripécias puramente "políticas". Se quisermos ver as coisas pelo pior lado, dir-se-ia que o "futuro" de Durão Barroso não é manifestamente uma preocupação concreta dos portugueses. Eu suspeito que tudo isto não passa de um "teste" que Barroso impôs a si próprio e aos seus infelizes acólitos. Quando tudo virar poeira, deverá seguir-se o conselho de Lampedusa. Barroso mudará alguma alguma coisa para que tudo fique na mesma.

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