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Não é por o filme aparentemente tratar de boxe que eu saí do cinema literalmente esmagado pelos inteligentes e sensíveis 74 anos de Clint Eastwood. O boxe é apenas uma metáfora recorrente neste filme fabuloso e perturbante. Eu vi-o como se estivesse a assistir a uma ópera. Aliás, é isso mesmo que o filme é: uma imensa e devastada ópera onde a cada instante, sem que disso nos apercebamos, somos nós os "cantados". Aqueles dois homens, aquela mulher, aquele argumento, aquela ambição traída pela "vida", todo aquele sumptuoso fracasso "bigger than life" a representa tal como ela deve ser vista pelos não-idiotas. Heidegger falava de um "ser-para-morte" e na "clara noite do nada". Million Dollar Baby é a luz desse crepúsculo inevitável num irreversível caminho "para a morte" das pulsões vitais e dos sonhos. É, para lembrar outro imperdível Eastwood, imperdoável perder.
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Morgan Freeman
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