24.6.07

THERE WILL COME SOFT RAINS


Foi a ele a quem ouvi falar, pela primeira vez, em Ray Bradbury ou em Patricia Highsmith, há trinta anos. Foi na casa dele que folheei o volume verde das então "obras completas" de Jorge Luis Borges, trazido de Buenos Aires. Foi ali que ouvi ópera e zarzuela. Foi ali que bebi bons copos e ri a bom gosto. Foi dali que partimos para remotas salas de cinema porque já não havia mais nada para ver. O seu amor pela literatura levava-o, às vezes, à tradução no intervalo das suas mecânicas funções que dominava perfeitamente. Por causa delas, viajou e viveu por tempos lá fora. Era, na sua modéstia, um grande cosmopolita e um ser humano maior. A uns minutos de o ir velar, deixo em sua memória uns versos de Sara Teasdale que traduziu por puro prazer, um dia, para nós. Nós somos aqueles que tivemos o privilégio de conhecer o R., que gostávamos dele e que aprendemos com ele.

There will come soft rains and the smell of the ground,
And swallows circling with their shimmering sound;

And frogs in the pools singing at night,
And wild plum trees in tremulous white;

Robins will wear their feathery fire,
Whistling their whims on a low fence-wire;

And not one will know of the war, not one
Will care at last when it is done.

Not one would mind, neither bird nor tree,
If mankind perished utterly;

And Spring herself, when she woke at dawn
Would scarcely know that we were gone.

2 comentários:

CCz disse...

Que versos...
Senti-me transportado para uma estrada rural, senti o cheiro da terra molhada pela gentil chuva, ouvi o chilrear das andorinhas, o anúncio territorial dos piscos, o coaxar das rãs...

Anónimo disse...

Já agora, diga-nos quem é R. Pessoas assim, vale a pena saber quem são.