27.4.04

LIBERDADE III

Por causa da atribuição da Ordem da Liberdade à Dra. Isabel do Carmo, o PP fez uma pequena birra, não aparecendo na cerimónia. Embalado, o porta-voz da agremiação fez questão de referir a ausência de personalidades "de direita" agraciadas, tudo apontando na sua revoltada cabeça para que o evento fosse uma tenebrosa celebração da "esquerda", eterna conspiradora e destruidora dos bons costumes. Pelo contrário, Durão Barroso esteve e aplaudiu, e propiciou um gesto interessante e simbólico em São Bento que juntou todos os chefes do governo vivos que se sucederam nestes 30 anos. Esta peripécia serve para mostrar, a quem quiser naturalmente ver, que a "cultura democrática" não se adquire pelo mero decurso do tempo. O actual CDS/PP é um ente desfocado cujos principais dirigentes ainda nem sequer tiveram tempo nem para aprender, nem para esquecer nada. Obviamente que ninguém lhes deu qualquer importância, a começar por Isabel do Carmo. Sem biografia, esta gente, pelo simples facto de ter sido acoplada ao poder, acha-se subtil. A sua ausência real ou imaginária num acto destinado a consagrar a "liberdade" não é inocente e é, simultaneamente, um bálsamo. Cinco anos depois do 25 de Abril, Sá Carneiro "integrou" a "direita" no regime, normalizando-o. Na década seguinte, Cavaco Silva pôs a "direita" a desenvolvê-lo. Não imagino por que suspira o presidente da Compal, e porta-voz do Dr. Portas, para o País. Seja lá o que for, não tem nada a ver com a "cultura democrática" que inspirou os sociais-democratas que mencionei. Esses, sim, cada qual à sua maneira, são património destes 30 anos, ou seja, da liberdade.

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