9.7.09

O PORTUGAL DA D. CELESTE E O OUTRO


«Fui anteontem à Figueira da Foz por uma auto-estrada deserta. Literalmente deserta: um camião ou outro, umas dezenas de automóveis, mais nada. A auto-estrada, claro, vai mudando de nome. Começa por se chamar A8, depois muda para A14 e acaba, salvo o erro, em A17. De qualquer maneira, começa quase à minha porta, em Lisboa, e só pára em Aveiro. É quase paralela à velha A1 do prof. Cavaco e parece que nasceu da exuberante cabeça do eng. Guterres (quem senão ele?) e que este Governo construiu o pouco que faltava. A ideia de uma auto-estrada, por assim dizer, suplementar, ou concorrente - uma ideia de gente rica ou de gente pródiga -, não deve ser comum. Na Figueira, essa extravagância vem sempre à conversa (à frente de estranhos) entre o desdém pelos poderes que misteriosamente a conceberam e o habitual desconsolo com disparates de Lisboa e da Pátria. (...) Que lhe pode trazer um novo regime: uma terceira auto-estrada? (...) O que apetece é de facto aproveitar a auto-estrada deserta (A8, A14 e A17) e ir comer as sardinhas da D. Celeste.»

Vasco Pulido Valente escreveu isto no Público há aproximadamente um mês. Hoje sou eu quem regressa à Figueira para algo que, em 81 ou 82, me pareceria altamente improvável. No mesmo Casino onde, nessa altura, assisti a dezenas e dezenas de filmes aquando do então Festival de Cinema, existe uma Galeria Casino. Aí, pelas 18.30, falaremos do Portugal dos Pequeninos (o livro ali à direita) que é como quem diz, de Portugal, numa sessão promovida pela Livraria Casa Havanesa. Depois da D. Celeste Russa, naturalmente, e das suas sardinhas.

9 comentários:

Unknown disse...

Para quando uma apresentação no Porto?

Obviamente demito-o disse...

Uma maravilha essa auto-estrada, deserta tal e qual como é descrita, o meu carro de sucateiro em segunda-mão parece um TGV, chega-se a Lisboa num saltinho.
Temos o Cristiano Reinaldo e temos as nossas auto-estradas. Orgulho da nacinha.

João Saltão disse...

A Figueira da Foz emerge de vez em quando da sua apagada vã e atlântica imensidão, para a "ribalta" da nação, pelas mais diversas razões, desde a acção de Manuel Fernades Thomaz (figura do liberalismo português vintista e um dos principais mentores da Revolução de 1820), até ao feliz evento da apresentação do Portugal dos Pequeninos e da sua "circunstância", pelo João Gonçalves, que hoje acontece no Casino da Figueira, onde estarei presente com muito gosto, apesar de estar a escrever este comentario em Lisboa onde resido.

Naturalmente que entre a intervenção liberal de Fernandes Thomás em 1820 e a apresentação do Portuga dos Pequeninos por João Gonçalves (repositório lúcido e independente da democracia que não sabemos se é), nesta mui grande e atlântica cidade da F. Foz, muitas coisas aconteceram, desde o advento da praia social dos anos 50/60/70 (povoada com elegancia beirã e espanhola de burgueses e aristrocatas), pelos festivais da canção nacional, pela Maria Clara imortalizando a cidade com a sua canção "Figueira", com as incursões sublimes de Jorge de Sena em "Sinais de Fogo", tudo à volta do Grande Casino Peninsular no tempo do Pateo das Galinhas e das noites de Espanha.

Mas o que de facto me despertou e incendiou a inquietação de jovem deslumbrado à época, foram os anos férteis de 70, com o Festival de Cinema, que trazia à Figueira em cada fim de verão os sortilégios suavede Setembro, que o João Gonçalves teve a felicidade de viver e relembrar a partir daquele olhar do mar imenso do muro frente ao Grande Hotel.

Mais tarde a Figueira veio a ser palco de algumas euforias do regime, desde a rodagem do Citroen até à constituição/excitação de uma espécie de Marbella Atlântica.

Como indefectivel seguidor do Portugal dos Pequeninos, estarei hoje no Casino para o ouvir e felicitar.

Há, e já agora, experimente, se puder, os peixes e mariscos da Rosa Amélia, irmã e rival da D. Celeste, que para além da gastronomia pode cruzar-se com a protagonista que lhe fará as honras da casa e um pouco da história popular de Buarcos e Figueira.

João saltão
http://lusitaneaexpresso.blogspot.com/

Anónimo disse...

então afinal a Dra MFL já não rasga nada?
afinal é só mudar o estilo para reformas com simpatia?
hum... está-me a parecer que a verdade também não é lá grande coisa para aqueles lados

Karocha disse...

Boa viagem JG e, que corra tão bem como em Lisboa.

Anónimo disse...

Eu gostaria imenso de o conhecer, já que é de todos os bloguers aquele cujos posts assinaria na totalidade.
Acontece que: Às 18:30?
Só mesmo morando na Figueira!
Ou estando desempregado, ou
Talvez um dia com o TGV, sei lá...

joshua disse...

Essas auto-estradas fazem-me fome e dão-me azia. O dinheiro está em fuga acelerada de Portugal: por isso estão certas estradas vazias. Fugiram todos por elas para nunca mais.

Chloé disse...

Também queremos.
Em Coimbra há uma certa direita que não falhava. Há mais mundo para além dos livros que ardem mal;)

fado alexandrino. disse...

A A23 também têm escasso trânsito e fazem-se dezenas de quilómetros sem encontrar ninguém.

Também vão dizer que não devia ter sido feita?

Um dia um amigo disse-me, Portugal não é Lisboa, e Lisboa não é o Terreiro do Paço.
Pensem nisso.