25.11.04

TRISTES TRÓPICOS II

Miguel Graça Moura, que esteve à frente da Orquestra Metropolitana de Lisboa, foi detido e ouvido em tribunal. As suspeitas que recaem sobre ele têm a ver com eventuais situações de abuso de poder e de peculato enquanto primeiro responsável pela gestão do organismo. Como é óbvio, deve ser considerado inocente até prova em contrário. Graça Moura, agora em aparente desgraça, foi devidamente apascentado pela Câmara Municipal de Lisboa e por outros poderes públicos, centrais e "presidenciais", até Pedro Santana Lopes ter sido eleito presidente da dita Câmara. Lopes acabou por trazer à tona os subterrâneos da OML e a polémica terminou com a atabalhoada saída do maestro. Louvo Santana Lopes por não ter temido o suposto "poder transversal" de Graça Moura, até ali suportado nos sítios do costume. Este episódio criou um importante precedente para o sector da "cultura" onde pouca gente se preocupa em questionar os critérios de gestão dos organismos, em nome do "brilho e glória" dos "eventos" e dos próprios "gestores". A responsabilização política e jurídica dos "gestores culturais" tinha de começar por algum lado. A atitude "política" de Santana Lopes bem como a investigação que decorreu subsequentemente, em sede adequada, constituem sinais positivos, raros num pântano, o da "cultura", onde delicadamente quase todos se deixam afundar.

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