20.1.07

FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO 1938-2007

Peço emprestado o poema ao Eduardo. Fiama é apenas um dos poetas mais importantes da sua geração. Sobram poucos: o Gastão, o Joaquim e o João Miguel. Dos que eu gosto, naturalmente.

O urogalo não cantou toda a manhã.
Despida de sentimentos, procuro
os nomes e os mitos. E a grande sombra
da árvore de palma veio pousar
sobre a relva nua e o decepado coto.
Não mais interiorizo a Natureza próxima.
Que o morto aloendro leve consigo
anos de infância e juventude, carícias
do vento, para sempre e em todo o lugar.

O urogalo viria em vez do melro,
cujo corpo sacode o restolho de velhas folhas,
cujo assobio se abafa na hera invasora.
Seria o sinal do último cantor da casa,
o desconhecido urogalo, que apagaria
esta tristeza de nada desejar, aqui e agora,
entre estes cepos, esta terra revolta
e os mortos tão absolutos e esquecidos,
depois de tão eternamente vivos.

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