«Com 13 presenças, o governo continua inamovível no top, dado que o Prós & Prós é o programa do governo, pelo governo e para o governo. O “debate” da segurança interna foi mais um exemplo desta servidão governamental. Serviu para o ministro da Administração Interna recuperar alguma face perante estatísticas e críticas recentes. O ministro jantou antes do programa num restaurante de Belém com o comandantes geral da GNR, com o director nacional da PSP e com o secretário-geral da Segurança Interna, que ficou ao seu lado no palco. O comandantes da GNR e da PSP ficaram na plateia, prestando-se a servir de jarrões de flores ministeriais, quase sem terem direito à palavra e inscrevendo-se, pelo que disseram e pelo silêncio, no discurso do ministro de quem dependem (e com quem tinham acabado de jantar), assim desprestigiando as suas instituições. Não admira que pelo menos um dirigente sindical das polícias tenha sido censurado por Fátima Campos Ferreira, transformada em assessora do governo com o pelouro do mais notório programa de controle da agenda informativa. A fraude viu-se, entre outros elementos, pela intervenção de cada participante. Rui Pereira dominou o debate em intervenções e em tempo. A plateia forneceu fardas e só serviu para fingir “debate”. À parte uma participação do presidente do Observatório da Segurança, Garcia Leandro, a plateia fez de bibelot: o programa teve quase duas horas e, ao fim da segunda parte, ultrapassando uma hora, só tinha havido uma mini-intervenção dum dos supostos participantes da plateia. Não é demais dizê-lo: o Prós & Prós é uma peça central no agenda-setting do governo e na sua estratégia comunicacional de aplacar críticas e de tentar o volte-face em áreas sectoriais. Num operador público decente, este programa não existiria. Mas Campos Ferreira e a Direcção de Informação da RTP prestam paulatinamente vassalagem ao governo; e com eles colaboram, afinal, todos os partidos da oposição, do PP ao BE, ao avalizarem com a sua presença esta fraude do jornalismo e do debate sério. Se tivessem coragem, os partidos da oposição deixavam de participar neste beija-mão ao governo, deixando-o a falar sozinho ou com as corporações salazaristas. Mas vivem na miragem das migalhas do tempo de antena, que só servem, afinal, para abrilhantar a propaganda governamental.»
Eduardo Cintra Torres, Público
Eduardo Cintra Torres, Público
3 comentários:
E pagamos nós esta Televisão e estes doidivanas. São dezenas de Euros por cada Português lançados ao vento.
O Director Nacional da PSP, então, logo que o ministro se preparava para falar, abanava violentamente a cabeça em sinal de concordância com o que ia ser dito...
Sim, tudo isto é desagradável, mas acontecem duas coisas muito simples.
Ela não se rala nada com estas críticas e está satisfeita e satisfaz o patrão.
Se o patrão mudar ela “não se rala nada com estas críticas e está satisfeita e satisfaz o patrão” que vier.
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