20.4.09

HITLER SEM MISTÉRIO OU O TRIUNFO DO HOMEM COMUM


«Hitler [que nasceu faz hoje 120 anos ] foi um agitador ou um político sem cultura política, nunca um estadista, pois fez tábua rasa de quase tudo o que antes existira. Só uma civilização invertebrada, atomizada e sem rumo poderia ter produzido um caso tão bem sucedido de triunfo pessoal, pois tivesse nascido trinta ou quarenta anos antes, Hitler jamais teria ultrapassado os umbrais da fama. Hitler não é um génio; é a caixa de ressonância do mundo moderno, aberto a todo o aventureirismo e a todo a improviso. É o triunfo do homem comum.»

Miguel Castelo-Branco, Combustões

11 comentários:

Anónimo disse...

se substituir Adolfo por zézinho não terá de alterar o texto.
hoje entreguei à minha hospedeira vienense fotocópias da deslocação do Guia a Viena em Março de 1938. as fotos, retiradas de vários livros sérios sobre são impressionantes. a multidão comprimia-se na praça dos Heróis e enchia a estátua do Principe Eugénio de Saboia, o vencedor dos Turcos. no Ring, da praça do museus ao Parlamento e Câmara, desfilou o Exército Austríaco, as SS e SA austrícas. daqui partiu para Branau onde nasceu e para Linz onde viveu com os pais.
o estudante pobre discurso do palácio dos Habsburgos e ficou hospedado no Ring hotel Imperial.
não visitou a Academia de belas arrtes, que não chegou a frequent (tem belissima galeria de quadros e escassos visitantes); nem o asilo onde viveu.
ao contrário do nacional-socialismo hitleriano é soturno e sinistro aquele que sofremos

radical livre

garganta funda.... disse...

Também há 20 ou 30 anos o Sócrates
nem para vereador da Câmara de Fornos de Algodres (sem desprimor por este lindo concelho!) serviria...

De facto, nestes tempos de chumbo, estamos sob o signo de homens comuns e vulgares chicos-espertos...

garganta funda.... disse...

Hitler construi o III Reich; Sócrates nem uma Racha constroi...

obervador disse...

Hitler é a vitória da não-Razão, da descrença no futuro e do medo.

É o que sucede quando o Homem Comum, o tal que tem direito a Fanfarra, perde o norte e esperança no futuro, e não consegue passar valores positivos á geração futura.

O Homem Comum venceu-o a partir de Wasington(?), Moscovo e Londres, ou simplesmente dizendo Não.

Mas Hitler sózinho não é grande coisa.

Muito mais inquietante é quem insuflou e organizou a máquina que ele proponha, muitas vezes só para lhe agradar.

havia tanta gente tão bem pensante ....

observador disse...

PS - Ocorreu-me perguntar: será que a "Fanfarra para um Homem Comum" pode ser tocada numa Igreja portuguesa, pelo menos nas que teem uma arquitectura mais moderna?

isto só porque concordo que uma Igreja estilo romanica "não casa/soa" lá muito bem com esta música. E daí...

Anónimo disse...

O fenómeno de Hitler e do nazismo ainda hoje suscitam perplexidade e incompreensão, sobretudo se tivermos em conta que surgiu num País que era e é uma referência em termos culturais. Como é que o monstro surgiu e se expandiu de uma forma tão brutal e arregimentou milhões de pessoas é algo inexplicável. Se Hitler era um homem comum o que não seria se fosse um génio?

VFG disse...

Lamento, mas não posso concordar com estas afirmações de Miguel Castelo-Branco.

Hitler, não é o produto do homem-comum, nem uma circunstância do tempo. Hitler é o produto do preconceito e do julgamento antes da razão - um germano paranóico, fruto de um tempo igualitarista e em crise.

Esticar a ideia de que Hitler é o precursor do dilema moderno da falta de razão é um pouco obsceno. Um homem inteligente e bom, mesmo que produto do seu tempo, teria feito sempre melhor.

O homem-comum, aquilo que somos todos, está descrito na tragédia de Macbeth, não na tragédia da Alemanha.

javali disse...

Lamento, mas não posso celebrar esta data. Têm toda a liberdade, porém, para tentar desconstruir a História.

Pela minha parte, espero que consigam.

V disse...

Eu, sinceramente, não vejo a contradição entre a sofisticada sociedade alemã e o impacto de Hitler, na altura. Tal como não vejo a contradição entre Mussolini, Franco ou Salazar com as sociedades que na altura os vindicavam. À excepção da esquisita Inglaterra, que desde cedo primou pela individualidade (e que mais tarde dá na estranha América), nenhuma sociedade europeia defendeu nunca o liberalismo absoluto - a figura do indivíduo contra o Estado. Pelo contrário, defenderam sempre a dissolução da pessoa no regime. Os alemães (está escrito) inventaram a fórmula do romantismo, mas foram os britânicos que o meteram em prática (aliás já o praticavam há muito, desde Chaucer). Essa é a dívida, nunca celebrada, que os continentais têm com Inglaterra. E é por isso que hoje o mundo anglo-saxónico é dominante. Porque é mais bonito, e terrivelmente eficaz.

fado alexandrino. disse...

Sócrates nem uma Racha constroi...Mas segundo dizem, e a própria não desmente, pelo menos destrói uma.

Miguel Neto disse...

Um homem comum, com a visão de um tipo de socialismo, que iria trazer a felecidade ao Homem, para toda a eternidade.

Há muitos por aí que, nas circunstâncias certas, com um discurso um pouco diferente, na prática não fariam muitos diferente. Em vez de gettos e campos para judeus, fariam campos para todo o tipo de inimigos da (sua) Verdade.

Os nossos líderes andam afanosamente a criar as condições para que um novo "Homem Providencial" desse tipo surja.