10.3.05

"O ERRO MUDOU?"

A este poema Fernando Pessoa deu o título de "Natal". Percebi-o melhor quando o vi citado num ensaio de Maria Alzira Seixo, há muitos anos. Podia perfeitamente servir de pórtico ao célebre livrinho de José Gil ou a qualquer meditação séria ou barata acerca de "Portugal, hoje". Não tenho pachorra para comentar o que não há para comentar e, muito menos, para "forjar" comentários. Vão bons os tempos para voltar, por exemplo, à filosofia ou à poesia. Os "blogues" também deviam apreender as virtudes do silêncio e da interrogação, tentando ser menos tagarelas. Já há para aí tanto comentador, ou não há? "O Erro mudou"?

Nasce um Deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a fé vive o sonho do seu culto.
Um deus novo é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

Fernando Pessoa

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