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22.8.11

O ÁRBITRO



«-
Van Vooren: É sensível às críticas? -Vidal: Não. Decidi cedo que aquilo que penso dos outros é mais importante do que aquilo que eles pensam sobre mim. Qualquer jogo tem de ter um árbitro e, então, decidi que eu seria o árbitro. »

12.8.11

UMA ASSINATURA


Alguns livros e alguns autores ajudam à manutenção na superfície da Terra junto do género animal que nos é, consta, mais próximo. Gore Vidal é aqui, famosamente, um deles. Aprecio o estilo "desagradavelmente" claro e as suas "injustiças" confortam-me. Mas, em geral, do que mais gosto é do "sumário" que ele faz disto tudo. Coisas como «sou tão insociável quanto é possível ser-se" ou "não existe um único problema humano que não pudesse ser resolvido se as pessoas seguissem os meus conselhos» são pressupostos básicos para um módico de equilíbrio pessoal. Assevera nunca ter tido «uma opinião excessivamente elevada do mundo» até porque «o mundo não fez nada para mudar.» Aos oitenta e muitos, só pode ter razão.

4.8.10

O DIA EM QUE GOSTEI DE SÓCRATES


A foto é do Correio da Manhã. Nela um conhecido cidadão em férias no Algarve lê Gore Vidal. Trata-se do segundo livro de memórias do autor norte-americano que serve de epígrafe a este blogue. Não tem o interesse do primeiro, Palimpsest (não há tradução mas o leitor em causa pode sempre adquirir e ler no original: não lhe empresto o meu porque está autografado pelo autor). Todavia tem capítulos que só uma vida cheia como a de Vidal poderia produzir. A tradução que o veraneante está a ler é muito má. O livro começa com uma frase - e um capítulo - acerca do cinema, um belo fantasma que sempre perseguiu Vidal. E prossegue com o melhor momento, literariamente falando, que descreve a doença e morte do seu companheiro de cinquenta anos, Howard Auster. Quase no fim, este pergunta a Vidal: «Didn't it go by awfully fast?» E Vidal responde: «We had been happy and the gods cannot bear the happiness of mortals.» É isso, a velha frase. Aos mortais nada é dado de graça. Medite nela.

8.5.10

TALENTO E ESCRITORES


Agora que está aí a feira do livro e que, a cada canto, somos surpreendidos por um "escritor" ou por uma "escritora" que não sabíamos que eram respectivamente um escritor e uma escritora, parecem-me oportunas as palavras de Gore Vidal recordadas num jornal de hoje. «Não basta ser bicha para escrever (o vidaliano conceito de bicha pode ser alargado, entre nós, para gira ou giro de cara, jornalista, apresentador de televisão, blogger, político, ex-amante, etc., etc. para além de bicha propriamente dita). Por incrível que pareça, é preciso talento também

22.1.10

NO COUNTRY FOR OLD MEN - 2


Outro dia escrevi isto. Salvo erro, nesse dia o sr. Hitchens tinha sido "recomendado" pelo betoneiro do comentarismo televisivo oficioso, o sr. Lopes. Casanova foi mais longe e infinitamente melhor. Quando há destas coisas para ler em blogues, para quê perder tempo com tremoços, i.e., com a "causa pública" e os que estão permanentemente em bicos dos pés a fazer de arrastadeiras de pretensas "gerações de mudança"? Ou, no limite, com a mediocridade da vida onde a noção do sublime se perdeu irremediavelmente?



«“Gore Vidal” foi uma convenção literária concebida por Gore Vidal para ter sempre muita razão num mundo repleto de estúpidos. A convenção, no entanto, emancipou-se muito cedo, e decidiu permitir-lhe apenas escrever muito bem num mundo repleto de pessoas que escrevem mal: escrever muito bem naquele tom patenteável de alegre e incrédula exasperação, como quem relata os disparates de um filho cretino (sendo que o filho cretino é a raça humana). O deleite na imaginação do desastre é uma pose cheia de limitações, que a longevidade tende a agravar, pois perpetua um ciclo vicioso: a pose serve para expressar uma sensibilidade literária e intelectual cuidadosamente artilhada, mas também para validar as suas manifestações, pois se ela não fosse uma consequência natural das respostas aos factos, nunca lhe permitiria escrever tão bem (isto é uma falácia na qual caíram pessoas bem melhores que nós, pelo que não vale a pena empertigarmo-nos). Com o tempo, todas as energias criativas são empregues num único propósito: evitar que a personalidade encontre os prosaicos atritos da realidade, que às vezes fazem uma pessoa (menos eu, que sou realmente infalível) mudar de ideias. Estas personalidades, esculpidas com tanto afinco, deixam por fim de ter a elasticidade suficiente para responder às necessidades, numa altura em que já não há capacidade nem paciência para explorar tácticas novas; e afundam-se no seu próprio ADN, como as pessoas de idade. Vou agora explicar-vos o segredo das pessoas de idade: as pessoas de idade envelhecem, tornam-se abruptas e inconvenientes, perdem uma fracção das maneiras e a totalidade do timing, lançam piropos a enfermeiras e dizem mal dos brasileiros, babam-se nas golas da camisa e chamam José ao Luís. O que as pessoas que ainda não são de idade fazem é ignorar tudo isto, mantendo um silêncio decoroso, porque um dia aquela pessoa de idade seremos nós, e vamos precisar da tolerância de quem nos ature. Não se aproveita a oportunidade para apontar, como quem descobre a pólvora, que o avô já não é o que era, ou para ganhar as discussões que se perderam quando as regras eram outras. A entrevista ao Independent que provocou em Hitchens aquela falsa e sórdida indignação é uma entrevista a um homem com 84 anos, que já respondeu a todas as perguntas muitas vezes, e já não se dá sequer ao trabalho de olhar para as cábulas; um homem que sobreviveu à família, aos amigos, aos inimigos, ao companheiro de toda a vida, e às suas próprias pernas; um homem que costumava saudar entrevistadores com abusos pansexuais e citações de Cícero, e que agora se limita a dizer "It is so cold in here," he says, by way of introduction. "So fucking cold". É um homem que conquistou o direito a ser este homem, e a ter frio, a ter muito frio. Confrontado com isto, Christopher Hitchens foi abrir mais janelas, porque ainda pode.»

16.1.10

NO COUNTRY FOR OLD MEN


Os jovens turcos paineleiros (de "panel", em inglês) gostam muito deste senhor. Foi-me, aliás, recomendado em Bruxelas pelo Pedro Lomba. Suspeito que seja a "cartilha João de Deus" de algum paineleirismo fashion que também gosta de Passos Coelho (não, não é o caso do Lomba). Ainda por cima o homem é ateu o que constitui uma espécie de "passe vital" doméstico da direita paineleira amiguinha. Mesmo com os seus lances irritantes que, por cá, ultrapassariam o "bloquismo" mais radical, continuo a preferir Gore Vidal. É o que dá ir para velho num mundo que não é para eles.

Adenda: Hitchens vem a Portugal em Fevereiro dissertar em torno de uma coisa "nova" que Richard Rorty já tinha explicado com meridiana clareza, pense-se o que se pensar dela: "que o conceito de Deus ou de um ser supremo é uma crença totalitária que destrói a liberdade individual."

5.6.08

VIDAL, COLHEITA FORA DO MERCADO

Não há cá disto. Só plumas e lantejoulas caprichosas, muitas delas indecisas sobre o que verdadeiramente são. Na cultura, na política, na sociedade "civil", no jornalismo, na vida. I just played the game harder.

25.3.07

GRANDES COMEÇOS

"Sou cego, mas não sou surdo. E porque a minha desgraça não é completa, ontem fui obrigado a ouvir, durante quase seis horas, um auto-intitulado historiador cuja descrição do que os Atenienses gostam de chamar "as Guerras Persas" era um disparate de tal ordem que, se fosse menos velho e tivesse mais privilégios, ter-me-ia levantado do lugar, no Odeon, e escandalizado Atenas inteira com a resposta que lhe daria."

Gore Vidal, Criação

4.3.07

LIVROS

O Eduardo concorda comigo sobre Point to Point Navigation como, certamente, acerca das suas "short stories". Também julgo que concordaria sobre Joan Didion. No contexto da "reflexão" anterior, vale a pena citar Gore de novo, justamente quando era novo e antecipava a falta de sentido do "outro": "As pessoas mudaram; tornaram-se hostis ou, no limite, perigosamente impessoais. Dou-me conta de que talvez tenha mudado de tal maneira que as vejo tal qual elas são, tal qual elas sempre foram... no entanto, é possível que aquilo em que eu reparei mais cedo fosse a realidade e que aquilo que observo agora seja uma distorção inteiramente privada da realidade, embora, e de qualquer maneira, eu veja o que vejo: hostilidade e perigo. Tenho consciência de que a minha posição é exagerada e de que há gente inócua no mundo e, bem mais importante do que isso, muitos idiotas. Pelo menos, agradeço tamanha fartura." Felizmente e, como ele, também eu já posso dizer isto, já que os meus quarenta e seis pesam tanto como os setenta e tal do autor de Point to Point Navigation: "I now move, graciously, I hope, toward the door marked Exit"

26.1.07

UM LIVRO, MUITOS IDIOTAS


"As pessoas mudaram; tornaram-se hostis ou, no limite, perigosamente impessoais. Dou-me conta de que talvez tenha mudado de tal maneira que as vejo tal qual elas são, tal qual elas sempre foram... no entanto, é possível que aquilo em que eu reparei mais cedo fosse a realidade e que aquilo que observo agora seja uma distorção inteiramente privada da realidade, embora, e de qualquer maneira, eu veja o que vejo: hostilidade e perigo. Tenho consciência de que a minha posição é exagerada e de que há gente inócua no mundo e, bem mais importante do que isso, muitos idiotas. Pelo menos, agradeço tamanha fartura."

Gore Vidal, Clouds and Eclipses, The Collected Short Stories, Carroll & Graf Publishers, New York, 2006 (tradução minha)