10.7.09

LIVROS COM PIMENTOS NA BRASA


Já tardava uma prosa. Tem Mónica a mais e Flaubert a menos. «Um dia, Blanchot perguntou e respondeu: «Para onde vai a literatura? Vai direita a si mesma (…) direita à sua essência, que é a sua desaparição.» Ora o meu livro preferido é próximo da ideia de Blanchot: «Bouvard et Pécuchet». Um livro sobre a cópia que contém a cópia que contém a cópia e em que dois patetas estão permanentemente enredados numa questão de fundo que não tem fundo mas convencidos que no fundo, esse fundo existe e até se explica. É um livro sobre a linguagem? É sobre tudo, sobre nós e eles. Oh, é muito sobre nós que dizemos e escrevemos «eles». Diz-se: Bouvard et Pécuchet, obra-prima de ironia, claro que sim, mas o principal é aquela inutilidade toda, acumulada, um caminho idiota, ou antes, sem ponta por onde se lhe pegue.» Toma lá, então, da Duras e antes dos pimentos assados: «Vous y allez tout droit à la solitude. Moi, non, j'ai les livres.»

Adenda: Uma sugestão de leitura aqui.

1 comentário:

joshua disse...

Luminosa essa leitura. Gostei de reencontrar e compreender a semiótica profunda da sacrificialidade (touro e homem) como Sentido da lide tauromáquica. Brava escola de Morrer nunca em vão, e de Perdurar. O velho e vital enfrentamento cara a cara com a Morte, como supremo erotismo, encerra tudo, porque «...na morte sacrificial, a vida continua para além, sempre para além...»