5.4.09

UM LUGAR À MESA


«Houve sempre na cultura portuguesa a ideia de que política serve, e deve servir, para enriquecer. A corte de D. João VI roubava por direito e tradição. Depois da guerra civil, em 1834, os liberais roubaram a Coroa e a Igreja como quiseram. Os "cabralistas" roubaram tanto, que mesmo na altura se achou um exagero. Na Regeneração e no "Rotativismo" toda a gente roubava disciplinadamente com método e com ordem. Durante a República, a rapidez com que mudavam os governos não permitiu que se roubasse muito (excepto por um pequeno prédio ou um ou outro bocadinho de terra). E Salazar, se não roubou ele próprio (uma virtude por que incessantemente o louvaram), deixou roubar a eito a vassalagem do regime. Portugal nunca brilhou por uma grande honestidade cívica. Pior do que isso, antes do "25 de Abril", o povo nunca se importou: gostava imenso de Saldanha, o maior tratante, e recebia uma espórtula em espécie ou em favores pelo voto que ia dar a quem lhe mandavam. O "25 de Abril" só aparentemente mudou esta vida. A cidadania elege e reelege criaturas de que a polícia suspeita e que os tribunais puniram, como quem os recompensa por trabalhos de mérito. E, a começar por Sá Carneiro, nenhum chefe nacional ou local alguma vez se prejudicou por o acusarem de pecados veniais como corrupção ou ladroeira. O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa.»

Vasco Pulido Valente, Público

5 comentários:

Anónimo disse...

"O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa."

Pois é, pois é... Aqui está o problema. Acho que alguns tugas ainda admiram mais o inequívoco líder por esta trapalhada e este encher de bolsos da "fripór".

Acho que já escrevi isto: só volto a acreditar "nisto" como País, como Nação, se este "bem vestidinho" for inequivocamente corrido na primeira oportunidade, isto é, lá para Setembro ou Outubro, em princípio. Mas a coisa vai começar a desenhar-se em Junho.

PC

fado alexandrino. disse...

e não se importava de arranjar um lugar à mesa

Sempre achei muito curioso os portugueses a escreverem sobre defeitos dos tugas.

Aposto que VPV se lhe lessem a frase que se destaca, ficava horrorizado por pensarem que ele também podia pensar assim.

joshua disse...

O Fado parece mais um atacado de 'câncionite', forma avançada de padecer de proctologia óptica.

Anónimo disse...

na altura do prec dizia-se
«quem roubou, roubou,
quem não rubou, roubasse!»

radical livre

Anónimo disse...

Participei uma vez na elaboração de um abaixo assinado a nível local que pretendia por termo a uma situação que envolvia um caso escandaloso de (suposta...)corrupção autárquica (caso esse que chegou a ser noticiado pelo Público em 2005). A adesão, foi baixa, e não conseguimos ultrapasar as 80 assinaturas, muitas das quais pertenciam a familiares dos organizadores de tal iniciativa. Após ter sido enviado para a comunicação social local (só um jornal noticiou e não era da região em causa, pois os três jornais da região nunca noticiaram o protesto), vários membros do partido que se encontrava no poder da câmara municipal em causa (a saber, o PS) pressionaram vários assinantes, ameaçando que iriam perder vários clientes nos seus negócios (lojas, farmácia, construção, etc), o que levou muitos daqueles que tinham assinado a pedirem para retirar a assinatura... Quatro anos passaram e o caso não teve qualquer desenvolvimento...