10.11.06

DA GREVE AO PAPA

O melhor do Abrupto de hoje não é o "abrupto-feito-pelos-leitores-grevistas-e-anti-grevistas". Mesmo assim, vale a pena ler um ou outro para se perceber duas coisas fundamentais. A primeira, que o poder de compra e as condições de vida (o "trem" de que falavam as sebentas de direito da família) determinam - e muito - a decisão de fazer ou não fazer greve. Dois dias pesam como chumbo num orçamento familiar depauperado. Não há "consciências de classe" e tretas afins. Há, apenas, a carteira. E a carteira do "lugar-comum" - que é designação do 1º ministro para a classe média - está cada vez mais vazia. Em segundo lugar, parece, pelos depoimentos idiotas e populistas que as televisões mostram, que a "vida" do cidadão que não serve o Estado foi irremediavelmente marcada por estas paralisações e que, como escreve um leitor do Abrupto, bom mesmo é nivelar "por baixo" por causa da "inveja" nacional. É que, não sei se já deram por isso, é disso que se trata, é isso que o governo "explora", é disso que o governo anda a tratar, e a que a economia e o nosso sublime "empresariado" vão dando uma ajuda preciosa. Bom, mas não foi para isto que "chamei o Abrupto à colação". É porque fiquei satisfeito por Pacheco Pereira ter "descoberto" Joseph Ratzinger: "apercebemo-nos agora (...), que o papa Bento XVI foi um dos intelectuais que com mais importância e influência pelo seu papel em muitos documentos da Igreja, tratou destas questões [de reflexão identitária sobre a Europa, sobre as raízes civilizacionais da nossa história do "Ocidente"] ,em termos teológicos, filosóficos, históricos e culturais". Mais vale tarde que nunca.

9 comentários:

Anónimo disse...

http://avizgaleriadearte.com

Anónimo disse...

(...) "a "vida" do cidadão que não serve o Estado"(...)?

Mas há disso? Num país afogado numa voracidade fiscal verdadeiramente insaciável, e que se destina em boa medida a pagar um "Estado" absolutamente improdutivo e arrogante, haverá quem, de uma forma ou de outra, não acabe a servir o Estado?

Esse Estado que enreda o cidadão de tal forma que este está permanentemente em situação de devedor ou incumpridor (se um imposto está pago, outro há já a pagar; se uma taxa se não aplica, é porque outra se aplica, etc., etc.)...

Alguns haverá, excepções à regra que pouco mais fazem do que confirmá-la.

Anónimo disse...

A civilização superior do Ocidente, de ontem para hoje:
...Julgou-se Saddam porque Washington e Londres não evitaram nenhum do seus crimes, podendo tê-lo feito.
Ironia das ironias. Saddam foi julgado por ‘crimes contra a Humanidade’. O mais vulgar e impune dos crimes desde que o homem é homem. Saiu-lhe a taluda a ele.
Europeus (os grandes mestres) e americanos (os seus melhores aprendizes), como muitos outros, são autores e co-autores, insensíveis e descarados, desde há séculos, e diariamente, de gravíssimos crimes contra a Humanidade. E nunca deram por nada...
Correio Manhâ: artigo João Marques dos Santos
Zulu

Anónimo disse...

"É que, não sei se já deram por isso, é disso que se trata"
Nem sei o que seria de nós se não fosse o JG explicar-nos estas (e tantas outras...) coisas!

Quanto ao evocar JPP,
em vez de se pôr "em biquinhos dos pés",
puxe duma cadeira, e sente-se no chão.

Anónimo disse...

JG: Tens toda a razão. Que JPP tenha trocado os elogios ao bispo Januário pelos elogios ao papa Ratzinger é uma novidade digna de registo. Há aliás, no discurso mais recente de JPP, outras novidades que merecem consideração. O seu liberalismo económico, por exemplo. Convém, em todo o caso, ler JPP com m-u-i-t-o cuidado. E nunca esquecer a biografia do homem.

Anónimo disse...

Nunca vi o JPP elogiar as ideias do bispo Januário, mas como aqui se pode dizer o que se quiser... vale tudo para criticar o homem. O que o JPP diz hoje ouço-o dizer há pelo menos vinte e cinco anos, desde que começou a escrever no Semanário no tempo do Cunha Rego. Se fossem ler o que ele escreveu em vez de andar a repetir chavões sem memória e falsidades ficavam melhor. É nunca se deve esquecer a biografia do homem, o que não se deve é inventa-la para estar sempre a ataca-lo.

Anónimo disse...

Falando da função pública, parece estar encontrado o bode espiatório para o estado da nação... Todo bom português anda agora, mais do que nunca, com a mira no preguiçoso e sugador de recursos comuns que mais não faz que nadar em regalias e previlégios! A ignorancia não é desculpa para tudo, ou melhor a ignorancia não é desculpa (sem mais). Sou funcionário do estado e (surpresa) contribuo mais para o erário público que os funcionários com categoria equivalente no sector privado (em percentagem e atendendo ao facto de que não me chega nada por baixo da mesa). Por vezes dou comigo a imaginar se todos esses malandros saissem da função pública e fossem trabalhar para o sector privado. Se, na minha área (a Saúde), tudo entrasse na alçada do poder privado... Podem ter algumas certezas: Eu trabalharia o mesmo; receberia mais ao fim do mês; provavelmente descontaria menos!; com a veemente convicção de que o português comum (o do salário minimo e pouco mais) teriam muito menos hipóteses de serem servidos por um serviço de qualidade e principalmente em situação de igalidade, repito igualidade de tratamento. Acabem lá com o funcionalismo público numa prespectiva redutora, mandem todos os serviços para o sector privado... Por mim tudo bem! Posso pagar um seguro de Saúde razoável! E o resto dos portugues? Quando ouvirem: não fazemos a sua cirurgia ou o seu tratamento porque o seguro não cobre e o estado também não, vá morrer longe! Falo com conhecimento de causa tanto do sector público como do sector privado.
Já agora digam lá quais as regalias do funcionário público que ainda não vi...

Anónimo disse...

Também acho motivo de satisfação que o João Gonçalves afinal saiba tanto sobre Ratzinger que até possa avaliar JPP por ter manifestado interesse e, pelo que escreve no Abrupto, conhecimento nessa matéria.

É claro que teria sido muito mais interessante, em vez da pequena nota azeda e pretensamente sobranceira, ver aqui neste blogue, antes de JPP o ter feito, informação e análise pelo menos idêntica e de preferência melhor.

Mas isso deve dar muito trabalho. É que tem que se ler o livro. Mandar umas bocas é mais simples.

Anónimo disse...

Quando vi o título do post pensei que fosse um arremedo dos ensaios de Montaigne, no estilo "Da amizade"; "Da vaidade" e por aí afora.

Se assim fosse "Da (ou sobre) a greve ao Papa" parecer-me-ia um tema de grande relevo e merecedor de toda a atenção. Tanta greve que é feita - por vezes sem justificaçã aparente - por que não uma ao Papa?

O interesse de JPP talvez se explique pelo facto de o Papa ter enunciado os primeiros axiomas para uma encíclica do racismo e da islamofobia. Era natural que JPP ficasse fascinado.

Toque a campainha, Sr Pavlov. Toque.