11.10.07

PENSAR NISTO

Adianta lançar livros como os de José Pacheco Pereira? Interessa "pensar" a política e a vida partidária num contexto oportunista, medíocre e de curto prazo da acção política? Ganha-se em meditar no funcionamento do "sistema" democrático e da plutocracia partidária? Não tenho a certeza. O último grande doutrinador político começou com vinte e poucos anos a preparar o "sei o que quero e para onde vou". Deixou resmas de artigos, discursos e textos puramente doutrinários que andam por aí a ser devidamente relidos. Salazar foi sempre um cínico adepto do politique d'abord apesar da academia e do CADC. Marcello Caetano era de outra "criação" e um intelectual puro. Esquematizou a política como fazia nos seus brilhantes livros de direito público e isso rapidamente tornou-se fatal. A democracia não produziu doutrinadores. Lugares-comuns fizeram líderes partidários e presidentes da República. Só Eanes despertava algum interesse com os famosos discursos "tomba-governos" do "25 de Abril", numa altura em que o PR não era um mero ornamento tolerado pelos partidos. Soares e Sampaio tiveram os mesmos "mestres-escola" e os mesmos escribas em mandatos pautados pela vertigem mole do consenso. À excepção de Francisco Lucas Pires, não me recordo de mais nenhum dirigente partidário com munus intelectual para além da espuma, dos votinhos e das cadeiras. Cavaco aguentou dez anos no limiar do grau zero do "pensamento político" e voltará a ter graça quando começar a denunciar o embuste socrático num segundo mandato. Guterres era apenas simpático e leve. Barroso nunca chegou a largar o pragmatismo do "livro vermelho" adaptado à sua circunstância. Sócrates tentou impressionar com a inenarrável entrevista ao Expresso onde citou toda a gente sobretudo a que nunca leu. Rapidamente meteu a viola no saco quando percebeu que lhe bastava simplesmente não falar e usar os mesmos fatos e gravatas para implantar uma "ideologia" de sucesso. Preside, por acaso, ao PS e ao governo, mas também podia perfeitamente presidir a outro partido e a outro governo que não se dava pela diferença. Homens indiferentes, dotados da "paixão indiferente" do protagonista de Musil mandam presentemente em nós. Pacheco Pereira que, apesar de tudo, foi líder parlamentar, deputado, eurodeputado e líder de uma distrital partidária, ainda se preocupa em ir para além "disto". Do lado do PS, só me ocorre Manuel Maria Carrilho. A democracia, pelos vistos, não convida a pensar. Convinha que ela pensasse nisto.

11 comentários:

Anónimo disse...

Acho que está muito enganado.

A democracia convida a pensar "os melhores de nós".

E Pacheco Pereira é, definitivamente, um "dos melhores de nós".

E mostra-o precisamente quando a democracia está em crise. Que é quando mostramos de que fibra somos feitos.

rm

aviador disse...

Pacheco o ex-aoquista, seja lá o que for, agora é igual a todos eles.

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Anónimo disse...

E Mota Pinto ou Sá Carneiro?

Anónimo disse...

Já não se pode ouvir a expressão «democracia». Se houvesse democracia, não se nos rebentava os ouvidos com a expressão «democracia». A coisa fluía sem ruído, sem esta ensurdecedora bulha que nos induz a nostalgia da seriedade, da profundidade, afinal do discurso dos homens de Estado.
Há já mesmo quem questione a «soberania popular irrestrita», para efeito de uma classe política com qualidade e distinção.
A verdade é que isto está miserável. Há muito tempo.

Anónimo disse...

Se não houver corrupção a democracia deixa de ser o nome podre de um sistema idealista para poder ser algo que efectivamente melhora a vida dos cidadãos.

Anónimo disse...

É um regime a que somos alheios.Importado,fica-nos curto nas mangas (parafraseando o outro...).Este impulso irresistível para macaquear o que se faz "lá fora"...

Anónimo disse...

Guterres meditou ... meditou ... profetizou ... e, visionário como era, imaginou o país enterrado num "LAMAÇAL".

Sentindo-se impotente para "secar" a lama e "limpar" o país que, ao tempo, sofria de males de "abutre", num acto de muita coragem, considerado heróico por oportunistas e lambe-botas, "saiu" de cena, apressadamente, sem se preocupar em fechar a porta.

Eis que, com a porta aberta, entra o Durão de "tanga", vestuário próprio para "navegar" no LAMAÇAL.

Divinos apelos chamaram Durão para o centro Europeu e, aceitando (com muita relutância, diga-se) salvar "a união", lá foi ele, feito peregrino, para o BEM-BOM ; deixou-nos poucas saudades e muitas "tangas", disse que voltava e voltou mas ... só de visitas (muito breves).

Depois ... bem, depois tivemos uma espécie de pesadelo, que ainda ninguém soube explicar : foram tempos de ciclones, tempestades, de ficção e, quando voltámos à realidade, estávamos de "tanga" a votar para sairmos do LAMAÇAL e entrarmos no LODAÇAL ... onde, até agora, nos encontramos ... até quando (?), não sabemos mas ... parece que já se passaram séculos !

Os últimos capítulos da nossa história recente são cinzentos demais para ficarem escritos : decerto os nossos netos não vão pensar bem de nós !

Resta-nos rezar, mesmo que sejamos ateus, para que se cumpra uma única "promessa" : os CENTO E CINQUENTA MIL NOVOS EMPREGOS ... é a nossa última esperança !

Anónimo disse...

Na verdade só políticos excepcionais se libertam do abraço de jibóia do Estado com os seus interesses há muito instalados,corporações,negócios...

Os que temos limitam-se a pedir aos santinhos que a economia da UE ande bem e que os 5 anos de mandato passem ràpidamente para se candidatarem a PR!

Pouco podem!

Anónimo disse...

EXCELENTE Post!

Estava mesmo inspirado ...
Há muito que não escrevía assim

Anónimo disse...

Gostei de ler o que escreveu,
com algumas petulâncias,
até "Do lado do PS, só me ocorre Manuel Maria Carrilho."
Estragou tudo.

David R. Oliveira disse...

Os meus parabéns!
um excelente escrito, simplesmento. Muito em pouco.
David Oliveira