A Plataforma "Não, obrigada" entregou ontem na CNE as assinaturas necessárias para intervir como movimento cívico na campanha que se avizinha. No "movimento" a favor do "não" coexistem pensamentos muito diversos sobre a questão do aborto. E ninguém anda a policiar o que o vizinho do lado, da mesma causa, possa dizer. Temos a ideia de que, todos, somos uma única mensagem independentemente das respectivas proveniências. O correcto político, que se imagina dono da subtileza e da liberdade, vê em cada defensor do "não" um perigoso beato e uma ameaça aos "direitos". Como de costume, enganam-se. Também o "sistema" - falo do SNS e da sua tutela política - se engana. Com os hospitais públicos em transe - tesos, indisciplinados e incapazes de responder às maleitas dos portugueses que os pagam - Correia de Campos faz continhas ao que não é prioritário e despreza o essencial. Mesmo que a lei actual fosse alterada, e para além da consolação de meia dúzia de "militantes causalistas" que vêem no aborto a consagração de mais um método anticonceptivo, o que é que verdadeiramente mudava? Nada ou muito pouco. Os abortos clandestinos acabavam? Não. Pelo contrário, a vitória do "não" obrigaria finalmente o Estado a criar as condições para que, sempre que seja necessário, as excepções legais à criminalização da prática da interrupção voluntária da gravidez, aprovadas há tantos anos, possam ocorrer sem dramas institucionais ou pessoais. Conquistar a abstenção previsível para esta evidência, é um dos muitos trabalhos que temos pela frente até ao dia 11 de Fevereiro. Sem ironia, furtemos ao adversário um bom slogan: juntos, vamos conseguir.
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