Antes de prosseguir, fica estabelecido que sou católico. Frequento solitariamente a igreja quando me dá na gana e, de vez em quando, assisto à missa. Não o faço ao domingo nem em dia certo, não comungo e confessei-me duas vezes na vida, a última quais serviu praticamente para perguntar à voz que me ouvia do outro lado o que é que devia dizer. Vagamente, lá para o fim, mencionei os chamados "pecados da carne" como uma inevitabilidade. Tudo junto valeu-me, se bem me lembro, cinco "padres-nossos". Julgo que a Igreja não tem a mínima dúvida que as suas "ovelhas" pecam escandalosamente. Aliás, sentem-se mais aliviadas do que as desprovidas de fé já que sabem que serão presumivelmente perdoadas. Todavia, e ao arrepio da minha fé que concebo num plano completamente distinto, não creio que exista ou deva existir uma "moral sexual" e uma imposição normativa de comportamentos a esse nível. Por isso, quando D. José Policarpo defende a educação sexual orientada preferencialmente para a castidade, sabe que está a produzir um oxímoro. A sexualidade pressupõe, para ser saudável, o "outro". E nem sempre pressupõe procriação ou um "outro" de sexo diferente. Ou, muito menos, uma vida inteira de abstinência ou de apoteose da mão. É inerente à sexualidade o prazer - mais do que o "amor " ou a "paixão" - e não há que ter medo disso. Educação sexual significa esclarecimento, abertura, responsabilização, informação e protecção da saúde pública e privada. Orientá-la para a castidade, com o devido respeito, é contrariar a natureza das coisas. É o mesmo que pedir a alguém com sede que evite beber ou a alguém com fome que evite comer. Nestas matérias, para além de católico, sou sobretudo romano. Defender a vida também significa defendê-la plenamente e vivê-la com um módico de qualidade. Isso passa pelo "outro" por mais que o "outro" seja cruz ou salvação, uma vida inteira ou em apenas meia-hora.
7 comentários:
Também sou católico e tenho muitas críticas às orientações de moral sexual da Igreja. Julgo memso que a encíclica Humanae Vitae é iníqua. No entanto não vale de nada andarmos a iludir as palavras do cardeal. Não estou de acordo com ele, mas isso não me leva a dizer que o homem disse que tínhamos de nos abster. Castidade não é a mesma coisa que abstinência.
Quanto à confissão, João Gonçalves, também eu não faço uso dela, mas isso não me impede de reconhecer que é um dos grandes valores práticos da Igreja. Permitir que alguém possa falar e desabafar para aquela voz que não vê, é um serviço inestimável que a igreja presta. Poupa-se imenso em psiquiatras!
Sintético e certeiro. Aplausos de alguem que não é dado a aplaudir.
"Orientá-la para a castidade, com o devido respeito, é contrariar a natureza das coisas."
Como o é alicerçar toda uma doutrina na família, exigindo dos seus sacerdotes que se abstenham de constituir esse núcleo fundamental que pregam.
Há edifícios que se alicerçam em contradição. Mas resistem.
Excelente "posta"! Julgo mesmo que o próprio Cardeal não discorda no essencial. Todavia, a Igreja não avança à mesma velocidade do resto da sociedade e por isso...
CASTIDADE não quer dizer abstinência, evidentemente; quer, antes, dizer PUREZA nos sentimentos, nas acções....isto é, não prejudicar o outro para se sentir bem consigo próprio!
"Nós, portugueses, somos castos" (Pedro Homem de Melo).
Por mim, não sou, não quero ser (nem me confesso, claro).
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