16.4.09

TENHAM JUÍZO


Por falar em livros, leio num rodapé de um telejornal que a apresentadora Júlia Pinheiro vai escrever (ou já escreveu) um "romance". Suponho que a D. Júlia ignora o que é um romance e o que representa escrever. É um insulto à nobre arte do romance - que, por exemplo, levou Proust a estar fechado dias e dias a fio num quarto, literalmente em sofrimento (porque a literatura a sério é dor, é pânico, é luz e é sombra), para perpetrar a sua monumental Recherche - pensar-se que pessoas como a D. Júlia (e, no masculino ou no feminino, é o que há para aí às resmas, com o preocupante detalhe, revelado outro dia por Manuela Moura Guedes que teve o bom senso de recusar, de as editoras "proporem" a jornalistas que escrevam "romances"...) possam "escrever" o que quer que seja quanto mais romances. Tenham juízo.

7 comentários:

garganta funda.... disse...

Estamos numa trivial época onde qualquer "cabeça de atum" escreve um livro ou um "romance"...

Já tínhamos os casos patológicos e reincidentes do MST e do JRS da RTP, e agora só faltava a D.Júlia...

"Este" país está necessitado dum Provedor para a Literatura...

Diogo Torralva disse...

nao sei
com aquele programa da tarde cheio de historias da vida: sexo, faca e alguidar, vitimas de larapios, estropiados...
nao lhe ia faltar material
sei la, "Cronicas da republica portuguesa no virar do seculo, suas miserias e alegrias"
ou entao algo do tipo Tchekhov, que com a crise nao é despropositado imaginar um drama familiar a volta da hipoteca, em vez de Ginjal(relogio da agua)/cerejal(campo das letras) seria PERA ROCHA

o joao podia fazer de Lopákhin


Diogo Torralva

Cáustico disse...

Diz-se para aí que passa inutilmente por este mundo o homem que não cria um filho, não planta uma árvore ou não escreve um livro.
Ajudei a criar o meu filho, plantei algumas árvores mas não escrevi nenhum livro. Não escrevi nem escreverei, simplesmente por falta de capacidade para o fazer.
Reconheço, no entanto, que não é absolutamente necessário, para escrever um livro, a existência de preparação académica superior. Haja génio.
São muitos os escritores de mérito, que fizeram obra admirável apesar de não terem preparação superior. Estou a recordar-me, neste momento, de António Aleixo, que não sendo escritor, deixou obra da qual retiro, para meditação das pessoas pseudo importantes deste país a começar pelos políticos:
Sei que pareço um ladrão/Mas há muitos que conheço/Que sem parecerem o que são/São aquilo que pareço

Anónimo disse...

A falta de juízo está nos "leitores" que compram estas m****s, eventualmente para ler... Por isso é que estes "famosos", tipo D. Júlia resolvem "atirar-se à máquina de escrever" nos tempos livres. Um dinheirito extra dá sempre jeito e há que aproveitar a "famosisse"... Não dura sempre!

PC

Miguel Neto disse...

Esse livro tem tudo para ser um sucesso: autora é um rosto querido da TV; a "obra" será um romance; o nível cultural e a exigência do público em geral está quase ao nível (um pouco acima) do orangotango ... Se qualquer trolha que saiba dar uns chutos numa bola (e que julga que a 1ª pessoa do plural é "a gente") pode escrever um "best-seller", porque não haverá de o conseguir uma famosa apresentadora?

Vai ser lido por muitos, a não ser que o romance tenha mesmo qualidade.

Anónimo disse...

Não é que se esqueceram da Dona Fátima?!

Anónimo disse...

Neste contexto de escrever romances, pergunto: o que é «un nègre»? Em português qual é a expressão adequada equivalente? Obrigado.