Este post é duplamente interessante. Não é vulgar um tipo com menos de vinte anos, hoje, cercado por todos os lados pela mais reles tagarelice correcta, escrever o que ele escreve. Chapeau.
17 comentários:
garganta funda....
disse...
Cientificamente o aborto corresponde a uma morte provocada dum ser vivo, que o impede de desenvolver na sua plenitude.
Moralmente é condenável, pois vai contra todas as conquistas que a humanidade conseguiu desde que é humanidade.
Jurídicamente o aborto deve ser tipificado como um crime - que o é!- salvarguadando algumas excepções de limite e que podem atentar contra a própria vida doutro ser humano (a mãe, como era o caso da menina de 9 anos no nordeste brasileiro).
Os próprios animais irracionais têm "consciência", para além do instinto natural, de preservarem a sua própria espécie.
Toda a propaganda do "sim" ao aborto e bem assim toda a sua "implementação" no sistema nacional de saúde foi das coisas mais vergonhosas que este país já assistiu.
Penalizava-se e penaliza-se quem quer ter filhos e tem-se facilitado o aborto a eito.
Esta cultura de morte e de desumanização crescente da sociedade crescente é também um dos legados desta governação catastrófica e imoral.
Isto não tem nada a ver com religião ou igrejas.
O aborto tem a ver com princípios que deviam ser seguidos por todos: a dignidade humana e a defesa dos Direitos Humanos.
É incrível como muito boa gente defende - e muito bem! - a vida de espécies animais em extinção, e ao mesmo tempo deita para o lixo biodegradável fetos humanos...
Mesmo que o Estado não reconheça, o ABORTO é igual à MATANÇA dum SER HUMANO, e se para alguns trogloditas não é morte, pelo menos impede que o mesmo venha a viver.
Aborto = Morte.
Isto é científico.Provado.Inquestionável.Queira o Estado ou não. Queiram os cidadãos de má consciência, aceitar ou não!
O Tiago faz parte das minhas leituras obrigatórias e também das minhas opções afectivas desde o princípio. É um conforto que ele Pense, quando outros ressonam ou ressoam como pífios gongos de glória banal.
Parto do principio que subscreve o post que citou.
A linha argumentativa do mesmo baseia-se nisto:
O aborto representa uma privação de uma futura vida (isto é óbvio).
A privação de uma futura vida é algo moralmente errado e equiparável ao assassínio ("então a pergunta que se coloca é: qual é a diferença substancial entre matar e não permitir que se viva? Não há diferença.").
Esta última parte é um disparate total. É que "privação de futura vida" é também consequência de qualquer método contraceptivo, coito interrompido, e a abstinência sexual.
Apesar da qualidade do texto para um rapaz com menos de 20 anos, não deixa de ser um texto que simultaneamente contém ingenuidade e ideias envelhecidas. É, basicamente, retórica.
Fiquei estarrecido com os argumentos que se esgrimiram durante a "campanha" para o referendo, que nunca passaram do moralismo palerma e das causas fracturantes... Ninguém percebeu a questão essencial: que independentemente de ser correcto ou incorrecto se FAZ NA MESMA - e em condições degradantes, perigosas e traumatizantes. Para não falar que dá azo a um negócio oportunista e horripilento. Não preferem que seja feito em condições de higiene e segurança, incluindo acompanhamento psicológico que até pode evitar que muitos sejam feitos? É melhor fazê-lo num vão-de-escada do que num hospital público onde inclusivamente se pode tentar encontrar soluções para uma mãe através do encaminhamento para outras instituições?
Eu sou contra o aborto, mas fui e sou a favor da sua despenalização na sequência das ideias que acabei de enunciar. Não votei a favor por achar que é uma questão filosófica - votei a favor porque acho que é uma questão de saúde pública. E de maturidade. Não creio que alguém faça um aborto de ânimo leve, nem creio que a despenalização acarrete des-responsabilização do acto. A questão é que passa de um acto reprovado socialmente (de forma hipócrita, diga-se) para um acto de livre-arbítrio. Parece-me que está melhor assim.
Aliás, se se provar que não está, pode sempre voltar a proibir-se, a castigar-se e a tornar mais miserável a vida dos que já estão vivos.
Há, ainda, o uso e abuso dos meios de saúde públicos tão escassos para a grande maioria dos utentes e sempre de perna aberta, mesmo para algumas meninas que resolveram não usar qualquer anti-conceptivo. Hoje,já há muitas repetentes, enquanto outros utentes esperam, esperam e desesperam.
Obrigado ao Joaquim e à Lura do Grilo pelos simpáticos comentários.
Alexandre o médio:
Não, não é disparate. Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum. E essa nova coisa vai, se o curso das coisas for o normal, dar lugar a uma pessoa. Um espermatozóide, sózinho, nunca dará lugar a nada...
Anónimo das 9:03,
Isso de ter menos de 20 anos é confusão do João, coisa que ele ainda tem de me explicar. De qualquer modo, toda a gente fez essa observação na altura do referendo. Agora, o facto de o aborto se fazer não justifica nada. Repare, sempre se roubou, mas isso não significa que roubar seja uma coisa 'certa' ou, pelo menos, de moralidade nula, pois não? Já pensou o que seria eu pedir um referendo pela legalização do assalto, para que os assaltantes não tenham de trepar paredes com risco de cair e partir uma perna ou que não tenham de se deparar com tugas raivosos de espingarda em riste? O facto de uma coisa se fazer não lhe dá moralidade nenhuma, por isso, pouco me importa se já se fazia abortos e se se continuam a fazer. O que interessa discutir é a moralidade do acto.
O que está em latim veio do grego: ὅπερ ἔδει δεῖξαι (hoper edei deícsai). Enfim, «"demonstrated in geometrical order", with axioms and definitions followed by propositions.».
Respeito a sua opinião, mas depois dos argumentos que tive o trabalho de construir, você arruma a questão dizendo que nada interessa senão discutir a "moralidade do acto"... ???
Fico verdadeiramente sem palavras: eu estou a falar de vidas reais e vocemessê está a falar de livros.
Eu acho que o faz por não querer lidar com a questão verdadeira, e apenas está a defender princípios estéticos, coisas de linguagem e afins (para não falar do aspecto psicológico da dominação do Pai). Isso não é honesto. O problema dos liberais é que nunca falam de coisas concretas, mas de episódios que apenas funcionam no registo elevado da linguagem - mas nunca no registo da Vida: a vida das pessoas (aquela que é vivida).
Portanto, não deve dar lições sobre o que é a Vida a ninguém.
A questão do aborto é uma questão de saúde. Não uma questão de moral. Tentei explicar a minha ideia antes. Admito que não seja boa, mas parece-me honesta.
A sua questão de moral de base (a vida pura e simples) vale tanto como achar bem que enviar 300 soldados para uma guerra santa faz parte de um acto de moralidade.
Percebe do que estamos a falar?
Uma vida vale uma vida ou uma vida tem um valor diferente consoante a questão de que estamos a tratar?
Espero que responda ao nível do que estou a perguntar.
Antes de responder, deixe-me dizer que os meus textos dão azo a interpretações muito distintas. O senhor diz que o que sei vem dos livros, um tal de Dinis, no Corta-fitas, apostou que eu nunca tinha lido um livro na vida. Sou controverso, é uma realidade. Desabafos à parte, voltámos ao mesmo. Eu não quero discutir em que termos é que as mulheres fazem abortos, o que eu quero discutir é se elas o devem ou não fazer. Quero analisar o princípio ético (e não estético, que um aborto deve ser bem feio de se ver) e só depois de o analisar é que posso passar às questões seguintes (se for errado, criminalização, se for certo, preocupação com as condições em que é feito). Eu não acho que enviar 300 soldados para uma guerra santa faça parte de um acto de moralidade, aliás, tenho sérias dúvidas se há alguma guerra aceitável, eticamente falando.
O problema do Anónimo (desculpe, sei que é desagradável mas não lhe sei o nome) e de outras pessoas que estiveram no debate de há dois anos é que passa por cima da questão moral e vai logo para a questão prática. Argumentos do género foram os do PCP: "as ricas vão a espanha, as pobres ficam cá", por exemplo. Não se perguntaram se as ricas que vão a Espanha estavam a fazer bem, apenas quiseram saber que elas iam e que, por isso, as outras também deviam ir. Olhe uma analogia: os ricos vão para os offshores para não pagar impostos, então os pobres também deviam ir. See? Não se analisa se o offshore é por princípio certo ou errado, apenas a questão prática é analisada.
Continuo a afirmar que, antes de tudo o resto, o aborto é uma questão ética e é enquanto questão ética que deve ser analisado.
Vou, já agora, 'esquecer' a parte da desonestidade. Eu não fugi à questão. Aliás, se reparar, foi o Anónimo que fugiu, pois o meu texto inicial apenas se prende com principios éticos e o Anónimo começou a falar da saúde das abortantes.
Compreendo a sua posição. Eu próprio também prefiro discutir os princípios éticos das coisas antes de passar para a prática. Mas neste caso, e como não tem solução (ou tem duas tomadas de posição), a discussão nunca teria um fim e nunca se resolveria nada. A não ser que seja preferível não fazer nada, o que também não me parece correcto.
Sei que é indelicado dialogar sem-rosto, mas já que comecei anónimo, anónimo fico. O meu nome também é irrelevante, verdade seja dita.
"Não, não é disparate. Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum. E essa nova coisa vai, se o curso das coisas for o normal, dar lugar a uma pessoa. Um espermatozóide, sózinho, nunca dará lugar a nada..."
Quando existe fecundação, existe um "novo ser"? Diria antes que existe um óvulo fecundado por um espermatozóide, que poderá (se o processo correr bem) dar então origem a um "novo ser". E estás agora a usar uma argumentação que "prometeste" não usar no teu post inicial, e relembro o que disseste: "Suponhamos que não há realmente uma vida dentro do útero, que a vida é simplesmente potencial: virá no nascimento." Em que ficamos?
Este é de facto, o ponto crucial da questão: em que ponto do desenvolvimento do feto, o consideramos como vida humana, individuo próprio, detentor de direitos.
Agora, cabe à ciência um esclarecimento sobre este tema, sobre as características do feto ao longo do seu desenvolvimento, para podermos traçar uma fronteira mais ou menos certa, entre "indivíduo potencial" e "indivíduo". Esta fronteira, vamos concordar que existe? Que existe diferença entre um óvulo acabado de ser fecundado e um "bebé" de 8 meses dentro da barriga da mãe?
"Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum."
terás que defender a ilegalização da pilula do dia seguinte, um metodo abortivo.
Há que admirar (independentemente se se concorda ou não) a coerência do Vaticano, quando diz que a relação sexual só deve servir para procriar - é a consequência óbvia da defesa da "possibilidade de vida" como sendo o início da "vida", ou do "ser" propriamente dito.
Não discordo em nada do post citado e, no entanto, votei "sim" no referendo. Porquê? Antes de mais, porque o post falha o alvo: a questão do aborto não era a de saber se o mesmo pode ser eticamente aprovado, mas sim, se quem o comete, deve incorrer na prática de um crime. Ora para que o aborto fosse crime nas situações objecto da descriminalização tal implicaria a existência de um consenso social relativamente à necessidade de punir as mulheres que o cometem com pena de prisão. Foi essa falta de consenso - uma descriminalização social, se assim se preferir - que determinou a vitória do "sim". Como, aliás, já tinha determinado anteriormente que só uma percentagem ínfima das mulheres fossem acusadas, quanto mais, julgadas pelo crime em questão.
A abordagem ética importa - e muito - para outras questões: nomeadamente, saber por que raio é que os nossos impostos pagam o aborto. Nessa outra questão a resposta de um liberal é óbvia: não devem pagar, era só o que faltava. Mas os partidos de direita deixaram cair este tema. Fizeram mal.
17 comentários:
Cientificamente o aborto corresponde a uma morte provocada dum ser vivo, que o impede de desenvolver na sua plenitude.
Moralmente é condenável, pois vai contra todas as conquistas que a humanidade conseguiu desde que é humanidade.
Jurídicamente o aborto deve ser tipificado como um crime - que o é!- salvarguadando algumas excepções de limite e que podem atentar contra a própria vida doutro ser humano (a mãe, como era o caso da menina de 9 anos no nordeste brasileiro).
Os próprios animais irracionais têm "consciência", para além do instinto natural, de preservarem a sua própria espécie.
Toda a propaganda do "sim" ao aborto e bem assim toda a sua "implementação" no sistema nacional de saúde foi das coisas mais vergonhosas que este país já assistiu.
Penalizava-se e penaliza-se quem quer ter filhos e tem-se facilitado o aborto a eito.
Esta cultura de morte e de desumanização crescente da sociedade crescente é também um dos legados desta governação catastrófica e imoral.
Isto não tem nada a ver com religião ou igrejas.
O aborto tem a ver com princípios que deviam ser seguidos por todos: a dignidade humana e a defesa dos Direitos Humanos.
É incrível como muito boa gente defende - e muito bem! - a vida de espécies animais em extinção, e ao mesmo tempo deita para o lixo biodegradável fetos humanos...
Mesmo que o Estado não reconheça, o ABORTO é igual à MATANÇA dum SER HUMANO, e se para alguns trogloditas não é morte, pelo menos impede que o mesmo venha a viver.
Aborto = Morte.
Isto é científico.Provado.Inquestionável.Queira o Estado ou não. Queiram os cidadãos de má consciência, aceitar ou não!
Voltámos novamente ao breu das cavernas!
Donde tirou o João a ideia de que tenho menos de 20 anos? Ahah
Cumprimentos
O Tiago faz parte das minhas leituras obrigatórias e também das minhas opções afectivas desde o princípio. É um conforto que ele Pense, quando outros ressonam ou ressoam como pífios gongos de glória banal.
Caro joão,
Parto do principio que subscreve o post que citou.
A linha argumentativa do mesmo baseia-se nisto:
O aborto representa uma privação de uma futura vida (isto é óbvio).
A privação de uma futura vida é algo moralmente errado e equiparável ao assassínio ("então a pergunta que se coloca é: qual é a diferença substancial entre matar e não permitir que se viva? Não há diferença.").
Esta última parte é um disparate total. É que "privação de futura vida" é também consequência de qualquer método contraceptivo, coito interrompido, e a abstinência sexual.
Apesar da qualidade do texto para um rapaz com menos de 20 anos, não deixa de ser um texto que simultaneamente contém ingenuidade e ideias envelhecidas. É, basicamente, retórica.
Fiquei estarrecido com os argumentos que se esgrimiram durante a "campanha" para o referendo, que nunca passaram do moralismo palerma e das causas fracturantes... Ninguém percebeu a questão essencial: que independentemente de ser correcto ou incorrecto se FAZ NA MESMA - e em condições degradantes, perigosas e traumatizantes. Para não falar que dá azo a um negócio oportunista e horripilento. Não preferem que seja feito em condições de higiene e segurança, incluindo acompanhamento psicológico que até pode evitar que muitos sejam feitos? É melhor fazê-lo num vão-de-escada do que num hospital público onde inclusivamente se pode tentar encontrar soluções para uma mãe através do encaminhamento para outras instituições?
Eu sou contra o aborto, mas fui e sou a favor da sua despenalização na sequência das ideias que acabei de enunciar. Não votei a favor por achar que é uma questão filosófica - votei a favor porque acho que é uma questão de saúde pública. E de maturidade. Não creio que alguém faça um aborto de ânimo leve, nem creio que a despenalização acarrete des-responsabilização do acto. A questão é que passa de um acto reprovado socialmente (de forma hipócrita, diga-se) para um acto de livre-arbítrio. Parece-me que está melhor assim.
Aliás, se se provar que não está, pode sempre voltar a proibir-se, a castigar-se e a tornar mais miserável a vida dos que já estão vivos.
Cinco estrelas para o post linkado e para o garganta funda.
Há, ainda, o uso e abuso dos meios de saúde públicos tão escassos para a grande maioria dos utentes e sempre de perna aberta, mesmo para algumas meninas que resolveram não usar qualquer anti-conceptivo. Hoje,já há muitas repetentes, enquanto outros utentes esperam, esperam e desesperam.
Caríssimos,
Obrigado ao Joaquim e à Lura do Grilo pelos simpáticos comentários.
Alexandre o médio:
Não, não é disparate. Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum. E essa nova coisa vai, se o curso das coisas for o normal, dar lugar a uma pessoa. Um espermatozóide, sózinho, nunca dará lugar a nada...
Anónimo das 9:03,
Isso de ter menos de 20 anos é confusão do João, coisa que ele ainda tem de me explicar. De qualquer modo, toda a gente fez essa observação na altura do referendo. Agora, o facto de o aborto se fazer não justifica nada. Repare, sempre se roubou, mas isso não significa que roubar seja uma coisa 'certa' ou, pelo menos, de moralidade nula, pois não? Já pensou o que seria eu pedir um referendo pela legalização do assalto, para que os assaltantes não tenham de trepar paredes com risco de cair e partir uma perna ou que não tenham de se deparar com tugas raivosos de espingarda em riste?
O facto de uma coisa se fazer não lhe dá moralidade nenhuma, por isso, pouco me importa se já se fazia abortos e se se continuam a fazer. O que interessa discutir é a moralidade do acto.
Cumprimentos a todos,
TMR
É como eu digo: resistam ao 'Quod erat demonstrandum' do Tiago, se puderem, nesta matéria!
O que está em latim veio do grego: ὅπερ ἔδει δεῖξαι (hoper edei deícsai). Enfim, «"demonstrated in geometrical order", with axioms and definitions followed by propositions.».
Caro Tiago Ramalho.
Respeito a sua opinião, mas depois dos argumentos que tive o trabalho de construir, você arruma a questão dizendo que nada interessa senão discutir a "moralidade do acto"... ???
Fico verdadeiramente sem palavras: eu estou a falar de vidas reais e vocemessê está a falar de livros.
Eu acho que o faz por não querer lidar com a questão verdadeira, e apenas está a defender princípios estéticos, coisas de linguagem e afins (para não falar do aspecto psicológico da dominação do Pai). Isso não é honesto. O problema dos liberais é que nunca falam de coisas concretas, mas de episódios que apenas funcionam no registo elevado da linguagem - mas nunca no registo da Vida: a vida das pessoas (aquela que é vivida).
Portanto, não deve dar lições sobre o que é a Vida a ninguém.
A questão do aborto é uma questão de saúde. Não uma questão de moral. Tentei explicar a minha ideia antes. Admito que não seja boa, mas parece-me honesta.
A sua questão de moral de base (a vida pura e simples) vale tanto como achar bem que enviar 300 soldados para uma guerra santa faz parte de um acto de moralidade.
Percebe do que estamos a falar?
Uma vida vale uma vida ou uma vida tem um valor diferente consoante a questão de que estamos a tratar?
Espero que responda ao nível do que estou a perguntar.
Cumprimentos.
Moralidade?
Anónimo das 9:03,
Antes de responder, deixe-me dizer que os meus textos dão azo a interpretações muito distintas. O senhor diz que o que sei vem dos livros, um tal de Dinis, no Corta-fitas, apostou que eu nunca tinha lido um livro na vida. Sou controverso, é uma realidade.
Desabafos à parte, voltámos ao mesmo. Eu não quero discutir em que termos é que as mulheres fazem abortos, o que eu quero discutir é se elas o devem ou não fazer. Quero analisar o princípio ético (e não estético, que um aborto deve ser bem feio de se ver) e só depois de o analisar é que posso passar às questões seguintes (se for errado, criminalização, se for certo, preocupação com as condições em que é feito).
Eu não acho que enviar 300 soldados para uma guerra santa faça parte de um acto de moralidade, aliás, tenho sérias dúvidas se há alguma guerra aceitável, eticamente falando.
O problema do Anónimo (desculpe, sei que é desagradável mas não lhe sei o nome) e de outras pessoas que estiveram no debate de há dois anos é que passa por cima da questão moral e vai logo para a questão prática. Argumentos do género foram os do PCP: "as ricas vão a espanha, as pobres ficam cá", por exemplo. Não se perguntaram se as ricas que vão a Espanha estavam a fazer bem, apenas quiseram saber que elas iam e que, por isso, as outras também deviam ir. Olhe uma analogia: os ricos vão para os offshores para não pagar impostos, então os pobres também deviam ir. See? Não se analisa se o offshore é por princípio certo ou errado, apenas a questão prática é analisada.
Continuo a afirmar que, antes de tudo o resto, o aborto é uma questão ética e é enquanto questão ética que deve ser analisado.
Vou, já agora, 'esquecer' a parte da desonestidade. Eu não fugi à questão. Aliás, se reparar, foi o Anónimo que fugiu, pois o meu texto inicial apenas se prende com principios éticos e o Anónimo começou a falar da saúde das abortantes.
Cumprimentos.
Compreendo a sua posição. Eu próprio também prefiro discutir os princípios éticos das coisas antes de passar para a prática. Mas neste caso, e como não tem solução (ou tem duas tomadas de posição), a discussão nunca teria um fim e nunca se resolveria nada. A não ser que seja preferível não fazer nada, o que também não me parece correcto.
Sei que é indelicado dialogar sem-rosto, mas já que comecei anónimo, anónimo fico. O meu nome também é irrelevante, verdade seja dita.
Cumprimentos e Páscoa Feliz.
tiago,
"Não, não é disparate. Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum. E essa nova coisa vai, se o curso das coisas for o normal, dar lugar a uma pessoa. Um espermatozóide, sózinho, nunca dará lugar a nada..."
Quando existe fecundação, existe um "novo ser"? Diria antes que existe um óvulo fecundado por um espermatozóide, que poderá (se o processo correr bem) dar então origem a um "novo ser". E estás agora a usar uma argumentação que "prometeste" não usar no teu post inicial, e relembro o que disseste: "Suponhamos que não há realmente uma vida dentro do útero, que a vida é simplesmente potencial: virá no nascimento." Em que ficamos?
Este é de facto, o ponto crucial da questão: em que ponto do desenvolvimento do feto, o consideramos como vida humana, individuo próprio, detentor de direitos.
Agora, cabe à ciência um esclarecimento sobre este tema, sobre as características do feto ao longo do seu desenvolvimento, para podermos traçar uma fronteira mais ou menos certa, entre "indivíduo potencial" e "indivíduo". Esta fronteira, vamos concordar que existe? Que existe diferença entre um óvulo acabado de ser fecundado e um "bebé" de 8 meses dentro da barriga da mãe?
Cumps
E tiago, para seres coerente com isto
"Um espermatozóide é uma célula minha, tal como o é uma célula da pele. Matá-lo é, se quiser, matar-me e não matar outro. Agora, quando há fecundação, julgo que é consensual que há um novo ser, algo alheio aos progenitores, mais não seja por ser um produto de ambos e, por isso, não ser uma verdadeira extensão de nenhum."
terás que defender a ilegalização da pilula do dia seguinte, um metodo abortivo.
Há que admirar (independentemente se se concorda ou não) a coerência do Vaticano, quando diz que a relação sexual só deve servir para procriar - é a consequência óbvia da defesa da "possibilidade de vida" como sendo o início da "vida", ou do "ser" propriamente dito.
Não discordo em nada do post citado e, no entanto, votei "sim" no referendo. Porquê? Antes de mais, porque o post falha o alvo: a questão do aborto não era a de saber se o mesmo pode ser eticamente aprovado, mas sim, se quem o comete, deve incorrer na prática de um crime. Ora para que o aborto fosse crime nas situações objecto da descriminalização tal implicaria a existência de um consenso social relativamente à necessidade de punir as mulheres que o cometem com pena de prisão. Foi essa falta de consenso - uma descriminalização social, se assim se preferir - que determinou a vitória do "sim". Como, aliás, já tinha determinado anteriormente que só uma percentagem ínfima das mulheres fossem acusadas, quanto mais, julgadas pelo crime em questão.
A abordagem ética importa - e muito - para outras questões: nomeadamente, saber por que raio é que os nossos impostos pagam o aborto. Nessa outra questão a resposta de um liberal é óbvia: não devem pagar, era só o que faltava. Mas os partidos de direita deixaram cair este tema. Fizeram mal.
José Barros
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