«Tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus, (...) cujo rosto reconhecemos no amor levado ao extremo», escreve o Papa Bento XVI na carta recente enviada aos bispos a propósito dos "integristas". Tirei-a de um artigo de António Marujo no Público, todo ele dedicado a um alegado Papa sozinho e vergado a um suposto "calvário" com várias "estações". O "tom" geral da coisa é dado logo na abertura da prosa. «De repente, a liderança da Igreja Católica aparenta fragilidade, entre decisões solitárias do Papa e maus conselhos que ele andará a receber. Em 2006, muçulmanos vêm para a rua protestar contra Bento XVI. Em Janeiro deste ano, judeus e muitos católicos irritam-se com o levantamento da excomunhão de quatro bispos integristas, ligados ao grupo conservador Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Em ambos os casos, estamos perante duas decisões solitárias do Papa Ratzinger. Em ambos os casos, as posteriores explicações tardam em sossegar os ânimos. No último, sucedem-se zangas contra o Papa, críticas no topo da hierarquia, revoltas de grupos católicos.» Salvo o devido respeito, Marujo parte de um equívoco. O Papa não só não está sozinho como não tem de evitar "irritações" alheias. O Papa não é secretário-geral ou presidente de um partido e, muito menos, um inspirador de facção. Ratzinger não foi propriamente escolhido para "agradar" ao mundo. Como Jesus, ao Papa compete pregar o óbvio, isto é, a Palavra do Ressuscitado: «tende confiança, eu venci o mundo.» Ninguém esteve tão sozinho no dia da Paixão - naquela sexta-feira em que se consumou o escândalo da Cruz - como o Filho do Homem. Ninguém foi tão desprezado e humilhado publicamente e ninguém, como Ele, uniu, naquele inexplicável momento de dor e redenção, a sua esperança desesperada ao desespero da humanidade vazia. Quem acolhe o Ressuscitado no coração jamais se encontra só. E Ratzinger está muito para além da intendência burocrática, e tantas vezes mesquinha, do Vaticano. Está apenas ao serviço desse «amor levado ao extremo" que hoje recordamos.
21 comentários:
Um excelente post João
um dirigente espiritual segue a sua doutrina na companhia da maioria dos fiéis.
as franjas heterodoxas são sempre minoritárias, descontentes, agitadas.
a informação papal é muito superior à de muitos dirignebtes politicos.
dizia um malandro de recife «governar é sofrer».
é um acto solitário,
quanto mais analfas dão os xuxas mair reduzem tudo à unicididade, sofrem agruras com o pluralismo
radical livre
Obrigada por essa reflexão maravilhosa que nos deixas.
Quem é CATÓLICO entende muito bem o que o PÁPA diz e o que quer dizer, obviamente!
Para ti desejo:
Feliz Páscoa...
Ressurreição do sorriso... Ressurreição da alegria de viver...
Ressurreição do amor...
Ressurreição da amizade...
Ressurreição da vontade de ser feliz...
Ressurreição dos sonhos, das lembranças e de uma verdade que está acima dos triviais ovos de chocolate e coelhinhos...
Cristo morreu, mas ressuscitou e fez isso somente para nos ensinar a MATAR OS NOSSOS PIORES DEFEITOS e A RESSUSCITAR AS NOSSAS MELHORES VIRTUDES do íntimo de nossos corações.
Que esta seja a verdade da Páscoa.
Bjs.Fá
É sempre bom lembrar o essencial. Muito bem, o post.
http://sobpressaonaoconsigo.blogspot.com/2009/04/avant-la-derniere-cene_01.html
espanto-me com os putos de hoje em dia
Sim. « Quem acolhe o Ressuscitado no coração jamais se encontra só».
Esta certeza, que só é possível ter a partir do encontro pessoal com Ele, quanto mais maravilhosa é, mais desconhecida do mundo se apresenta. Se eles soubessem o potencial de felicidade que encerra...
Pois!
Mas enquanto o Vaticano II é metido na gaveta, não se poupam esforços para integrar todas as franjas que o apoucam.
Chegando ao ponto de dizerem que, por um lapso de informação burocrático, a Cùria e Vaticano não conheciam exactamente as posições retrogadas dos "amnistiados"!
(E ainda dizem mal da burocracia portuga ....)
Criou-se um clima em que se excomunga uma criança de 12(?) que abortou, mais a respectiva família e médicos e afins envolvidos (o que até puderia ser compreencível, face á posição oficial do Vaticano), mas nem uma palavra de condenação ao adulto padrasto que a violou repetidamente.
É certo que um Papa não é "propriamente escolhido para "agradar" ao mundo". Foi o que fizeram os Papas que incentivaram a abertura e renovação do Vaticano II, mas cada vez fica mais clara a tarefa hercúlea que tinham pela frente.
Meditemos e Oremos.
Uma Boa e Santa Páscoa!
Que palavras tão bonitas. Estou completamente d'acordo com o que escreveu. Parabéns.
Maria
devia abster-me de comentar aqui: não sou crente, e o socialmente correcto é no sentido do respeito de crenças alheias, blabla.. Mas olhem, num blog tantas vezes socialmente incorrecto, vou mandar o socialmente correcto para as urtigas:
Tudo isto se resume à crença num deus que para salvar, ou perdoar, a humanidade, decidiu sacrificar um filho.
Um deus, aborrecido com a humanidade que ele próprio criou, tem que espetar um filho numa cruz para se acalmar.
E 2000 anos depois, há quem justifique a crença com palavras como "amor levado ao extremo".
É absurdo, é infantil, é primitivo.
Exacto, Alexandre, é por isso que V. é médio.
Vamos tentando abrir os olhos, porque, como disse Kafka quando lhe perguntaram - E Cristo?
- "É um abismo cheio de luz. É necessário fechar os olhos para não cair"
Felizmente o Papa mantém os olhos bem abertos...
Os seus textos sobre religião são sempre os melhores do blog - e da blogosfera. E este é particularmente tocante para crentes e não crentes (desde que tenham dois dedos de testa).
Uma Santa Páscoa para si.
BOA!
A religião é algo que vive da emoção, sim, mas tb. é algo excessivamente complexo para ser compreendido por uma inteligência comum.
Quando a inteligência ou a cultura específica falham, das duas uma:
-ou fica apenas a emoção e o instinto transcendental, o tal impulso primitivo que sabe o que quer mas não sabe expressar-se
- ou fica a incompreensão e o vazio embrutecido, confinado a um sentido lógico tão pouco profundo quanto o da batata.
Dou por mim a pensar muitas vezes que esta malha crescente de ateus e agnósticos (tem imensa graça observar a escolha das categorias...)nem sequer percebe o quanto deve civilizacionalmente à religião católica.
Calamitoso tempo que nos traz esfaimados e num estado de espírito frágil.
Eram os escravos, os mais humildes que convertidos à Via, sob as perseguições iniciais do Império, se apresentavam íntegros, afirmativos de uma Esperança, naquela mansidão de morituros. É urgente morrer como o grão de trigo solitário.
O Papa, especialmente este Papa, preocupa-se com a cultura do espírito, do sobrenatural, do divino, enquanto que os críticos, mesmo os críticos Cristãos, apenas se preocupam com a exclusiva, perfeição da matéria humana.
Há dias este jornalista marujo, teve o atrevimento de numa mesa redonda na TVI, a propósito da visita do Papa a África, desprestigiar a soberania intelectual dos negros.Estava presente um sacerdote negro,sem vergonha de se vestir à sacerdote, que lhe deu e a nós que ouviamos, uma verdadeira lição de igreja, da sua doutrina e de defesa do Papa. Foi uma delicia ouvir a formação intelectual e doutrinal do referido sacerdote. Muito vamos ter de aprender com o Papa e com a Igreja de África.
Imaginem a civilização humana daqui a 2000 anos. Vêm crenças em deuses? Ufa, eu espero bem que não, seria sinal de holocausto atómico.
Também acredito que daqui a 2000 mil anos já tenhamos apredendido que as crenças em deuses só levam à destruição. Mal de nós se em mais 2000 anos não conseguirmos chegar à descoberta dessa realidade que tudo explica e justifica: o Deus criador que nos salvou da forma mais radical, é a raiz e fonte de todo o amor. E só o amor pode sobreviver a mais 2000 anos. Sem isso é que o holocausto será inevitável, bem antes dos 2000 anos.
Mas, caro Alexandre, não se esforce por compreender isto. Não será capaz. Pelo menos enquanto tiver o cérebro assim bloqueado. Pode ser que isso um dia lhe passe, se Deus lhe der uma oportunidade para conhecer o dom da fé e o senhor souber aproveitá-la.
LMFerraz
Alexandre, compra uma boa enciclopédia que isso passa.
João Gonçalves, não sou visitante do blogue, mas chamaram-me a atenção para este «post» e, de facto, saiu fantástico. Parabéns!
Quem viu ontem a Praça de S. Pedro cheia, até mais não poder para ouvir o Papa, só pode rir-se das opiniões de António Marujo...
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