12.6.11

A CHUSMA NA SALA


Não posso deixar de fazer um agradecimento particular aos "corporativos" que não abdicam da sua missão patrulheira. Não esqueço que até incluiu, a dada altura, um telefonema do "Abrantes" da época para o meu local de trabalho e para um número fixo que nem eu sabia de cor. Eles sabem quem sou e por onde ando porque nunca senti necessidade de me esconder no anonimato fácil e cobarde que fez e faz "escola" neste domínio. Até por isso deviam saber que não estou à espera de coisa alguma (o cargo que exerço, escolhido por motivos profissionais e por quem de direito, satisfaz-me e enquanto satisfizer quem me escolheu estamos bem assim: está no Diário da República, é público por definição). Em compensação, nós não sabemos quem eles são é quais as "encarnações" que tomaram, tomam e hão-de tomar. Apenas o poetastro Pitta, num acesso vagamente místico, assegura ter estado com "Abrantes" em algum lado. E eles pagam de volta garantindo-lhe a divulgação intermitente das suas brandoenses "análises políticas" que são a versão popularucha dos delíquios literario-gastronómicos passados invariavelmente em grandes alturas. Mas os "corporativos" (os ainda em funções e os por vir da mesma ou de outras bandas) resumem-se bem no artigo semanal de Eduardo Cintra Torres* no Público aquando da descrição de um momento da noite eleitoral dos "corporativos", i.e., da "a chusma na sala". «No final do discurso, entregam-lhe [a Sócrates] um papel e ele afirma: “parece que há jornalistas que me querem fazer umas perguntas”. A estranha formulação da frase sugere que não deveria haver perguntas; que os jornalistas não devem colocar perguntas; que isso de lhe colocarem perguntas é tão invulgar que ele até duvida (“parece que...”). E assim foi. Dos seis jornalistas com autorização para o questionar, quatro são vaiados ou assobiados pela chusma na sala (RTP, SIC, Antena 1, Renascença). Só Carla Moita, TVI, e Bárbara Baldaia, TSF, escapam ao charivari. Sócrates deixa os furiosos dirigentes e militantes vaiarem os jornalistas, mas para si mesmo pede que o deixem falar. A pergunta mais vaiada, de Susana Martins, da Renascença, petrifica-o: “Receia que esta derrota eleitoral abra caminho a novos processos judiciais ou que acelere processos judiciais em curso?” Ele diz que “compreende” a vaia e pede à jornalista que repita a pergunta inesperada. A resposta não estava no teleponto nem memorizada. Respondeu no género Disneylândia — em Portugal “a justiça nada tem a ver com a política” — e passa à frente: “É melhor passarmos a outra pergunta”. A jornalista da RDP diz então “Vamos ver se eu não recebo uma vaia também”, mas o núcleo duro do PS não a poupa à gritaria. Só uma hora passou desde as previsões das 20h00, e já o último discurso de Sócrates traz a zizânia de volta ao país.» O papel de quaisquer "corporativos" é só este, garantir a zizânia. A chusma na sala não desapareceu nem desaparecerá.

*Eduardo Cintra Torres foi dos poucos jornalistas e comentadores (na circunstância daquilo que passa nas televisões) que soube sempre estar à altura da sua profissão, sem temores reverenciais, bajulações infantis e cálculos patetas durante o "socratismo". Aparece aqui com frequência porque lhe admiro a coragem, a persistência e o rigor. E eu sou despudoradamente selectivo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Estou em perfeito acordo com o escrito e faço minhas as últimas palavras que deixa no penúltimo período da sua nota final. É um prazer ler alguém que não só tem conhecimento profundo sobre aquilo que escreve como também o faz com clareza, frontalidade e independência, o oposto da gentaça de esquerda que integra a política vigente.
Mais uma vez E.C.T. está de parabéns.

Não fora o caso de ler aqui reproduzidos os artigos de Cintra Torres - cada qual melhor do que o anterior pela verdade que as suas palavras encerram - e aqueles escapar-me-iam pela certa, uma vez que não compro jornais (excepto O Diabo) e muito raramente leio os jornais em linha, só o fazendo quando os autores dos blogs que visito chamam a atenção dos seus leitores para a importância e/ou actualidade d'alguma notícia em particular.
Maria

Anónimo disse...

Foi pena que perguntas como a da jornalista da Renascença, a mais vaiada pela matilha só cretina, não tivessem surgido com frequência nos 6 anos e tal do só-cretinismo... Embora sem resposta, mais vale tarde que nunca. E para béns à jornalista pela coragem de perguntar.

Mas o que é estranho é que a turminha da cu-municação, em geral, continue a assobiar para o ar com cenas destas... Dentro de poucos dias vão ter muitas perguntas para o novo PM e para os novos ministros e já estão a "afiar as facas". Só assim se compreende o relevo dado à intervenção da "diplomata" Ana Gomes...

PC

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves,
Estando frequentemente em desacordo com os seus posts, admiro a sua frontalidade e capacidade crítica. Aceito ser intlectualmente desafiada.
Subscrevo, na íntegra, tudo o que disse do E.Cintra Torres. Incluindo o "despudoradamente selectivo"
Ana

hajapachorra disse...

O ranhoso estraga tudo, é certo, mas ainda não consegue transformar cizânia em zizânia. Bem sei que nos CNOs não mandam ler os... Evangelhos, nem a bola sequer.

João Gonçalves disse...

Haja pachorra.. veja lá melhor.

Anónimo disse...

João Gonçalves, retire imediatamente essa figura ou eu tenho de chamar a Polícia.