17.7.09

FIGUEIRA - 2


«“Lisboeta militante”, João Gonçalves contesta no entanto “essa mania de só se poder debater o país a partir de Lisboa, e de dois ou três canais de televisão, por duas ou três pessoas que saltitam entre esses canais”. À plateia que marcou presença no Casino Figueira para privar com o conhecido bloguista, João Gonçalves apelou: “Esqueçam o país que vos chega pela televisão… esse é um país «mentido», para utilizar a expressão de um poeta português, e que só existe na cabeça dos políticos… e é dos poucos que têm cabeça”. No blogue, João Gonçalves encontrou o meio de passar o que lhe interessa: “a mensagem”. Avesso a redes sociais como o Facebook, ou a meios de comunicação imediatistas, como o Twitter, o autor rendeu-se à blogosfera, onde – apesar de tudo – a mensagem permanece. “Em Portugal, mais do que mensagem, há muita massagem”, ironizou, crítico da “invasão do futebol”, da “pouca originalidade” dominante e de “uma espécie de língua de pau muito maçadora e absolutamente inútil para a maioria das pessoas”, mas com que estas parecem “viver bem”, a julgar pela “abstenção no último acto eleitoral”, que não acredita que se altere significativamente nos próximos. “Nos últimos quatro anos há como que uma anestesia cívica”, lamentou, afirmando que “o país está num momento paradoxal, e a precisar urgentemente de reflexão”. Dando a cobertura mediática da transferência de Cristiano Ronaldo e a morte de Michael Jackson como exemplos da “infantilização da vida pública nacional, ao fim de 35 anos de democracia”, João Gonçalves não arrisca dizer que o país “estava melhor há 20 e tal anos, porque o decurso do tempo traz coisas boas e más”, mas questiona se as pessoas estão, hoje, “melhor do que em 2005”. E, à pergunta da plateia, sobre como se altera o estado de coisas, João Gonçalves não teve dúvidas: “votando”. Para o autor, o voto “é o que a democracia nos permite” e, “ainda que não goste do regime”, que considera “o regime da contingência” e “nebuloso por natureza”, João Gonçalves não acredita nem em novos partidos nem em plataformas.»

Semanário O Figueirense, 17.7.09 (lembranças para os amigos da Figueira, em especial o Almocreve, e para o Pedro Santana Lopes que sabe porquê)

3 comentários:

Observador disse...

O que vale é o seu blog para podermos respirar ar puro, livre da poeira da demagogia dos marketeiros politicos que nos martela diariamente via este governo.
Muito Obrigado

radical livre disse...

óptimo o retrato "à lá minuta" que 4 anos de só cretinismo
que desgraçaram o país para as próximas décadas.

infelizmente a corrupão é generalizada

justiça, saúde, educação
ficam para próxima geração

gostava tanto de ser positivo mas não tenho por onde pegar

o Papa partiu um pulso.
aos filhos da puta nada acontece de mal

zé sequeira disse...

Caro João

Não pude estar presente na apresentação do seu livro. Comprei-o na Bulhosa de EntreCampos (passe a despudorada publicidade) e li-o com o mesmo prazer que diariamente tenho ao entrar neste espaço.

Comentário ao post:


Leio no "i" que o Presidente da CML, António Costa, definitivamente borrado de medo pelo que nós sabemos, vai pôr a EMEL a elaborar um audacioso plano de controlo do trânsito lisboeta com isto, mais aquilo, blá, blá, blá. Talvez para esquecer o despudorado apoio que deu ao ruinoso negócio do porto de Lisboa, que, segundo o Tribunal de contas, só favorece a Liscont, ou ao aeroporto na Ota, enfim, na altura em que as sondagens mandavam apoiar incondicionavelmente o "engenheiro", vem agora com umas críticas pifias ao governo (resultado das europeias oblige) e mais a velha conversa da união da esquerda, tão do agrado do bonzo Alegre, o mesmo que em 75 mandou fechar o Século (porquê este e só este), mandando para o desemprego centenas de trabalhadores.

Para mim... "tarde piaste". Acho que os lisboetas não são parvos e - sobretudo - não apreciam por aí além quem os quer tomar por parvos. Estamos fartos de powerpoint's e queremos mudanças efectivas que transformem esta cidade em algo melhor do que tem sido e, basta conversar um pouco com jovens, convenhamos, numa época em que conceitos como esquerda e direita têm pouco ou nenhum significado.

Podemos achar que o tipo, que tanto pânico causa a António Costa, tem muitos defeitos. Não deixa de ser verdade. No entanto, voltando ao parágrafo inicial, relativo ao trânsito, foi o único que teve tomates para o limitar a residentes nos bairros históricos, mesmo perante os protestos dos que estavam habituados à conversa mole e pouca obra dos anteriores executivos. Este feito (e não conversa fiada) ninguém lhe tira. O resto é só música.

José Sequeira

(nome de baptismo do escoria-porco)