27.10.10

A SÍNDROME MÁRIO CRESPO


Mário Crespo - escolho-o porque ilustra perfeitamente o fenómeno - tem dois ódios de estimação, a saber, o PR e o 1º ministro. Também não sou dado a gostar especialmente de Sócrates a não ser dos fatos. Mas, sobretudo em televisão, o que releva (ou devia relevar) é ajudar os que a estão a ver a pensar e não transformá-los em putativos estagiários de um remake misto de O Crime com a revistinha Maria. Ora Crespo (e por Crespo quero referir-me a um plural majestático), com as suas obsessões "temáticas", arrasta notícias e convidados para o propósito do dia que tem na cabeça. É lamentável que muitos dos convidados se deixem arrastar para as "conclusões" que o "crespismo" já traz preparadas de casa e que dão para horas e dias de "formação". Defensor indisputável da liberdade de expressão, julgo que o "crespismo" - nas suas variantes mais ou menos populares que incluem comentários anónimos na web - deve florescer até como exemplo do que o ressabiamento pode fazer a pessoas inteligentes. Nunca leram Richard Rorty, pois não? Ou mesmo Proust ou Oscar Wilde? Então leiam porque dito assim parece tirada "ao lado". Não é. Quem não aprende a redescrever-se ironisticamente ou a intuir em cada momento da nossa vida a pura contingência dela, não anda cá a fazer nada.

6 comentários:

joshua disse...

Ainda assim, o crespismo cumpre um papel salubre que não devemos temer ou punir.

Lembras-te do teu gonçalvismo e do meu joshuanismo.

Carlos Dias Nunes disse...

Crespo é um verdadeiro case study, desde o tempo em que locutou na SABC do "apartheid".
A certa altura, meteu na cabeça que o Prof. Cavaco Silva teve a ver com uma alegada perseguição de que terá sido alvo na RTP.
Daí não sai - e o pior é que, não saindo, repetidamente tenta arrastar para a coisa os participantes nos seus programas televisivos.
Nada a fazer, é?

Anónimo disse...

...verdade verdadinha é a circunstância de que, quando o país estava sob o manto dos Big Brothers só tiveram coragem para os enfrentar a Manuela Moura Guedes, o José Eduardo Moniz e o Mário Crespo que, por mera coincidência, num país em que se finge haver transparência quando, de facto, as resoluções são tomadas nos bastidores pelas comadres, foram ou deslocados ou saneados ou quase...Faz cá falta a Vera Lagoa, essa sim, uma mulher de Honra e Armas, que pôs muitos homens num chinelo quando das investidas em matilhas...

Anónimo disse...

Muito bem. Como sempre.
É mesmo como descreve que funciona o crespismo.E muito bem a referência ao plural majestático. Ele há muitos mais Crespos.

Anónimo disse...

País de palhaços, por Mário Crespo

"O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada.
O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem. O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso.
O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto.
O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços.
O palhaço coloca notícias nos jornais.
O palhaço torna-nos descrentes.
Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si.
O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico, seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo.
Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa.
O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros, vociferando insultos.
O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas.
O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também.
O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem.
O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres.
O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada. Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar, como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria.
E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais, saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar. E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha.
O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político.
Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar.
A escolha é simples. Ou nós, ou o palhaço."

josé carvalho disse...

Caro Dr. João Gonçalves
O jornalista M.Crespo, mesmo com o seu "crespismo", é do melhor que há na nossa praça. Existem outros filões para explorar, como por exemplo os inúmeros jornaleiros que navegam ao sabor dos ventos predominantes. Afinfe nestes.
E já agora, quem simultaneamente não gosta de Cavaco e Sócrates só pode ser boa pessoa. Sem ofensa.
- Aproveito para lhe dar os parabéns pelo seu Blog, é do melhor que há.