Há catorze anos, quando Soares foi à Índia, ficou aquela imagem injusta do casal presidencial aos solavancos e de turbante patético no dorso de um elefante. Miguel Sousa Tavares - que fez parte dessa comitiva como jornalista - queixa-se no Expresso da ausência da "cultura" na comitiva cavaquista de 2007. O que Cavaco tem para exibir nessa matéria reduz-se a Kátia Guerreiro, a fadista omnipresente no "imaginário" cultural belenense, e uma obscura exposição de "arte contemporânea portuguesa" constituída por "desenhos" do CAM. Durante os mandatos dos dois derradeiros presidentes socialistas, as visitas de Estado tiveram, quase sempre, um cuidado particular em incluir a cultura nacional, fosse sob que forma fosse: pintores, ensaístas, romancistas, poetas, músicos, actores, etc., etc. Uma exposição que ficava, um livro que se lançava, uma poesia que se ouvia, um piano que se tocava, em suma, uma língua e uma cultura - valendo esta coisa da "cultura", a nossa, o que vale - que o chefe de Estado português fazia questão em divulgar e honrar. Na Índia, a questão da língua, como sublinha Sousa Tavares, é fundamental. Pouco mais temos para dar ao mundo. Cavaco Silva, coitado, bem "puxa" pelos "empresários" nacionais e pelo investimento de horizontes amplos. Não vale a pena e até ele já reconheceu que chegaram "atrasados". O PR dá - por formação, pela sua natureza a pela actual natureza das coisas - mais importância à diplomacia económica e sonha com um país competitivo daqui até ao cabo do mundo. Talvez no segundo mandato Cavaco compreenda a futilidade do exercício. E aí, talvez se faça acompanhar, nas visitas de Estado, não já pelo medíocre "empreeendedorismo" nacional, mas por uma corte de melancólicos intelectuais que representarão melhor o que nós somos e não aquilo que gostaríamos de ter sido.
6 comentários:
Podemos criticar Cavaco por muita coisa, mas não de incoerência.
Ele continua igual a ele próprio, e ao que sempre foi.
Este "post" é um "finis patria".
Possa, nem tanto ...
Só venho aqui dizer, uma vez mais, o quanto me identifico com a generalidade dos seus posts e o grande prazer que é passar por aqui todos os dias e levar qualquer coisa "a mais" do que quando aqui se chega.
Sr. Goncalves,
Está-se a esquecer de outra injusta imagem do Homem (e sua Senhora) da Fundação - a da Tartaruga nas Seychelles.
E partilho inteiramente o post anterior.
Abracos,
Sr Goncalves, um e austero, o outro dava envelopes para a malta gastar, sao estilos...
Para a malta gastar... o dinheiro dos outros (dos contribuintes)pois que o dele não era para aí chamado
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