Um tipo acorda e, meio estremunhado, com sessenta e poucos anos ou na casa dos cinquenta, lê esta coisa - partindo do princípio de que é possuidor de literacia informática e que comprou um pc a prestações -, já não pode olhar para os "colegas" e muito menos para a mulher, toma meio Viagra e um antidepressivo para fingir que é feliz, emborca três imperiais antes de regressar a casa para suportar o serão que alterna entre quatro canais de merda e dez de bola, e só lhe ocorre que existe uma ponte que liga Almada a Lisboa onde, quando lhe der na gana, pode parar o carro, a mota ou a puta que o pariu que o transporta do nada para o nada, e entrar rio adentro, desejavelmente numa eternidade que o descanse. Nem todos têm a felicidade do protagonista de "Todo-o-Mundo", do Roth, isto é, de acederem a essa eternidade de olhos fechados e sem saber que é para lá que caminham. Mas o tipo não tem pachorra para ler. No nosso pequeno e miserável canto "socrático" não se pode sair feliz de lado algum nem entrar feliz na eternidade. Sócrates é a má vertigem que apenas dá acesso a um vazio tão infinito como o futuro que ele propõe. Não vale a pena entrar na eternidade por causa de uma abjecção colectiva e de um capricho pessoal. O homem voltou para trás, agarrou na cana de pesca e, num pontão qualquer do deserto da margem sul, observou os operários mais novos do que ele que, na dita Ponte, colocavam grades de um lado e do outro lado para evitar o precipício. O deles, naturalmente.
4 comentários:
... e tomou a decisão de dinamitar a ponte. O terrorismo estava na ordem do dia.
Que pessimista!
Queres que eu te enumere alguns sexagenários a quem essa coisa não produz efeito algum:
Vítor Constâncio, Jaime Gama, Almerindo Marques, Fernando Gomes, enfim toda uma prole de gestores públicos
E depois, era necessário e não há alternativa: não vês os telejornais?
Estamos f...
Porque é que eu sabia disto há tanto tempo? Porque é que eu adivinhava?
Disto e de outras coisas?
Antes de Abr74, adivinhava que aquilo, a nossa África, não nos levaria senão a uma espécie de abismo.
Tinha lido a Indochina (FR)e a Argélia (FR). E em vez de termos tido um De Gaulle, tivemos um pequeno émulo, Spínola.
Em 74/75, dizia que os planos inclinados têem todos um fim. E apareceu o 25Nov.
Hoje, já não estou tão ciente sobre o fim do actual plano inclinado.
Ou que a surgir, nos irá fazer repetir a triste sina do final do 'regime constitucional/democrático' do século XIX - a banca rota de 1892.
Com um senão.
Já não vai haver padres nem militares.
Lisboa é um caos. Sócrates é um sanguinário prestes a dominar o mundo. O futuro é um buraco negro. Já pensou mudar de país ou quem sabe de planeta?
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