«Houve sempre na cultura portuguesa a ideia de que política serve, e deve servir, para enriquecer. A corte de D. João VI roubava por direito e tradição. Depois da guerra civil, em 1834, os liberais roubaram a Coroa e a Igreja como quiseram. Os "cabralistas" roubaram tanto, que mesmo na altura se achou um exagero. Na Regeneração e no "Rotativismo" toda a gente roubava disciplinadamente com método e com ordem. Durante a República, a rapidez com que mudavam os governos não permitiu que se roubasse muito (excepto por um pequeno prédio ou um ou outro bocadinho de terra). E Salazar, se não roubou ele próprio (uma virtude por que incessantemente o louvaram), deixou roubar a eito a vassalagem do regime. Portugal nunca brilhou por uma grande honestidade cívica. Pior do que isso, antes do "25 de Abril", o povo nunca se importou: gostava imenso de Saldanha, o maior tratante, e recebia uma espórtula em espécie ou em favores pelo voto que ia dar a quem lhe mandavam. O "25 de Abril" só aparentemente mudou esta vida. A cidadania elege e reelege criaturas de que a polícia suspeita e que os tribunais puniram, como quem os recompensa por trabalhos de mérito. E, a começar por Sá Carneiro, nenhum chefe nacional ou local alguma vez se prejudicou por o acusarem de pecados veniais como corrupção ou ladroeira. O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa.»
Vasco Pulido Valente, Público
Vasco Pulido Valente, Público
5 comentários:
"O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa."
Pois é, pois é... Aqui está o problema. Acho que alguns tugas ainda admiram mais o inequívoco líder por esta trapalhada e este encher de bolsos da "fripór".
Acho que já escrevi isto: só volto a acreditar "nisto" como País, como Nação, se este "bem vestidinho" for inequivocamente corrido na primeira oportunidade, isto é, lá para Setembro ou Outubro, em princípio. Mas a coisa vai começar a desenhar-se em Junho.
PC
e não se importava de arranjar um lugar à mesa
Sempre achei muito curioso os portugueses a escreverem sobre defeitos dos tugas.
Aposto que VPV se lhe lessem a frase que se destaca, ficava horrorizado por pensarem que ele também podia pensar assim.
O Fado parece mais um atacado de 'câncionite', forma avançada de padecer de proctologia óptica.
na altura do prec dizia-se
«quem roubou, roubou,
quem não rubou, roubasse!»
radical livre
Participei uma vez na elaboração de um abaixo assinado a nível local que pretendia por termo a uma situação que envolvia um caso escandaloso de (suposta...)corrupção autárquica (caso esse que chegou a ser noticiado pelo Público em 2005). A adesão, foi baixa, e não conseguimos ultrapasar as 80 assinaturas, muitas das quais pertenciam a familiares dos organizadores de tal iniciativa. Após ter sido enviado para a comunicação social local (só um jornal noticiou e não era da região em causa, pois os três jornais da região nunca noticiaram o protesto), vários membros do partido que se encontrava no poder da câmara municipal em causa (a saber, o PS) pressionaram vários assinantes, ameaçando que iriam perder vários clientes nos seus negócios (lojas, farmácia, construção, etc), o que levou muitos daqueles que tinham assinado a pedirem para retirar a assinatura... Quatro anos passaram e o caso não teve qualquer desenvolvimento...
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