Foi a ele a quem ouvi falar, pela primeira vez, em Ray Bradbury ou em Patricia Highsmith, há trinta anos. Foi na casa dele que folheei o volume verde das então "obras completas" de Jorge Luis Borges, trazido de Buenos Aires. Foi ali que ouvi ópera e zarzuela. Foi ali que bebi bons copos e ri a bom gosto. Foi dali que partimos para remotas salas de cinema porque já não havia mais nada para ver. O seu amor pela literatura levava-o, às vezes, à tradução no intervalo das suas mecânicas funções que dominava perfeitamente. Por causa delas, viajou e viveu por tempos lá fora. Era, na sua modéstia, um grande cosmopolita e um ser humano maior. A uns minutos de o ir velar, deixo em sua memória uns versos de Sara Teasdale que traduziu por puro prazer, um dia, para nós. Nós somos aqueles que tivemos o privilégio de conhecer o R., que gostávamos dele e que aprendemos com ele.
There will come soft rains and the smell of the ground,
And swallows circling with their shimmering sound;
And frogs in the pools singing at night,
And wild plum trees in tremulous white;
Robins will wear their feathery fire,
Whistling their whims on a low fence-wire;
And not one will know of the war, not one
Will care at last when it is done.
Not one would mind, neither bird nor tree,
If mankind perished utterly;
And Spring herself, when she woke at dawn
Would scarcely know that we were gone.
There will come soft rains and the smell of the ground,
And swallows circling with their shimmering sound;
And frogs in the pools singing at night,
And wild plum trees in tremulous white;
Robins will wear their feathery fire,
Whistling their whims on a low fence-wire;
And not one will know of the war, not one
Will care at last when it is done.
Not one would mind, neither bird nor tree,
If mankind perished utterly;
And Spring herself, when she woke at dawn
Would scarcely know that we were gone.
2 comentários:
Que versos...
Senti-me transportado para uma estrada rural, senti o cheiro da terra molhada pela gentil chuva, ouvi o chilrear das andorinhas, o anúncio territorial dos piscos, o coaxar das rãs...
Já agora, diga-nos quem é R. Pessoas assim, vale a pena saber quem são.
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