6.7.09

ELEMENTAR


Não é preciso ser de esquerda ou de direita para subscrever isto, caso contrário o ministério deixa de fazer sentido algum. Manuel Maria Carrilho, num documento desprezado pelo "coordenador do programa eleitoral" do PS enquanto presidente da Fundação Respublica (um ersatz das "fronteiras" para compagnons de route), já tinha dito o mesmo por outras palavras. «Uma política cultural digna desse nome deve – até por imperativo constitucional – permear todas as restantes áreas de acção do Governo. Não pode reduzir-se a intervenções casuísticas relacionadas com o Turismo ou a Economia, e muito menos estar subordinada à lógica destas. Exige, pelo contrário, uma articulação persistente e ágil, especialmente com o sector da Educação, cujas batalhas nunca serão ganhas sem a participação plena da Cultura em todos os graus de ensino e de aprendizagem. É assim urgente que seja considerado um imperativo nacional, naturalmente trans-partidário, que a Cultura tenha no seu Ministério o exemplo da sua indiscutível dignidade. É exigível que se redefina e se dê finalmente conteúdo a uma verdadeira Política Cultural, que se estabeleçam objectivos, clarifiquem funções, assumam responsabilidades e metas. E que o discurso politico, em vez de as fomentar – pela sua gaguez ou pelo seu excesso retórico – estanque o cíclico uso e abuso de “novidades” e de “anúncios” que apenas desresponsabilizam em relação à necessária maturação dos meios de produção, de criação, de circulação e de consumo culturais.»


«Contraponto»: «É necessário "rasgar" de forma muito acentuada a subsídio-dependência na área da cultura, remetendo quer para as autarquias a "animação cultural", quer para ministérios próprios (Economia, Comércio e em particular Educação) o financiamento de actividades de "indústria cultural", ou de "formação cultural". Os recursos aí libertados devem ser canalizados para uma política cultural essencialmente patrimonial, destinada a salvaguardar o nosso património, a que apenas chega uma parte muito reduzida dos escassos recursos da cultura.»

3 comentários:

Anónimo disse...

Era bom que o documento se materializasse em medidas concretas e concretizáveis. Um dos grandes problemas da área da Cultura é a falta de pragmatismo, por um lado, e por outro, a secundarização a que é relegada mesmo que nos discursos se encha a boca com o tema. Quando chega a hora...
Idealiza-se o consolado Carrilho como se tivesse sido um período iluminado. Foi o que foi e não conseguiu vingar. Lembram-se porquê? Somos pródigos em enaltecer o ex-futuro que não tivemos e poderíamos ter tido se tivéssemos querido e não se quis ou tivéssemos deixado. Enquanto a Cultura for vista como um mero projecto de afirmação política e pessoal de um qualquer agente individual, não saíremos do efeito anúncio ou da realização de iniciativas soltas ao sabor de interesses passageiros, sem um rumo, sem aquilo por que todos reclamam agora - uma política cultural. Analise-se o presente e construa-se uma linha de actuação. Já agora, renove-se. Misture-se a experiência com o sangue novo. O problema da área começa nas pessoas que estão ancoradas há anos sem fim a dar o seu melhor, com certeza, mas desmotivadas, presas a pré-conceitos e à sobrevivência diária do seu posto de trabalho. Sem uma atitude lúcida e sensata de análise crítica não se vai nunca partir para um caminho melhor. No dia em que as pessoas da área se apresentarem credíveis e com peso, serão levadas a sério e conseguirão impor os seus argumentos. Chega de justificar os insucessos ou as incapacidade crónicas com a falta de visão ou a incompreensão dos outros, nomeadamente das gentes das Finanças e da Economia.

l. neves

joshua disse...

Tudo o que é plagiado é bom. O Zero em visão Cultural no XVII Governo Constitucional resume o Zero em quase tudo.

Houve ilustres que se queixaram de Santana e de Carrilho enquanto MCs? Para mal geral, alguns só têm o que merecem.

Anónimo disse...

O ministério da cultura (com letra pequena)anda a reboque dos ditames do Ministro da Economia e do turismo de Portugal. Que outra justificação para avançar com o projecto para o Museu dos Coches, em que quem comanda o processo é o Turismo, para supostamente aumentar o número de visitas do actual museu para 1 milhão!! Não interessa se o projecto é mau, se não responde ao programa, mas apenas se destina a "promover" o dito turismo, ou os interesses de alguns. Gastar 30 milhões de euros num museu que não é preciso é mau demais! Sobretudo num país em crise. Até parece que somos ricos!