24.11.06

UMA CAMPANHA ALEGRE


Estreei-me na Casa Fernando Pessoa, ao lado de Miss Pearls, um espaço magnífico agora entregue à argúcia e à imaginação do Francisco José Viegas, mais do que propriamente, se bem percebi, às verbas. De livros se falou e do "Estado e a cultura". Isabel Pires de Lima confessou que já estava a ler, como eu, "O Livro de Meio", de Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa que, nas suas linhas e entrelinhas lhe deve fazer melhor à cabeça do que o orçamento que tem para um ministério que ela, tão esforçada quanto inutilmente, se propôs defender cheia de mapas. Zita Seabra falou do que sabe e gosta - dos livros - e demonstrou a falácia em que a especialista em Eça anda a incorrer. Urbano Tavares Rodrigues, velhinho e doce, leu um bocado do seu novo romance. Rui Horta pedinchou, como lhe competia, e José Fonseca e Costa, o aristocrata do cinema português, gostava que o dito tivesse tantos espectadores como "Casino Royale", menos burocracia e, naturalmente, mais massa. Na assistência, alguns dependentes e candidatos a dependentes da ministra e da sua pequena e estouvada corte, um inesperado André Dourado (da parte "cultural" do gabinete do dr. Barroso enquanto 1º ministro) que, muito a propos, e com o conhecimento de quem esteve na Fundação das Descobertas, vulgo CCB, explicou a Pires de Lima que a exposição temporária da colecção Berardo tinha sido o maior flop financeiro da gesta Fraústo/actual governadora civil de Lisboa, agora que o governo converteu o espaço em praticamente uma coutada privada do sr. comendador. Saí de lá sem chuva, a saber pela Zita Seabra que o PC tinha retirado "parte" da confiança política a uma sua deputada (já chegámos ao ponto de a "confiança política" se dividir às postas) e confortado na minha certeza da inutilidade do ministério da Cultura. A forma como a ministra fez as suas continhas, constituiu todo um programa. O único, aliás, ou a falta dele. Mais vale dedicar-se ao que sabe e deixar-se de "campanhas alegres". E o Estado também.

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