17.10.07

A "GUERRA COLONIAL"


No auge da chamada "guerra colonial" alguém soprou a Salazar que devia ir a Angola. "Nem que morra", acrescentou. É evidente que não morria, mas a sua distância física do derradeiro assunto político que levou a peito também ajudou ao descalabro posterior. A política precisa de símbolos e a presença do presidente do conselho em África poderia ter tido outras consequências. Em alguns dos nossos "teatros de guerra" a dita estava longe de estar perdida. O que perdemos foi a cabeça a seguir ao "25 de Abril" na ânsia idiota de "descolonizar" a qualquer preço. Até os pretos preparados por nós, nas nossas universidades, como futuras "elites" locais se admiraram com a qualidade de vida que encontraram em Luanda e em Lourenço Marques, disse-o o Fernando Dacosta na SIC-Notícias referindo-se a Agostinho Neto e a Machel. Sou adepto de que se deve defender o que é nosso até ao último homem e não abandonar todos os homens à circunstância, à traição e aos salamaleques do correcto. Quem foi militar, quem nunca desertou, sabe do que falo. A "guerra colonial", tal como o antigo presidente do conselho, são fantasmas que a democracia não consegue explicar. Por isso ocorrem surpresas como as do concurso da D. Elisa e os êxitos editoriais em torno da figura de Salazar. O famoso "império" acabou da forma mais vergonhosa, entregue, quase sem excepções, a nomenclaturas corruptas, narcísicas e, elas sim, fascistas. Simbolicamente - os militares, os verdadeiros, têm a perfeita noção da valia do símbolo - o general Rocha Vieira encostou a bandeira nacional ao coração quando encerrámos definitivamente o "ciclo" em Macau no dealbar deste século. Todavia, nem a razão nem o coração moderaram o abandono do Ultramar. Só o bezerro de ouro contou e conta à conta de milhões de abandonados à miséria e à morte quotidianas. Basta atentar na promiscuidade dos interesses e dos negócios entre gente aparentemente respeitável da ex-metrópole e os simétricos das ex-colónias para se perceber que tudo correu mal salvo para meia dúzia de "democratas" que nem solidários souberam ser com os seus compatriotas que literalmente criaram esses "novos" países e com aqueles que os defenderam quando eram pátria. Nem "adeus", nem "até ao meu regresso". Não sobrou nada.

12 comentários:

Anónimo disse...

... e o que sobrou, está aqui, PARCIALMENTE, espelhado :
- http://origemdasespecies.blogspot.com/2007/10/27-de-maio-de-1977.html

Anónimo disse...

A questão colonial ou ultramarina continua na ordem do dia porque, de forma lamentável, os responsáveis pela descolonização, quiseram branquear o processo, afirmando que a mesma tinha sido feita de forma exemplar. Salazar não quis arcar com a imensa responsabilidade de ser o coveiro do império criado há cinco séculos. Preferiu resistir, embora sabendo que era uma causa perdida, não a nível militar, mas politicamente. Não esquecer que o próprio Papa Paulo VI recebeu os representantes dos movimentos de libertação e que a Guiné-Bissau foi reconhecida por mais de 60 países antes da independência em 1974. Salazar não queria que acontecesse em Angola o que aconteceu com a independência do Congo Kinshasa que descambou numa guerra civil e mandou tropas para Angola "rapidamente e em força". Nada mais correcto. Apenas deveria ter procurado, nos 13 anos de guerra uma solução política, para esses territórios negociando com os EUA uma das potências que, a par da URSS, queriam dominar os recursos naturais africanos. Não fez talvez por uma questão ética. Mas a ética, em política, tem um valor muito relativo como toda a gente sabe.
José Rocha

lusitânea disse...

No alvo.
Os cavalheiros limitaram-se a cumprir o que desde sempre tinham nas suas cabeçinhas cheias de merda.Nuns casos servindo interesses estrangeiros, caso da esquerda que conta, noutros casos por teorias mal amanhadas e longe da realidade como as do socialismo de rosto humano.
Os povos esses afinal não ganharam nada.Tudo perderam.
Ainda por cima esses merdosos tentam á sucapa atirar as culpas próprias para outros... indiscriminadamente.Escolheram os seus protogonistas, executaram as suas políticas e depois acoitam-se para uma defesa impossível nos "outros".
Não é de admirar que estejamos como estamos porque afinal nem honestidade intelectual estes tipos têm.Uma verdadeira desgraça.

Anónimo disse...

O que aconteceu depois, só veio confirmar o que Marcelo Caetano previa, nas suas conversas em família na R.T.P.
Os Portugueses ainda conseguiram, ao longo de treze anos, evitar que se aniquilassem mutuamente como pode ver-se em:
Google
Nito Alves
27 de Maio de 1977
A sim morreram mais de um milhão de pessoas, muitas de formação superior, até então consideradas Portugeses de Angola, da Guiné, de Moçambique e de Timor, depois que Portugal deixou de administrar os respectivos territórios.
Niguém quis saber do progresso social, cultural, económica e territorial, principalmente o urbano, com que Portugal estava a projectar os futuros Países a quem pretendia, com devido tempo, conceder as independência.

Sérgio de Almeida Correia disse...

Rocha Vieira encostou a bandeira ao peito num gesto hipócrita, gratuito e idiota. Só quem não conheceu Macau, desconhece o grau de nepotismo atingido e o clima de fim de feira que por lá grassou durante o consulado vieirista pode ver nesse gesto qualquer valia. Com RV deu-se o crescimento desenfreado das seitas, oficiais superiores do exército português foram baleados e agredidos em pleno centro de Macau (casos do tenente-coronel Apolinário, de Lages Ribeiro e de Manuel Monge), o motorista do secretário-adjunto para a Segurança foi abatido à queima roupa, Stanley Ho viu crescer o seu poder de forma desenfreada e aumentar o número dos seus casinos sem qualquer concorrência, dentro do espírito de uma política de troca de favores de que apenas alguns beneficiavam. Fechou os olhos a subconcessões ilegais do jogo (confirmadas por decisões dos tribunais superiores nunca cumpridas e que teriam obrigado ao imediato resgate da concessão), "correu" com oficiais íntegros que não dobravam a cerviz e, entre outras barbaridades menores, deu emprego como assessor a um ginecologista reformado que se passeava de Jaguar pela cidade e vivia num hotel de 5 estrelas com a família e ajudou meia dúzia de "empresários", na maioria gente que passou pelo Colégio Militar, a enriquecer. Cultivou relações de casta e a subserviência para com a China atingiu patamares inimagináveis. Os interesses económicos privados de alguns empresários de Macau e de Lisboa confundiram-se com os interesses de Portugal e do território. Houve mesmo quem sugerisse que os juízes julgassem os membros das seitas com um capuz enfiado na cabeça. Patrocinou congressos que ficaram às moscas, porque os basbaques andavam a comprar pérolas para as madames e convidou meio mundo da política para lá ir comprar bugigangas e imitações ordinárias, outros para lhe tecerem loas logo à chegada e antes mesmo de conhecerem o território. Que me recorde vi por lá Saramago, Manuel Alegre, Zita Seabra, António Barreto, Maria Filomena Mónica, Maria Elisa, António Esteves Martins...é mais um rol imenso de convivas de cujo nome não reza a história! Não se esqueceu de atribuir condecorações como quem vende peúgas e a quem, sem qualquer obra digna desse nome, se distinguiu pela subserviência, pela obscuridade e por confundir os negócios privados com os públicos. Chegou a reinaugurar as Portas do Cerco, depois do respectivo restauro, responsabilidade de um dos desses tropas que ele lá enfiou para o servirem, com a divisa que a encimava alterada, corrigida depois quando o extinto "Futuro de Macau" e eu próprio chamámos a atenção para tão grave asneira. Durante anos tudo fez para silenciar a imprensa livre, através de um tenente-coronel e do afilhado da mulher, e no fim acabou permitindo a constituição de fundações, para ele e para os amigos se "entreterem", com o dinheiro dos contribuintes locais que não dependiam dos amamuenses que Lisboa para lá mandava. Fê-lo à revelia do poder político, a que era suposto ser leal, devido à fraqueza de quem nele mandava e a coberto do desconhecimento e da distância. Se Rocha Vieira é um símbolo, sê-lo-á, certamente, do nepotismo, do compadrio, da total ausência de coragem e de ousadia no exercício de funções públicas, e, também, de um dos mais vergonhosos períodos da nossa história colonial.Disse-o e escrevi-o publicamente, durante anos, nos jornais de Macau que não dependiam dos subsídios do tenente-coronel Salavessa, apoiado em factos e em documentos, e voltarei a fazê-lo as vezes que forem precisas sempre que a ignorância quiser transformar em virtude aquilo que foi uma vergonha e um período negro de Portugal. Infelizmente a ignorância continua a ser muita, recorrente e surge onde menos se espera. Lamentável.

Anónimo disse...

O verdadeiro motivo do 25 Abril foi a guerra surda que já se tinha inslalado no meio militar,relativa a diferenças de ordenados e outras benesses que não eram para todos e...vai daí...então acabemos com isto! Depois, não se soube "passar o testemunho"!!! Foi um masssacre para os brancos, que tiveram de fugir da selvajaria instruída para o ódio que dura até hoje!!!
MÁRIO SOARES o culpado de tudo e ....saberá só ele e mais alguns o porquê! Os não-parvos também sabem....
Mas somos um paisito de brandos costumes....se tal se passasse em Espanha, outra guerra se instalaria!!!

Anónimo disse...

É na realidade ARREPIANTE a CLAREZA, o REALISMO, deste Post

Mais uma vez somos contemplados com um VEEMENTE mas SERENO e, BRILHANTE texto

Obrigada

Anónimo disse...

Pergunte às gentes de Macau, o que pensam do General Rocha Vieira. Não o fez? Ainda vai a tempo!

VANGUARDISTA disse...

Bom texto!
A verdade crua e nua!

Anónimo disse...

Tantos não trataram de defender a descolonização para depois enriquecer à custa dos descolonizados. Apenas um nome: Rosa Coutinho.

Anónimo disse...

«Guiné-Bissau: ONU adverte que tráfico de droga e outros crimes ameaçam o país e "desestabilizam" a região
19 de Outubro de 2007, 23:44»

Da "descolonização exemplar".

Coitados, aqui nem sequer uma oligarquia de fachada legal. Chupam até ao tutano a irrelevância da independência que os escraviza. Seja em louvor dos mortos de Portugal !

António Torres disse...

Pois é...
talvez o amigo devesse descontar estes factos á sua admiração pelo dr. Soares, pois foi ele, a par do dr. Cunhal e dos sectores mais acéfalos do mfa, um dos que mais orientou as decisões oficiais daquele período no sentido do abandono repentino das ex-colónias.
Já não falando nos portugueses, os próprios africanos foram entregues à sorte dos confrontos dos últimos períodos da guerra fria.
Sim, de entre os 15 milhões de minas que se enterraram em Angola, e que têm gerado milhares de amputados, algumas foram, objectivamente, semeadas pelas decisões do dr. Soares e seus parceiros políticos de então.
É no que dá a democracia de pacote.
Cumprimentos do
AT