O artigo desta semana de Eduardo Cintra Torres, no Público, coloca duas questões interessantes. A primeira, a propósito dos "debates" na TVI24 - "Roda Livre", com Pulido Valente, Rui Ramos e, agora, Villaverde Cabral depois da saída do "correia de transmissão" de Campos, "Cara a Cara" com Santos Silva e Morais Sarmento e "A Torto e a Direito", com Francisco José Viegas, Pereira Coutinho e Fernanda Câncio, "moderados" por Constança Cunha e Sá - acerca do poder de influência de algumas pessoas sobre as outras. No caso do "Roda Livre", é manifesta a veneração (intelectual, académica, pessoal ou whatever) de Rui Ramos por Pulido Valente. E também é notória a "preguiça" de Pulido Valente em ir mais além na televisão do que vai nas três crónicas do Público. Basta ouvi-lo neste programa ou com Moura Guedes, às sextas, para saber o que já apareceu ou vai aparecer em letra de forma, no jornal, entre sexta e domingo.
«Pulido Valente revelava preparar para as suas aparições mediáticas semanais quase só três temas, repetindo-os entre quinta e domingo neste programa, no Jornal Nacional de 6ª e nos comentários de fim de semana no PÚBLICO; sendo ele um dos comentadores mais originais, cultos e que mais bem escrevem, é uma pena que Pulido Valente banalize Pulido Valente. Quanto a Rui Ramos, a sua submissão intelectual (no bom sentido) a Pulido Valente diminuiu francamente a qualidade da sua participação e reduziu o impacto das suas ideias.»
No "Cara a Cara", "moderado" por Paulo Magalhães, este praticamente não existe perante duas personalidades "fortes" como o actual e um ex-ministro da propaganda, apesar de Sarmento não revelar qualquer tipo de temor reverencial (antes pelo contrário, demonstra por vezes saudáveis sinais de justo desprezo) perante Santos Silva.
«Neste programa, o ministro mostra a sua total incapacidade e, simbolicamente, do governo de que é porta-propaganda, para ouvir o outro, para respeitar as regras do debate democrático, interrompendo sistematicamente o oponente com o mesmo objectivo que leva a central da propaganda a abafar a oposição: para que não a oiçamos. Morais Sarmento perdeu a paciência num dos últimos programas e, se Santos Silva não moderar a sua tentação totalitária, o programa estará condenado à luta livre.Tal como acontecia em Roda Livre, na qual Correia de Campos era o único representando a direcção dum partido (“o” partido), e tal como sucede na RTP1 com Marcelo R. de Sousa (PSD não alinhado) e A. Vitorino (nº2 do PS e conselheiro pessoal do primeiro-ministro), há em Cara a Cara um claro desequilíbrio entre os dois partidos do centrão, pois Sarmento apresenta-se com uma razoável margem de manobra: defende amiúde posições contrárias às do PSD e às vezes defende posições de escritórios de advogados.»
No "A Torto e a Direito" é confrangedor assistir àquilo a que, por delicadeza, chamo de "efeito Câncio" sobre três pessoas inteligentes. Cintra Torres porventura não sabe mas eu sei que Câncio "fez-se" convidada para aparecer na TVI. "Mandou recado" e, pelos vistos, Constança Cunha e Sá absorveu-o na perfeição. Aquando dos debates sobre a interrupção voluntária da gravidez, conheci a Fernanda e mantive com ela um entendimento civilizado, cordato e amigável apesar das divergências. Nessa altura a Fernanda tinha uma "agenda" com que eu não concordava mas que se podia discutir. A Fernanda era, em suma, uma jornalista com opiniões e uma opinadora que era jornalista. Agora não tenho a certeza do que é que ela é e em que qualidade se manifesta. O que sei é que, até pela posição solitária que ocupa no espaço cénico do programa, Câncio tornou-se o seu "pivot" já que Constança não serve para "moderadora". Câncio é o programa e o programa é o que Câncio quis fazer dele. Ela lá sabe porquê.
«A Torto e a Direito reúne Fernanda Câncio, Francisco José Viegas e João Pereira Coutinho, com moderação de Constança Cunha e Sá. Câncio consegue a proeza de estragar um programa com quatro à volta de uma mesa. Como Santos Silva, mostra-se incapaz de ouvir o outro e aceitar ideias alheias. Revela ao vivo na TV a mesma intolerância que transpira da sua opinião no DN e dos postes em blogues, nestes roçando a má-criação. Acresce que, inesperadamente ou não, ela se tem apresentado no programa, qual Correia de Campos ou Santos Silva, como defensora das posições do PS-governo. Numa emissão recente, alinhou com a “campanha negra” de Sócrates e Santos Silva a respeito do Freeport, acusando, sem apontar quaisquer falhas factuais, os colegas jornalistas que têm investigado ou noticiado o caso. Câncio transformou-se na menina mimada do regime socretista. Viegas, com grande experiência televisiva e grande empatia com a câmara e os espectadores, e Coutinho, comentador de excelência na imprensa (Única, Correio da Manhã) agora em estreia na TV, sucumbem à cizânia de Câncio e não conseguem intervenções articuladas e de interesse televisivo. Cunha e Sá também não está habituada ao estilo de Câncio e não controla minimamente o programa, o qual, além de desinteressante, se torna irritante, mas como a lixívia.»
Como conclui Cintra Torres, «o PS-governo fica prisioneiro nas suas críticas à TVI pela sua presença directa ou indirecta nestes programas. Só que, com esta estratégia da aranha quem perdeu ou perde são os próprios programas e principalmente os seus espectadores. É insalubre que haja pessoas tão próximas do círculo dum primeiro-ministro, quem quer que ele seja, em programas de debate e comentário.» A segunda questão do artigo, regressa - alguma vez saímos? - a Santos Silva e ao seu extraordinário e simultâneo papel de ministro da propaganda e de "comentador" televisivo em permanência.
«Ministros comentadores foi coisa que nunca existiu nos governos constitucionais, fossem de Soares, Sá Carneiro, Balsemão, Cavaco Silva ou Barroso. Desde o 25 de Abril, só o PS pós-soarismo teve ministros no activo como comentadores de TV e rádio, o que revela um padrão do novo PS, prefigurando uma deriva de tom totalitário num partido que se afastou dos fundadores da democracia. José Magalhães, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares com Guterres, foi comentador do Flashback, na TSF.Pina Moura, ministro das Finanças de Guterres, comentava à quinta-feira na Rádio Renascença, debitando a agenda do Conselho de Ministros. Guilherme de Oliveira Martins, ministro da Educação com Guterres, foi comentador no programa Prova dos Quatro, da Renascença. Quis sair quando passou a ministro da Presidência por ter a tutela da Comunicação Social. Foi substituído por José Sócrates, ministro do Ambiente de Guterres. Sócrates (sempre ele), foi governante comentador da SIC e da RTP1. Emídio Rangel levou-o da SIC para a RTP1. Este percurso mediático (e não o político) catapultou-o a líder do PS: Sócrates é a criatura que Rangel vaticinava poder fazer chegar ao poder como se fosse um sabonete. Agora é Santos Silva, o ministro da tutela da informação, quem “comenta” a vida política de que é um dos protagonistas. Além de Sócrates e Santos Silva, só houve mais um governante, se bem me lembro, comentador habitual da política em televisão: foi, antes do 25 de Abril, Marcelo Caetano, nas Conversas em Família (RTP1). Fazem um belo trio.»
Não é preciso dizer mais nada.
«Pulido Valente revelava preparar para as suas aparições mediáticas semanais quase só três temas, repetindo-os entre quinta e domingo neste programa, no Jornal Nacional de 6ª e nos comentários de fim de semana no PÚBLICO; sendo ele um dos comentadores mais originais, cultos e que mais bem escrevem, é uma pena que Pulido Valente banalize Pulido Valente. Quanto a Rui Ramos, a sua submissão intelectual (no bom sentido) a Pulido Valente diminuiu francamente a qualidade da sua participação e reduziu o impacto das suas ideias.»
No "Cara a Cara", "moderado" por Paulo Magalhães, este praticamente não existe perante duas personalidades "fortes" como o actual e um ex-ministro da propaganda, apesar de Sarmento não revelar qualquer tipo de temor reverencial (antes pelo contrário, demonstra por vezes saudáveis sinais de justo desprezo) perante Santos Silva.
«Neste programa, o ministro mostra a sua total incapacidade e, simbolicamente, do governo de que é porta-propaganda, para ouvir o outro, para respeitar as regras do debate democrático, interrompendo sistematicamente o oponente com o mesmo objectivo que leva a central da propaganda a abafar a oposição: para que não a oiçamos. Morais Sarmento perdeu a paciência num dos últimos programas e, se Santos Silva não moderar a sua tentação totalitária, o programa estará condenado à luta livre.Tal como acontecia em Roda Livre, na qual Correia de Campos era o único representando a direcção dum partido (“o” partido), e tal como sucede na RTP1 com Marcelo R. de Sousa (PSD não alinhado) e A. Vitorino (nº2 do PS e conselheiro pessoal do primeiro-ministro), há em Cara a Cara um claro desequilíbrio entre os dois partidos do centrão, pois Sarmento apresenta-se com uma razoável margem de manobra: defende amiúde posições contrárias às do PSD e às vezes defende posições de escritórios de advogados.»
No "A Torto e a Direito" é confrangedor assistir àquilo a que, por delicadeza, chamo de "efeito Câncio" sobre três pessoas inteligentes. Cintra Torres porventura não sabe mas eu sei que Câncio "fez-se" convidada para aparecer na TVI. "Mandou recado" e, pelos vistos, Constança Cunha e Sá absorveu-o na perfeição. Aquando dos debates sobre a interrupção voluntária da gravidez, conheci a Fernanda e mantive com ela um entendimento civilizado, cordato e amigável apesar das divergências. Nessa altura a Fernanda tinha uma "agenda" com que eu não concordava mas que se podia discutir. A Fernanda era, em suma, uma jornalista com opiniões e uma opinadora que era jornalista. Agora não tenho a certeza do que é que ela é e em que qualidade se manifesta. O que sei é que, até pela posição solitária que ocupa no espaço cénico do programa, Câncio tornou-se o seu "pivot" já que Constança não serve para "moderadora". Câncio é o programa e o programa é o que Câncio quis fazer dele. Ela lá sabe porquê.
«A Torto e a Direito reúne Fernanda Câncio, Francisco José Viegas e João Pereira Coutinho, com moderação de Constança Cunha e Sá. Câncio consegue a proeza de estragar um programa com quatro à volta de uma mesa. Como Santos Silva, mostra-se incapaz de ouvir o outro e aceitar ideias alheias. Revela ao vivo na TV a mesma intolerância que transpira da sua opinião no DN e dos postes em blogues, nestes roçando a má-criação. Acresce que, inesperadamente ou não, ela se tem apresentado no programa, qual Correia de Campos ou Santos Silva, como defensora das posições do PS-governo. Numa emissão recente, alinhou com a “campanha negra” de Sócrates e Santos Silva a respeito do Freeport, acusando, sem apontar quaisquer falhas factuais, os colegas jornalistas que têm investigado ou noticiado o caso. Câncio transformou-se na menina mimada do regime socretista. Viegas, com grande experiência televisiva e grande empatia com a câmara e os espectadores, e Coutinho, comentador de excelência na imprensa (Única, Correio da Manhã) agora em estreia na TV, sucumbem à cizânia de Câncio e não conseguem intervenções articuladas e de interesse televisivo. Cunha e Sá também não está habituada ao estilo de Câncio e não controla minimamente o programa, o qual, além de desinteressante, se torna irritante, mas como a lixívia.»
Como conclui Cintra Torres, «o PS-governo fica prisioneiro nas suas críticas à TVI pela sua presença directa ou indirecta nestes programas. Só que, com esta estratégia da aranha quem perdeu ou perde são os próprios programas e principalmente os seus espectadores. É insalubre que haja pessoas tão próximas do círculo dum primeiro-ministro, quem quer que ele seja, em programas de debate e comentário.» A segunda questão do artigo, regressa - alguma vez saímos? - a Santos Silva e ao seu extraordinário e simultâneo papel de ministro da propaganda e de "comentador" televisivo em permanência.
«Ministros comentadores foi coisa que nunca existiu nos governos constitucionais, fossem de Soares, Sá Carneiro, Balsemão, Cavaco Silva ou Barroso. Desde o 25 de Abril, só o PS pós-soarismo teve ministros no activo como comentadores de TV e rádio, o que revela um padrão do novo PS, prefigurando uma deriva de tom totalitário num partido que se afastou dos fundadores da democracia. José Magalhães, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares com Guterres, foi comentador do Flashback, na TSF.Pina Moura, ministro das Finanças de Guterres, comentava à quinta-feira na Rádio Renascença, debitando a agenda do Conselho de Ministros. Guilherme de Oliveira Martins, ministro da Educação com Guterres, foi comentador no programa Prova dos Quatro, da Renascença. Quis sair quando passou a ministro da Presidência por ter a tutela da Comunicação Social. Foi substituído por José Sócrates, ministro do Ambiente de Guterres. Sócrates (sempre ele), foi governante comentador da SIC e da RTP1. Emídio Rangel levou-o da SIC para a RTP1. Este percurso mediático (e não o político) catapultou-o a líder do PS: Sócrates é a criatura que Rangel vaticinava poder fazer chegar ao poder como se fosse um sabonete. Agora é Santos Silva, o ministro da tutela da informação, quem “comenta” a vida política de que é um dos protagonistas. Além de Sócrates e Santos Silva, só houve mais um governante, se bem me lembro, comentador habitual da política em televisão: foi, antes do 25 de Abril, Marcelo Caetano, nas Conversas em Família (RTP1). Fazem um belo trio.»
Não é preciso dizer mais nada.
2 comentários:
"Isto" está mesmo entregue à bicharada. Mais uma vez, ou correm com o "sokas" (por ele e por tudo o que representa) A.S.A.P. ou "isto" deixa de ser nação. Não sei como, mas deixa.
PC
Tem de haver quem pense e escreva o que tantos de nós vemos e sofremos: o apetite de este PS sôfrego não tem limites e viciou-se em mediatismo. Não algum, mas todo o possível.
Temos por isso mesmo de questionar se esta horda de sorridentes mediáticos efectivamente governa alguma coisa ou afinal Controla e Asfixia as nossas pequenas pretensões democráticas.
Enviar um comentário