17.10.10

MATEM-SE E ESFOLEM-SE


«A degradação a que a nossa classe média chegou não se cura com menos de uma catástrofe», escreve Pulido Valente no Público. Como aperitivo catastrófico, o orçamento para o qual ele tem vindo a recomendar "viabilização", sugerindo sevícias públicas ao dr. Passos e ao prof. Cavaco por não serem mais explicitamente coniventes com Sócrates, serve perfeitamente. Num país com a nossa dimensão material e ética, "público" e "privado" confundem-se amiúde. Salvo uma outra raríssima excepção, o "privado" e a "sociedade civil" sempre floresceram à conta do Estado e da mão estendida. Para não irmos mais longe, veja-se a mais recente procissão banqueira à oposição e ao governo, por esta ordem. "Dissolver" o Estado é fechar o país. Não é que se perdesse grande coisa mas julgo ainda necessário um esforço intelectual para não alinhar com a matilha acéfala que passa a vida a falar da função pública como da lepra medieval. Nunca vi ninguém enriquecer na função pública - não me refiro, como é óbvio, a cargos de nomeação política ou associados. Se, por milagre de coluna de jornal ou de aparição televisiva, o Estado acabasse amanhã, de que viveriam os grilos falantes do regime? Das suas extraordinárias pessoas e feitos? De uma sociedade fictícia, inteiramente "privada", como uma "casa de segredos"? Quando Pulido Valente, nos seus livros, agradece nomeadamente ao Instituto de Ciências Sociais "a situação excepcional" que lhe "permitiu trabalhar em paz" ou que lhe deu "tempo, espaço e liberdade" para escrever, está a agradecer a quem?

11 comentários:

De nihilo nihil disse...

Como isto é tudo gente presa pelo rabo, o Passos podia entalar o Sócrates impondo a liberdade de voto condicionada à sua bancada. Todos votariam contra menos a proporção necessária para que o orçamento fosse aprovado.

Anónimo disse...

O problema do Pulido Valente é que a idade não perdoa. Um homem sagaz também escorrega na calçada, que é como quem diz, no Calçadão ...

S.C. disse...

Uma denúncia necessária a do aproveitamento dos dinheiros públicos para sustentar "situações de excepção" de senhores e damas como Pulido Valente, pagos e bem pagos para produzirem os seus escritos, fazerem os seus estudos, elaborarem os seus relatórios,etc e tal - alguns deles duplamente bem pagos pelo Estado como encomendas. "Situações de excepção" que muitos outros nem mérito algum têm para conseguir, para além de serem amigos de... ou terem cartão do partido...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Tem toda a razão em dizer que o que se diz sobre a administração pública é sobretudo fruto de ignorância.
Grande parte das opções de gestão da administração publica, incluindo o famoso SIADAP, é simplesmente ignorância irresponsável de gente que não conhece da administração pública mais que o que se vê de cima e superficialmente.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

A campanha contra a Administração Publica, e os funcionários públicos, é alimentada e orquestrada pelo Capital que aspira à privatização dos serviços públicos.
Com total conivência do Bloco Central governante, incompetente e irresponsável, e instalado nos lugares de responsabilidade da própria Administração.

Deliberadamente, diz-se que "o Estado é mau gestor", sem esclarecer que os gestores do Estado são os governos, e os gestores nomeados pelo mesmo, segundo critérios de interesse estritamente partidário.
Os serviços e os funcionários dos serviços e da administração, são obrigados a trabalhar no caos gerado pelos títeres políticos. Na "legalidade" e impunidade com que a conivente Assembleia da Republica os sustenta.

Irresponsabilidade, incompetência e interesse ganancioso, patenteada em inúmeros episódios, entre o trágico, o tristemente cómico, e em reformas sempre para pior.
O trágico: porque caiu a Ponte de Entre os Rios, depois da desastrada reforma da JAE, cozinhada pelo Cravinho, para defender apaniguados, e esconder a corrupção?
Trágico-cómico: o novo aeroporto, na Ota ou na outra banda, tanto faz, as pontes e o TGV, uma espiral de milhões, gastos sem um plano nacional, devidamente fundamentado, sem dinheiro nem sustentação, uma dança de gente louca por dinheiro do Estado, a mando da banca e das construtoras...

Com a canalha que o Bloco Central escolhe e selecciona para nos governar.
Com a maioria na AR, e os Governos, transformados em lobbies do capital selvagem.
Com os serviços públicos entregues a incompetentes técnicos.
Com os serviços públicos formatados para "aceitar sem pensar" e "justificar tecnicamente", todos os disparates de lesa pátria que os políticos impõem à Nação.
Com os serviços e funcionários públicos desacreditados diariamente
na comunicação social.
Não podia ser de outro modo.
Está claro que "as políticas são correctas" e "o Estado é mau gestor"...!

Carlos Dias Nunes disse...

Não perco uma anedota do Vasco desde que ele previu a vitória do Soares nas últimas eleições presidenciais.

joshua disse...

Escreve Eduardo Dâmaso: «Está quase todo no Orçamento do Estado para 2011 e nas medidas avulsas dos sucessivos Planos de Estabilidade e Crescimento, os famosos PEC. Ora vejamos: os medicamentos estão mais caros; as famílias de mais baixos rendimentos e a classe média, que Sócrates tanto queria proteger, são as mais penalizadas pelos aumentos de IRS; os produtos alimentares mais básicos são os que sofrem maiores aumentos; os funcionários públicos, a quem vão cortar nos salários, voltam a levar um rombo por via do IRS; as pensões mais baixas não escapam ao aumento da carga fiscal; a ministra da Saúde quer aumentar a idade da reforma; e os combustíveis estão a um fio de subir e, consequentemente, encarecer em cadeia os custos de produção para a economia.
A lista de ‘conquistas’ do Estado Social de Sócrates é fastidiosa. Ah, claro, temos também a generosa filosofia redistributiva enunciada pelo seu secretário nacional adjunto, uma espécie de ‘governanta’ da sede do PS, que, para dinamizar a renovação geracional nas listas das federações socialistas, ofereceu um ‘tacho’ com ordenado de 15 mil euros ao deputado Vítor Baptista. Com tanto apego ideológico aos velhos princípios do Estado Social, porque haveríamos de querer mudar!? Francamente...»

Anónimo disse...

«Quando Pulido Valente, nos seus livros, agradece nomeadamente ao Instituto de Ciências Sociais "a situação excepcional" que lhe "permitiu trabalhar em paz" ou que lhe deu "tempo, espaço e liberdade" para escrever, está a agradecer a quem?» / Na mouche!!!

Isabel disse...

Será por ignorância, conveniência ou simples burrice que se continua a confundir funcionários públicos honrados com as legiões de "boys"e "girls" da nossa desgraça? VPV não é ignorante, nem burro...Na mouche, de facto!

Anónimo disse...

A República portuguesa é um caos. Esta merda não tem hipótese nenhuma.
Antes que chegue uma revolução da Guarda (ou assim), e como eu sou uma senhora doente e de certa idade, vou comprar uma casinha nos arredores de Curitiba. Pró que der e vier ... e não deixarei de me despedir com os meus melhores cumprimentos da «Assossiação 25 de Abril», queridos filhos.

Anónimo disse...

pois, o subsidiozinho...