27.7.09

UMA LEITURA E UMA AMIGA


A Joana deu-se ao trabalho de ler, com manifesta minúcia, o livro ali à direita. Que eu desse por isso, deste microcosmo, foi a única. A Joana sustenta uma presença discreta e quase silenciosa nesta nossa blogosfera tão tagarela e superficial. E, depois, tem sempre uma "vista" invejável para o Tejo. É uma amiga que isto me trouxe para compensar, de alguma forma, os que isto tem levado. Os amigos são os que nos aturam à medida que o círculo se fecha sobre si mesmo. A Joana é uma delas. Ela sabe (como sabe) que não tenho nada para a troca.



«Um olhar muito próprio, impiedoso e cortante, e de um apurado sentido crítico que o impede de ceder a qualquer tipo de complacência ou, usando as suas palavras “respeitinho”, seja por pessoas ou por instituições (1). Desmonta impiedosa e lucidamente as intenções e os mecanismos decisórios (2), denuncia os falsos ídolos (3) e denuncia pressões políticas de vários tipos a vários organismos ou instituições (4). O retrato traçado ao longo das páginas do livro destes últimos anos é um retrato desencantado de um país errático que não se encontra nem se sabe. JG não esconde o seu desencanto pelo regime que sustenta a nossa democracia, parece que o considera esgotado, ou pelo menos exausto (5) e esse desencanto e desalento muitas vezes surgem como premonitórios pois é apartir do presente que JG projecta no futuro (6) um insucesso, uma derrota ou ainda mais um impasse, que infelizmente se confirmaram.Todas estas críticas políticas assentam numa visão também ela desencantada do mundo actual e JG é especialmente perspicaz nos retratos “psico-sociais” - uso o plural pois JG sabe distinguir os diferentes tipos que fazem a aparentemente colorida e heterogénea sociedade (no fundo tão igual) - com os seus tiques comportamentais e as suas modas, bem como na crítica de costumes (7). No entanto, o que dá substância - matéria e alma – ao seu olhar crítico e desencantado sobre o nosso país pequenino e sobre a sociedade actual é a fé e a defesa aguerrida dos valores que considera básicos na civilização ocidental: o primado do Homem, a liberdade e a defesa da vida. São estes os pilares em que assenta o seu olhar e que impede os seus textos de se tornem estéreis, frios e (des)almados como se fossem meros exercícios de deprimida retórica política e social. JG acredita na liberdade que se conquista com o saber e com o pensar, e os seus textos são sempre estímulos e provocações, nem sempre simpáticas, nem sempre de agradável leitura, nem sempre óbvias a que se aprenda e se pense, quanto mais não seja para dele discordar. (Notas:(1) pág.126 “Emporio”, pág. 135 “Querido Líder”, ...(2) pág. 148 “Os ‘Testes de Credibilidade’”, ...(3) pág. 200 “Wotan/Sócrates”, pág. 225 “o Ministro TOYS R US”, pág. 286 “O Mundo Segundo Sócrates”, pág. 265 “AGITROP”, pág. 400 “Soares e os Males da Existência”, ...(4) Pág. 243 “A Senhora Diectora”, pág. 218 “Inala sem Engolir”, ...(5) Pág. 290 “Pensar Nisto”, ...(6) Pág. 125 “O Homem Médio”, pág. 143 “Sócrates e o Lugar-Comum”, ...(7) Pág. 231 “Os Novos Monstros”, pág. 236 “Sampaio, o Outro”)»

1 comentário:

joshua disse...

Não gosto quando tens desabafos solitaróides. Tens fans que, se pudessem, te comeriam vivo no bom sentido do saber convivido e partilhado. Como não podem, contentam-se com o beber-te as palavras proféticas.