A aparição da D. Fátima Felgueiras num canal televisivo, em directo, tem, ao contrário do que se possa apressadamente concluir, um efeito profiláctico. De facto, para os que ainda pensavam que viviam num país "europeu", "moderno" e "civilizado", a D. Fátima - e mais umas quantas dezenas de "D. Fátimas" que nunca chegaram a sair de cá - faz-nos ciclicamente o favor de lembrar a condição essencialmente tropical da pátria. Nos interstícios da nossa pacóvia modernidade, movem-se estes entes estranhos, muitos dos quais paridos pela própria democracia, e cujo contributo maior consiste precisamente em diminuir - por actos, palavras e omissões - a qualidade dessa mesma democracia que os pariu. Jamais me esquecerei, num outro contexto igualmente "tropical", das sábias palavras de Vale e Azevedo num debate entre candidatos à presidência do Benfica, já lá vão uns anitos. De vez em quando atirava-lhes com um "temos que ser sérios", "temos que ser sérios". Tinha razão. Esta singela expressão contém toda uma "sabedoria". Tropical, é certo, mas uma esclarecedora sabedoria. Por isso, quando a D. Fátima emerge no ecrã da televisão, a escarnecer a justiça portuguesa e a fazer dos seus concidadãos um bando de passivos imbecis, eu não posso deixar de me lembrar daquela velha canção brasileira: meu país, meu país tropical.
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